22/01/2019 as 07:36

Artigos

Arma: risco ou segurança?



COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

Sem sombra de dúvidas vivemos um país muito contraditório. O índice de violência no Brasil é um dos mais altos do mundo. O feminicídio cresce a cada dia, aumentando consideravelmente o número de homens que matam por amor!


Digo isso pois a maioria dos casos são justificados porque a companheira não o quer mais. Muitas vezes, o homem atira na mulher e depois se mata, é como se dissesse: não vai ser minha, nem será de ninguém e sem ela minha vida não faz sentido!...


Enquanto isso, o presidente eleito cumpre promessa de campanha, liberando a posse de arma para as “pessoas de bem”.


A manchete do Jornal da Cidade (16/01/2019) diz: “Decreto de Jair Bolsonaro garante 4 armas para quem tem mais de 25 anos. Este decreto entra em vigor após sua publicação no diário oficial da união. O direito de andar com a arma na rua ou no carro não está incluso no texto, e o cidadão, para ter a posse de arma, deve atender a uma série de requisitos, mas não será necessário uma justificativa para a sua posse.


Ora, um crime passional é cometido, às vezes, por homens que atendem aos requisitos exigidos pelo decreto. As manchetes que mais chamam atenção são as de feminicídio, praticados por homens de classe média alta, acima de qualquer suspeita. Na hora de uma discussão, principalmente se o motivo for ciúme, o que vai ser levado em conta é a possibilidade de matar sua companheira, usando uma arma que está ao seu alcance.


Sabemos que há muitas outras maneiras de se tirar uma vida, mas quem possui posse de arma vai optar em puxar um gatilho.


Algumas vezes, a posse de arma contribui para o cidadão perder a sua própria vida. Se não a usa com frequência e a tem só para se proteger, levará desvantagem de quem tem experiência e faz uso constante de uma arma.


Às vezes, o ladrão entra numa residência para cometer um roupo e por encontrar um cidadão armado o roubo se transforma num latrocínio. Lembro-me de um fato acontecido há anos em nossa capital: Um proprietário de um posto de gasolina, na hora do assalto, quis reagir tirando uma arma da gaveta da escrivaninha, onde estava sentado. Ele foi morto por um dos bandidos que entrou pela janela, posicionada nas suas costas, o qual presenciou o momento em que ele ia tirando a arma da gaveta.


A pergunta é - será que esse comerciante reagiria ao assalto se não tivesse uma arma no seu poder?


Para nós que acreditamos que violência não se combate com violência, o Estatuto do Desarmamento, que dificulta a compra de arma, foi uma vitória para a sociedade, que defende que é dever do Estado proteger a população. A paz social que almejamos, não será construída por uma população armada, fazendo justiça com as suas próprias mãos.


Lembremos as palavras do grande escritor Guimarães Rosa “A lógica é a força com a qual homem algum haverá de se matar apenas superando a lógica, é que se pode pensar com justiça. Pense nisso: o amor é sempre ilógico, mas cada crime é cometido segundo as leis da lógica.”


Como gostaríamos que estivéssemos começando uma nova era com:
- Investimento em educação para todos que precisassem cursar uma escola pública de qualidade nos três graus de ensino;
- Políticas públicas direcionadas para a infância e a juventude de nosso país, dando-lhes perspectiva de um futuro promissor e possível;
- Investimento nos serviços públicos fundamentais, garantindo à população seus direitos constitucionais, principalmente na saúde e segurança pública;
- Incentivo fiscal, visando ao aumento de vagas no mercado de trabalho nos diversos setores privados;
- Humanização no sistema prisional brasileiro, visando à ressocialização dos detentos através do estudo e do trabalho.
Vivemos no país dos contraditórios. O aumento do salário mínimo do trabalhador, em nível nacional, é de quarenta reais, mas, em nosso Estado, lemos a manchete “SINDIJUS denuncia salários superiores de 100 mil reais no TJ” (JC,15/1/19).


Outro contraditório é a admissibilidade da proposta de emenda à Constituição – PEC 300 /2016 que amplia a jornada de trabalho de oito para dez horas. A pergunta que não quer calar: quantas horas mesmo nossos representantes trabalham por dia? por mês? por ano?!!!


Promover a paz social não é fácil, mas é a maneira mais eficaz! Todos os dias testemunhamos através dos noticiários o campo de guerra que se instalou no país a exemplo do Ceará e do Rio de Janeiro. Para corrigir tantas distorções deve-se levar em consideração – “A justiça social é dar mais a quem menos tem, e dar menos a quem mais tem”.

ROSA CRISTINA L. ettinger/educadora