17/09/2019 as 10:39

ARTIGOS

¿Qué pasa, chico?

Por Matheus Batalha Moreira Nery/Doutor em Psicologia pela UFBA e Professor da UNINASSAU.

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

O plano era simples. Um fim de semana romântico em que eu e minha esposa comemoraríamos o meu aniversário, tomaríamos um café, comeríamos um bom churrasco, assistiríamos a uma ópera e a um show de tango, e vagaríamos, sem compromisso, pelas ruas de Buenos Aires. No primeiro dia, a realidade foi um pouco distante da fantasia. 

Eram meia noite e trinta minutos quando finalizei a coluna da semana anterior e a enviei para o meu editor no Jornal da Cidade. De imediato, separei alguns exemplares do meu livro, pois aproveitaria a conexão em Guarulhos para enviá-los a alguns amigos no exterior. Escrevi dedicatórias e os guardei em minha mochila. Arrumei também uma pequena mala de mão e, as duas horas da manhã, tomei um banho gelado, seguido de um café quente, que me manteve acordado até a decolagem do avião, pouco depois das quatro horas da madrugada. Chegamos em Guarulhos sem problemas. Nem senti a viagem e somente acordei quando a aeromoça pediu que ajustássemos a poltrona para a posição vertical e nos preparássemos para o pouso. Assim que o avião estacionou, liguei meu smartphone e fiz uma busca na internet por uma boa opção de hotel em Buenos Aires. Às vezes, deixo para fazer a reserva de última hora porque muitos dos sites de hospedagem oferecem os últimos quartos disponíveis em bons hotéis a um preço promocional. Acertei em cheio. Reservei um bom hotel com um preço bem razoável. Desembarcamos e seguimos para o correio. Quando chegamos, o encontramos fechado. Ainda eram sete horas da manhã e nosso voo apenas decolaria às 11:50hs. Minha esposa propôs um novo café, dessa vez mais reforçado, acompanhando por algumas guloseimas, ricas em energia, para nos mantermos acordado até a hora do novo embarque. Alimentados, retornamos aos correios e assistimos a atendente, pacientemente, colar 27 selos em cada um dos envelopes que seguiria para o exterior. De lá, passamos pela imigração e seguimos para o portão de embarque, onde as coisas começaram a tomar um rumo diferente do planejado. 

O voo parecia estar tranquilo. Poucos passageiros aguardavam na sala de embarque. Perto das 11hs surgiu a informação nos painéis de que o nosso voo havia sido cancelado. Como não havia nenhum funcionário presente, retornamos à imigração e perguntamos aos oficiais como deveríamos proceder. Lá, fomos orientados a desembarcar e a procurar a loja da companhia aérea no check-in. Desembarcar pela área de embarque internacional em Guarulhos não é um procedimento fácil. Os oficiais da imigração sugeriram que pegássemos um corredor que daria acesso a área de desembarque e imigração dos passageiros que chegavam ao país. Acompanhados por um grupo de passageiros, entramos em um corredor vazio que nos levou até o terminal 3 do aeroporto, uma caminhada de pouco mais de dez minutos de onde estávamos no terminal 2. Ao chegarmos lá, descobrimos que não poderíamos desembarcar ali e que teríamos que retornar e buscar a saída correta pelo mesmo terminal que viemos. Voltamos e, com a ajuda bondosa de um funcionário do aeroporto, que encontramos pelo caminho, chegamos a área certa para imigração e desembarque. No check-in, descobrimos que os outros voos já estavam lotados. Depois de muita conversa, conseguimos ser acomodados em um voo de uma outra companhia aérea que sairia no início daquela noite. Nossos planos para aquela tarde em Buenos Aires haviam sido cancelados. Aceitamos a oferta, almoçamos por conta da companhia, fizemos um longo passeio "romântico" pelo aeroporto, embalados por múltiplos cafés, e, por graça, fizemos algumas fotografias do meu livro nas livrarias do aeroporto ao estilo de Amélie Poulain. No fim da tarde, quando retornamos ao check-in, descobrimos um novo problema. Apenas a passagem a minha esposa havia sido transferida. A minha reserva havia sido cancelada e colocada na lista de espera de um voo da companhia que originalmente viajaríamos e que já estava em “embarque imediato”. 

Minha esposa se recusou a embarcar sem mim. Diante do impasse, e do pouco tempo, uma solução nos foi proposta. Seguiríamos para o embarque com um bilhete provisório para tentarmos embarcar após que todos os passageiros embarcassem. “Todo dia, sempre alguém se perde neste aeroporto” nos disse a atendente. Passamos a imigração novamente e, ao chegarmos ao portão designado, nos deparamos com uma enorme fila. Nos identificamos a um funcionário que já nos aguardava e, um a um,  assistimos a todos os passageiros embarcarem. Quando o último caminhou em direção ao finger, o atendente nos informou que faria uma nova contagem. Enquanto ele verificava, minha esposa, concentrada, rezava para aliviar a tensão. Cantarolou baixinho uma reza que minha sogra havia lhe ensinado. Segundos depois, fomos informados que embarcaríamos. Quatro passageiros não haviam chagado ao salão de embarque. Diante de tamanha confusão e de todo o retrabalho daquele dia, cheguei a cogitar que este número seria maior. É impressionante como no Brasil o retrabalho ainda atinge níveis intensos em diversos setores e organizações. Eu adoro trabalhar. Mas, não sou muito fã de fazer retrabalho. Com o tempo, aprendi a lidar com potenciais obstáculos com leveza e a não deixar que a intensidade de algo imprevisível limite por completo meus objetivos.  

No ar, enquanto sobrevoávamos o extremo sul brasileiro, uma tempestade de relâmpagos iluminava o céu. “É preciso ter sangue nos olhos para viajar com você”, falou-me minha esposa enquanto se aconchegava no meu ombro. Pousamos debaixo de forte chuva. Na imigração, quando nos solicitaram o cartão de embarque, lembramos que apenas possuíamos o provisório, que não trazia todas as informações necessárias. A oficial nos questionou o que havia acontecido. Limitei a minha resposta a um sorriso. A história era longa!   

 

¿Qué pasa, chico?

The plan was simple. A romantic weekend where my wife and I would celebrate my birthday, have a coffee, eat a good barbecue, watch an opera and a tango show, and wander, without a schedule, through the streets of Buenos Aires. On the first day, the reality was a little distant from fantasy.

It was midnight and thirty minutes when I finished last week's column and sent it to my editor in the Jornal da Cidade. Immediately after, I separated some copies of my book, because I would take advantage of the layover in Guarulhos to send them to some friends abroad. I wrote short notes in the books’ cover and place them in my backpack. I also packed a small carry on, and at two in the morning I took a cold shower, followed by a hot coffee, which kept me awake until the plane took off shortly after four o'clock in the morning. We arrived in Guarulhos without problems. I didn't even feel the trip and only woke up when the flight attendant asked us to adjust the seat to an upright position and prepare for landing. As soon as the plane parked, I turned on my smartphone and searched the web for a good hotel option in Buenos Aires. Sometimes I make last-minute reservations because many of the hosting sites offer the latest rooms available at good hotels at a discounted price. I was right. I booked a good hotel and paid a very reasonable price. We landed and went straight to the post office. When we arrived we found it closed. It was still seven o'clock in the morning and our flight would only take off at 11:50 am. My wife proposed a new coffee, this time more reinforced, accompanied by some energy-rich treats to keep us awake until the boarding time. Fed up, we returned to the post office and watched the clerk patiently paste 27 stamps into each of the envelopes that would go abroad. From there we passed immigration and headed for the departure gate, where things began to take a different turn than planned.

It seemed to be an easy flight. Few passengers were waiting in the departure lounge. Around 11 am, information came on the panels that our flight had been canceled. Since there were no staffs present, we returned to immigration and asked the officers how we should proceed. There, we were directed to disembark and to look for the airline's shop at check-in. Disembarking from the international departure area in Guarulhos is not an easy procedure. Immigration officials suggested that we take a corridor that would give access to the arrival and departure area of passengers arriving in the country. Accompanied by a group of passengers, we entered an empty corridor that led us to Airport Terminal 3, a walk of just over ten minutes from where we were at Terminal 2. We found that we could not disembark there and that we would have we have to go back and get the correct output from the same terminal we came from. We returned and, with the kind help of an airport employee we met on the way, arrived at the right area for immigration and disembarkation. Upon check-in, we found that the other flights were already full. After a long talk, we were accommodated on a flight from another airline that was leaving early that evening. Our plans for that afternoon in Buenos Aires had been canceled. We accepted the offer, ate lunch at the expenses of the flight company, took a long "romantic" tour of the airport, energized by multiple cafes, and, for fun, made some photographs of my book at airport bookstores in an Amélie Poulain-style. Late in the afternoon, when we returned to check-in, we discovered a new problem. Only my wife ticket had been transferred. My reservation had been canceled and put on the waiting list for a flight from the airline we were originally traveling on and which was already in “immediate boarding”.

My wife refused to board without me. Faced with the impasse, and without time, a solution was proposed to us. We would proceed to board with an interim ticket to try to board after all passengers boarded. “Every day someone always gets lost at this airport,” the attendant told us. We passed immigration again, and when we reached the designated gate, we came across a huge line. We identified ourselves to an employee who was already waiting for us, and one by one we watched all the passengers board. When the last passenger walked toward the finger, the attendant informed us that he would make a new count. As he checked, my wife prayed to ease the tension. She quietly hummed a prayer that my mother-in-law had taught her. Seconds later, we were informed that we would board. Four passengers had not arrived at the departure gate. Faced with such confusion and all the rework of that day, I even thought that this number would be higher. It is amazing how in Brazil the rework still reaches intense levels in various sectors and organizations. I love to work. But, I'm not a fan of rework. Over time, I learned to deal with potential obstacles with lightly and not to let the intensity of something unpredictable completely limit my goals.

In the air, as we flew over the far south of Brazil, a lightning storm illuminated the sky. “You need to have a bloodshot in your eyes to travel with you,” my wife told me as she snuggled into my shoulder. We landed in heavy rain. In immigration, when we were asked for the boarding pass, we remember that we only had the temporary, which did not bring all the necessary information. The officer asked us what had happened. I limited my response to a smile. The story was long!