30/04/2019 as 09:37
Em Aracaju“Mochileiros” querem juntar dinheiro para poder seguir viagem
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Não é difícil encontrar estrangeiros malabaristas pelos cruzamentos em Aracaju. Basta o sinal ficar vermelho para eles entrarem em cena. A maioria é chilena, colombiana, venezuelana e argentina e está preferencialmente nas avenidas Beira Mar com Tancredo Neves e Hermes Fontes com Deputado Silvio Teixeira, distribuindo arte para angariar fundos e poder seguir viagem.
O argentino Gabriel Mailhos é um artista viajante. Ele, a esposa e os dois cachorros estão circulando a América do Sul sob duas rodas. A porta de entrada no Brasil foi Brasília, de onde pegaram as bicicletas e iniciaram a aventura. Estão há oito meses na capital sergipana. O jovem faz malabares com enormes facas nas sinaleiras e chama atenção dos condutores. Segundo ele, hoje vive com a companheira numa quitinete localizada no Bairro Coroa do Meio e estão trabalhando para conseguir dinheiro para consertar as bicicletas, cuidar de um cachorro que adoeceu e, assim, poder partir para o próximo destino.
O casal está há dois anos fora da Argentina, já passaram pelo Chile e Bolívia, trabalhando com exposição de artesanato e apresentações artísticas de malabarismo e acrobacias. “Durante as viagens de bicicleta por aí nós não precisamos de muito dinheiro porque tudo chega. Conversando com as pessoas, elas sempre oferecem comida, dinheiro e assim a gente segue. Quando paramos em alguma cidade é que começamos a trabalhar para poder nos sustentarmos”, conta Gabriel.
Segundo o estrangeiro, a sua situação é legal e até CPF ele conseguiu emitir. Gabriel e a esposa se dividem nos cruzamentos da cidade para expor arte, diariamente. No entanto, segundo ele, não conta com nenhum auxílio da Prefeitura Municipal de Aracaju. O que chama atenção no artista é a quantidade de facões que ele usa no malabarismo.
O venezuelano Tony Aranguren também está viajando mundo à fora com a companheira. Eles já passaram pela Colômbia, Equador, Peru e agora pretendem ir a Portugal. Tony chegou em Aracaju nesta segunda-feira, 29, e já tratou de buscar uma sinaleira para fazer malabarismo com dardos. Além disso, ele e a esposa também trabalham como estátuas vivas, mímicos e palhaços. Antes de chegar à capital sergipana estavam em Caruaru, cidade do Estado pernambucano, fazendo trabalho social em escolas sobre bullying.
“Estamos percorrendo todo o litoral do Brasil. Vocês já sabem como está a situação na Venezuela, com muitos problemas políticos, econômicos e sociais e por isso nós decidimos viajar. Já viajávamos, mas agora a crise em si fez a gente vir para fora para poder ajudar nossa família e poder viver. Também somos artistas e decidimos viver essa vida”, conta Tony.
O trabalho dele e da companheira é divulgado no Instagram Circo Rueda PLR. Segundo ele, não é fácil conseguir dinheiro assim.
“Tem cidades que são boas, outras não. Mas o povo do Brasil tem consciência, ele olha todos os pontos de vista e olha quem está trabalhando e merece. Mas também é uma questão cultural, porque tem gente que não gosta e não colabora. Tem pessoas que são fechadas para algumas coisas e abertas para outras. É um entendimento social. Nós trabalhamos para a sociedade”, explica o artista.
Nos próximos dias, Tony estará pela Orla de Atalaia expondo a sua estátua viva, quando ele se transforma num bruxo que levita. A previsão de permanência em Aracaju é de cerca de 15 dias até conseguirem dinheiro suficiente para comprar passagem de viagem para São Paulo. Na capital paulista, os dois pretendem trabalhar mais para conseguir dinheiro suficiente para viajarem para Portugal.
Outros dois colombianos estavam ontem, 29, no sinal do cruzamento entre as avenidas Beira Mar e Tancredo Neves, no Bairro Atalaia, no entanto, a recepção não foi muito boa, e eles não quiseram conversar com a equipe do JORNAL DA CIDADE, alegando precisar trabalhar.
De acordo com a Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA), toda a rede de serviços do município está à disposição para receber o público estrangeiro. No caso de pessoas estrangeiras que estão em situação de rua, o que não é o caso dos artistas que conversaram com o JC, existem nove equipes da Abordagem Social que fazem rondas pelos quatro cantos da cidade com o intuito de identificar a origem dessas pessoas, quais os motivos que levaram à condição de rua e quais as suas demandas, para assim fazer os encaminhamentos necessários.
“Além de orientações diversas, os profissionais são responsáveis por viabilizar o direcionamento de todos os estrangeiros em situação de rua para as diversas políticas públicas, a exemplo de acolhimento institucional, usufruto das atividades ofertadas pelo Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop), orientações a respeito da regulamentação dos documentos necessários e de acesso aos demais serviços da Rede Socioassistencial e de Proteção. O serviço da Abordagem Social funciona de segunda a sexta feira, das 7h30 às 22h, e aos sábados das 7h30 às 17h. É importante reforçar que em caso de dúvidas ou ajuda todo cidadão nesta condição pode procurar qualquer Cras ou Creas, para que os profissionais da Assistência Social possam fazer os encaminhamentos devidos para cada situação”, explica a PMA.
Por Laís de Melo/Equipe JC