14/11/2018 as 09:27

EDITORIAL: Chega de homofobia

O assassinato brutal da transexual Laysa Fortuna, 25 anos, em Aracaju, reacendeu um debate que não acaba: a violência contra pessoas transgênero.

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O assassinato brutal da transexual Laysa Fortuna, 25 anos, em Aracaju, reacendeu um debate que não acaba: a violência contra pessoas transgênero. Laysa é muito mais que um nome na lista de vítimas, é a prova de que esse tipo de crime não cessa, mesmo com o debate e as campanhas na mídia. Laysa foi esfaqueada por um morador de rua que costumava provocar os transexuais no Centro da cidade.

Segundo a organização não governamental (ONG) austríaca Transgender Europe, de 1º de janeiro a 30 de setembro 271 pessoas transgênero foram assassinadas em 72 países. A maioria das mortes ocorreu em locais públicos ou com grande circulação de pessoas, como ruas (104); rodovias (12); litoral, rios ou sob pontes (13); hotéis, motéis ou drive-in (8); parques, praças públicas ou mercados (4); bares, restaurantes ou danceterias (6); salões de beleza ou barbearias (3) e ferrovias, estações de metrô ou de trem (2).

Do total, 45% (122) das vítimas foram assassinadas a tiros, 17,3% (47) por esfaqueamento e 8,11% (22) por espancamento. 
O Brasil aparece como o país com o maior número de mortes. Até o final de setembro, 125 pessoas trans foram mortas em cidades brasileiras, número 9,61 vezes superior ao da Colômbia (13), segundo colocado no ranking da América do Sul.
Monitorado desde o início dos levantamentos, o cenário brasileiro não tem apresentado melhora. Desde 2011, terceiro ano de análise, o Brasil apresentou um congelamento nos registros de assassinatos, mas que permaneceram superiores a cem. Ao todo, o país já responde por 1.238 dos 2.982 casos contabilizados pela organização desde 2008, o equivalente a 46,1% dos assassinatos analisados nos 72 países. 


Apesar de alguns países apresentarem taxas ou mesmo nulas, a ONG pondera que coleta de dados pode não estar sendo feita de forma sistemática, o que pressupõe subnotificação de assassinatos motivados por transfobia por não serem associados à discriminação e ao preconceito com a identidade de gênero da vítima ou não estarem sendo relatados às autoridades de segurança e citados em levantamentos oficiais. Na avaliação da instituição, a falta de constância e de metodologia tornam “impossível” a estimativa do real número de casos.


As pessoas transgênero são vítimas de uma aterradora violência provocada por ódio, que inclui, além do assassinato em si, extorsões e agressões físicas e psicológicas. Segundo a ONG, as violações contra as pessoas trans “frequentemente se sobrepõem a outros eixos de opressão predominantes na sociedade”, como racismo, machismo, xenofobia, preconceito e discriminação contra profissionais do sexo.

Laysa Fortuna é mais uma vítima desse preconceito.