21/01/2019 as 07:29

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A pose da posse



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No dia primeiro de Janeiro de 2019 aconteceu em Brasília/DF um evento histórico: a posse de Jair Messias Bolsonaro para Presidente da República do Brasil, eleito em 28/10/2018. O evento, por si só, já chamaria a atenção por se tratar de um Chefe de Estado/Governo, cargo mais alto do Poder Executivo Nacional, porém, esse fato viria a ser ainda mais relevante, em razão da acirrada e polarizada eleição do ano anterior, inclusive, com atentado contra a vida do então candidato.


Eu, assim como milhões de outros cidadãos, brasileiros ou estrangeiros, assisti ao acontecimento normalmente. Entretanto, enquanto comunicador, fui um pouco mais além e fiz questão de acompanhar a transmissão, intercalando, entre dois canais de TV fechados brasileiros, além de três da TV aberta (as maiores da atualidade). Destas, assisti aos primeiros telejornais após a posse, e, por fim, verifiquei a maneira que alguns sites da imprensa interna ou externa abordaram o assunto.


A intenção de todo esse meu apanhado jornalístico sobre o tema foi verificar a forma como a mesma mensagem estava sendo transmitida entre os meios midiáticos. Desse modo, pude perceber a tendência que cada emissora segue e a linguagem que os seus comentaristas e repórteres fizeram uso e, ademais, o poder de manipular pessoas que, muitas vezes, por buscarem uma única fonte de informação, restam por seguir pensamentos sem se aperceberem que eles não são propriamente seus.


Assim, por uma questão didática e também para não ser muito extenso nesse texto, vou me ater somente a alguns momentos, alguns flashes que ocorreram durante a posse presidencial na visão das três maiores emissoras brasileiras de TV aberta: uma que globaliza uma ideia contrária ao novo presidente; outra, por sua vez, que somente recorda passagens que o favorece; e outra ainda que, aparentemente, não tem bandeira, pelo menos no tocante a essa transmissão específica. Afinal, como é sabido em nosso país, a mídia pode mudar a sua linha de abordagem facilmente conforme seus interesses.


Dessa forma, tem-se o desfile em carro aberto... A emissora desfavorável enalteceu que o presidente “contrariando a recomendação da Equipe de Segurança” preferiu andar em carro aberto, passando uma ideia de sê-lo irresponsável; a emissora favorável destacou a primeira vez que outra pessoa, no caso o filho do presidente, sentou no banco de trás, ou seja, valorizou a família; a imparcial apenas disse que o presidente, junto com esposa e filho, preferiu o carro aberto ao fechado!


Outro momento interessante foi o discurso da primeira-dama... A primeira emissora pouco falou do discurso dela em si, porém investigou toda a sua vida pregressa, insinuando sê-la autoritária e oportunista; a segunda emissora frisou o fato de o presidente ter cedido à primeira-dama a possibilidade de fazer o discurso antes do dele, além do beijo do casal a pedido do público; a terceira destacou a questão da inclusão social do discurso em Libras e da emoção da intérprete.


Sobre o número de vinte e dois ministros da nova equipe de governo... Uma emissora informou de maneira pejorativa que a quantidade atual de ministros foi acima dos quinze anunciados durante a campanha; a outra emissora destacou que o número de ministérios foi reduzido de 39 para 22; por fim, a última emissora, simplesmente comentou dos novos ministros e das pastas que foram excluídas.


Um último ponto citado entre todas as emissoras foi a simplicidade do novo presidente... A Rede “do contra” fez uma longa reportagem sobre o excesso de luxo do Palácio da Alvorada, local em que os presidentes da República moram em Brasília, uma mensagem subliminar de ostentação do novo presidente e não de simplicidade; a Rede “pró” valorizou itens simples usados durante a posse como o relógio do presidente e os vestidos da primeira-dama feitos por uma estilista amiga e não famosa; e, finalmente, a Rede “neutra” falou da caneta Bic usada nas assinaturas dos Termos Oficiais.


Pois bem, esses foram alguns fatos ocorridos durante a posse presidencial e a maneira como os mesmos foram mencionados, verdadeiros retratos da nossa história, que ficarão marcados, independentemente da forma como se noticiou. E você, caro leitor, como recebeu e percebeu os fatos acima narrados? De que ângulo você viu? Qual foi o “retrato” da posse que mais lhe chamou a atenção? Para você, qual foi a pose da posse? Esse pensamento é seu mesmo ou você já o aceitou pronto? Reflita por um instante...


Pelo que percebi, o clima de rivalidade advindo da eleição do ano passado continua. Muitos seguem sem aceitar o resultado democrático das urnas e colocam defeito em tudo o que o novo governo está fazendo ou se propõe a fazer. É triste o pensamento daqueles que querem que o avião tenha uma pane só porque não gostam do piloto, parecendo esquecer que estão dentro do mesmo voo. Fazer oposição é muito válido, inclusive, salutar a qualquer governo. Entretanto, criticar só por criticar, não trará de volta candidatos derrotados, tampouco ajudará o país a melhorar.


Por falar em um país melhor, engana-se quem acha que o novo governo sozinho fará isso. De nada adiantará um novo governo com boas ideias se o povo continuar com más práticas. E isso não tem nada a ver com partidos ou ideologias, mas sim com educação, cultura, consciência. Eu mesmo não comprei camisa com o rosto do presidente estampado, não o chamei de mito como alguns fazem. Também não transmito calúnias em seu desfavor. Porém, admito que tenho me mantido esperançoso por um país digno de se viver! A sujeira da corrupção está espalhada em todas as áreas e esferas do Brasil, mas torço que não esteja tão impregnada a ponto de atrapalhar a nova “equipe de limpeza” de fazer o seu serviço direito.


Finalmente, retornando à posse em si, uns a consideraram um verdadeiro teatro e insistem que nada mudará. Pois bem, imerso a tantos protocolos da cerimônia, percebi um clima de mudança e, por isso, se a posse foi um teatro, gostei da peça que assisti.

Danilo Buarque Couto/Publicitário e Servidor Público