22/03/2019 as 07:38

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EDITORIAL: Armas servem para defesa ou para matar?

Em 2017, 94,9% das armas apreendidas não foram cadastradas no sistema da Polícia Federal e 13.782 armas legais foram perdidas, extraviadas ou roubadas

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O debate em torno da facilitação do porte de arma não chega ao fim e não há consenso sobre o assunto. Mas está claro que, diante dos ataques que ocorrem em escolas e outros locais de grandes aglomerações de pessoas, como mesquitas, cinemas, shoppings, torna-se urgente refletir. Armas foram feitas para defesa pessoal ou para matar?


O ataque em uma escola de Suzano, no interior de São Paulo, mostra que armas em mãos de pessoas inexperientes e mal-intencionadas podem resultar em tragédia. Armas foram criadas para matar; podem sim servir para a defesa, mas tiram vidas inocentes quando estão sob controle de psicopatas.


A Nova Zelândia, após o duplo ataque a mesquitas, anunciou que armas semiautomáticas e automáticas de estilo militar não serão mais vendidas no país. O ataque provocou 50 mortos e muitos feridos. A lei deve entrar em vigor em 11 de abril. O governo estuda propostas para incentivar donos de armas desse tipo a entregá-las às autoridades.


E no Brasil, o que o governo pensa? No final do ano passado, o então presidente eleito Jair Bolsonaro declarou que liberaria, por decreto, a posse de arma com regras mais simples para cidadãos sem antecedentes criminais. E a população, o que acha?


Segundo pesquisa do Datafolha, 55% dos entrevistados se mostravam contrários. Hoje, são 61% das 2.077 pessoas entrevistadas em 130 municípios em todas as regiões do país. Já 37% são favoráveis para “que o cidadão possa se defender”. A pesquisa foi feita em outubro, época das eleições.


Facilitar o acesso às armas pode ser um erro grave. Dar uma arma a um cidadão é uma forma de o poder público entregar a ele à própria sorte, em vez de garantir segurança pública, como é obrigação do estado. Liberar o porte de arma é uma aposta na violência, uma vez que existem evidências bastantes claras dentro do debate sobre segurança pública que, quanto mais armas, mais crimes.


Em 2017, 94,9% das armas apreendidas não foram cadastradas no sistema da Polícia Federal e 13.782 armas legais foram perdidas, extraviadas ou roubadas, o que equivale a 11,5% das armas apreendidas pelas polícias no mesmo ano.


O poder da arma não está na arma, mas naquilo que se pode fazer com ela.