17/11/2025 as 08:37
OPINIÃOFrederico Alves de Almeida Aragão, psicólogo (CRP 19/2849), formação em teologia, mestre em filosofia, professor de psicologia no ensino superior, atua como psicólogo clínico e já atuou no CRAS, CREAS, CASA LAR e SISTEMA PRISIONAL.
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Aos 42 anos já me deparei com inúmeras mudanças na sociedade, algumas com impactos sutis e outras nem tanto. Sou da época da TV de tubo (preto e branco), telefone fixo, vitrola, telecurso 2000 e almanaques que ajudavam a passar no vestibular. Pertenço a uma geração intitulada Millennial ou Y. Isso significa que faço parte de um grupo de pessoas que, dentre outras coisas, viveu a transição de um mundo pré e pós advento da internet. Para os mais desavisados, esse fato não é apenas a menção de criação de algo que impactou a humanidade, mas a mudança de paradigmas em relação a inúmeros fenômenos sociais como: amizades, relacionamentos íntimos, política, filosofia, economia e... Psicologia.
A psicologia surge num contexto de inúmeras necessidades pessoais e sociais, na relação entre a pedagogia e o direito e, depois, como a necessidade gritante de autoconhecimento. Aquilo que conhecemos como psicologia clínica, psicoterapia ou terapia psicológica... é uma das 13 especialidades da psicologia reconhecidas pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) atualmente. Historicamente falando, temos uma forte cultura da clínica psicológica com um tradicional formato de ambiente físico associado à seguinte configuração: uma sala com cadeiras, mesa, poltronas, um psicólogo e seu(s) paciente(s).
Pensar nesse espaço físico e na imagem de um psicólogo sentado em frente ao seu paciente onde a psicoterapia acontece, fundamentalmente, na conversa entre esses dois personagens é trazer décadas de história da psicoterapia em seu formato mais tradicional. Esse modelo pressupõe algumas questões necessárias para adentrarmos no foco desse texto. A conversa citada entre psicólogo e paciente, aos olhos menos atentos, poderia não ter tanta ou nenhuma diferença assim caso acontecesse por telefone, não é mesmo? Essa pergunta pode fazer com que você se pergunte: “mas, afinal, faz alguma diferença mesmo? ”. É aqui que nos deparamos com algo que foi e ainda émmuito discutido por profissionais de psicologia nos últimos anos: A terapia online é uma opção válida?
Quando uma pessoa busca um profissional de psicologia para fazer a psicoterapia anseia por inúmeras questões: acolhimento, compreensão, cura, resolução, autoconhecimento, técnica e melhoria de vida. O terapeuta é a pessoa treinada para que esses anseios encontrem seu lugar e seu direcionamento dentro do processo. O aspecto humano do processo é incansavelmente discutido desde o princípio das teorias que fundamentam a psicologia até os dias de hoje. Alguns aspectos importantes nessa discussão são: a possibilidade de execução do trabalho técnico por parte do psicólogo, as reais chances de se fazer uma boa interpretação dos conteúdos da psicoterapia, o uso de práticas da psicologia que requerem dinâmicas presenciais e algo fundamental para ambas as partes, O OLHAR.
Muito se fala sobre a busca ou a necessidade do paciente encontrar um olhar acolhedor e estruturante por parte do terapeuta e, esse mesmo terapeuta, usa da proximidade da terapia presencial para analisar, entre outras coisas, a comunicação não verbal. Esse olhar muitas vezes é o que foi negligenciado na história dos pacientes. É a junção do olhar com uma postura técnica e humana por parte do psicólogo que faz com que seu paciente se sinta respeitado e compreendido. O ambiente terapêutico significa para muitas pessoas o único local onde qualquer coisa pode ser dita sem julgamentos e o terapeuta pode representar a única pessoa que parece estar interessada o suficiente em acolher e ajudar com seu conhecimento sem que seu paciente se sinta receoso quanto à repercussão de sua fala.
Por outro lado, vivemos um momento da humanidade que marcou significativamente a todos nós: a pandemia (COVID 19). O isolamento social fez com que buscássemos estratégias para quase tudo: trabalhar, cuidar da saúde, ir ao supermercado, comprar remédios na farmácia, estudar e FAZER TERAPIA. A própria pandemia desencadeou uma necessidade de busca por psicoterapia pelos efeitos psicológicos devastadores em muitos de nós. Mas como fazer psicoterapia em tempos de isolamento social?
A psicoterapia online já era uma realidade antes mesmo da pandemia, esse que aqui escreve, por exemplo, foi o primeiro psicólogo a ter um site registrado pelo Sistema Conselhos de Psicologia no estado de Sergipe para a realização da psicoterapia online. O fato é que a busca por esse serviço era praticamente inexistente nessa época. A pandemia trouxe uma necessidade (a busca por psicoterapia online) que depois foi normalizada. Seja por ligação telefônica ou vídeo chamada realizada pelos inúmeros aplicativos disponíveis, fazer terapia se tornou cada vez mais fácil e acessível. Em um mundo cada vez mais competitivo e com menos tempo disponível para cuidar da saúde, o acesso à psicoterapia online é uma realidade que veio para ficar. Seja para pessoas que moram na mesma cidade, seja para brasileiros que moram no exterior e buscam um psicólogo brasileiro, o fato é que, mesmo com a necessidade de alguns ajustes, ficou mais fácil buscar por um profissional para cuidar de sua saúde mental na hora do almoço, por exemplo. O contato humano presencial é insubstituível, mas foi adaptado. E, como adaptação, funciona bem.
Até consultas médicas e entrevistas de emprego tornaram-se online também, alguns cursos de graduação, bancas de mestrado ou doutorado e tantas outras possibilidades entraram no universo digital. Se há ética e consciência, a tecnologia vem para ajudar e agregar. Para pessoas que preferem o contato pessoal, que haja contato pessoal. No final das contas, a psicoterapia é uma realidade que funciona muito bem para quem experimentou e aprovou. Os consultórios de psicologia ainda são maioria, talvez ainda sejam por muito tempo, quem sabe, para sempre! Com desafios e possibilidades aqui expostas, cabe a você encontrar seu lugar (físico ou online) e seu profissional. Em ambos os casos, você precisa se sentir respeitado e sentir que o processo está surtindo efeito. Mais importante que o local onde a psicoterapia ocorre, é quem direciona esse processo. Enquanto as possibilidades nos servem, que façamos uso dela!