27/06/2019 as 18:52
ARTESANALLaticínio em Itaporanga D’Ajuda busca qualidade nos produtos com preocupação ambiental
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Por Dilson Ramos
Da Equipe JC
A fazenda do pecuarista Miguel Britto, em Itaporanga D’Ajuda, abriga hoje uma das melhores fábricas de queijo artesanal do país. E o reconhecimento veio em pouco tempo. O laticínio Alvorada, que já conta no curriculum com cinco prêmios nacionais, foi criado em 2017. Na propriedade, enquanto alimentas galinhas nos fundos da sede da fazenda, o empresário revela que não esperava tão cedo ser reconhecido. “Foram cinco prêmios em dois anos, um reconhecimento aos cuidados que temos aqui no laticínio. O Prêmio Queijo Brasil possui jurados especializados, técnicos e consumidores. São três rodadas de avaliação. É um torneio reconhecido, respeitado, os queijos são enviados com códigos. O resultado nos surpreendeu”, explica Miguel.
O Prêmio Queijo Brasil é considerado uma das maiores premiação de queijos artesanais do país. A primeira edição foi realizada em 2014, com 136 queijos inscritos. Na terceira edição, em 2017, que contou com a participação da queijaria sergipana, foram 363 queijos inscritos de todo país. O selo tem ajudado o laticínio de Itaporanga a apostar mais alto e expandir o mix de produtos.
A decisão de se inscrever do prêmio, segundo o empresário, começou com o intuito de apenas participar. O resultado consagrou os esforços de Miguel Britto em investir em qualidade e pesquisa. “Tive conhecimento da existência do Prêmio Queijo Brasil e decidimos então participar com três produtos. Enviamos o Matriarca, de trinta e sessenta dias de maturação, o Chanddar e o frescal. E fomos premiados”, conta.
O Matriarca, um queijo curado, semelhante ao queijo parmesão e o serra da Canastra, levou dois prêmios. O de trinta dias conquistou a Medalha de Prata, e o de sessenta dias, a Medalha de Bronze. O Madrugada, um coalho maturado, com película escura, levou o bronze. “Esse ano mandamos dois queijos, o queijo reino, que obteve a medalha bronze, e o minas frescal, um queijo mais cru, ganhou o selo ouro”.
O Matriarca, completa o empresário, é um queijo curado, nas versões de trinta e sessenta dias. “É mais forte, excelente para tempero também”, sugere. O selo ouro gerou ao queijo minas frescal, do Alvorada, o título de melhor do Brasil. A conquista foi veiculada em reportagens de diversos órgãos de imprensa que cobriram o evento.
Rigor sanitário
Surfando na onda do ecologicamente correto o Laticínio Alvorada busca o reconhecimento como produtor de queijos orgânicos. Os cuidados com a higiene e o respeito pelo meio ambiente têm levado Miguel Britto a investir em equipamentos e ações de sustentabilidade. O cuidado começa ainda no pasto. As vacas que fornecem leite para a fábrica pastam numa área que recebe adubo orgânico, um chorume originado do esterco dos animais. O resíduo, um adubo líquido, é pulverizado no pasto por uma máquina. “A intenção é não pulverizar adubo químico no campo”, explica.
O laticínio é inspecionado pela Adema e tem o selo SIE, de inspeção estadual. Quando tirou o projeto da queijaria da gaveta o empresário foi atrás de licenças e inspeções fiscais e ambientais que garantissem a instalação da fábrica na zona rural. Miguel Britto adotou medidas para garantir que a produção de queijo atendesse rigorosos padrões de qualidade, de higiene e sobretudo de respeito ao meio ambiente. Os queijos têm em sua produção controles sanitário e de qualidade.
O ambiente onde as vacas são mantidas sem confinamento atende a padrões sanitários. Os animais não são submetidos a estresse. O armazenamento dos produtos atende exigências dos órgãos fiscalizadores. “Tenho formação agrícola. Estudei na Escola Agrícola e atuei por vários anos no antigo laticínio CSL. Eu era responsável pelo famoso doce de leite”.
Técnico em agropecuária, Miguel, que carrega no sangue o sobrenome do jurista Carlos Britto, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e de Cesar Britto, ex-presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), participou de cursos de laticínios em Sergipe e em Minas Gerais. “Fiz alguns cursos fora de Sergipe. Tenho especialização em inspeção em leite e derivados. Tudo que é feito aqui tem um custo maior, mas tem o objetivo de colocar um produto de qualidade, livre de impurezas, na mesa dos sergipanos”, argumenta.
Tecnologia
Quando as vacas entram pra ser ordenhadas no curral o úbere recebe tratamento à base de iodo. Todas as tetas são desinfetadas. “Usamos um papel toalha para cada peito, isso elimina o risco de contaminação. Antes de colocar as teteiras o leite é examinado, para ver se há alterações, problemas com a vaca. O leite não tem contato com a mão do ordenhador, sai direto pro tanque e é imediatamente resfriado”.
Miguel afirma que busca um produto orgânico, pois segundo ele a sociedade cada vez mais exige produtos saudáveis, sem uso de agrotóxicos. O empresário lembra que os sergipanos adoram queijo, mas consomem produtos de má qualidade. “Em quase toda esquina se vê uma banca vendendo queijo e a maioria é de origem duvidosa, vem de laticínio de fundo de quintal, sem inspeção”, alerta.
De acordo com o empresário, o paladar do sergipano é para queijo com furos, que geralmente são causados por coliformes fecais. “O queijo passa várias horas sem refrigeração, fica na rua até dois dias, expostos. Nosso coalho é saudável e gostoso. Temos o puro e com vários complementos, como goiabada, azeitona, salame, carne do sol, pêssego, doce de leite e orégano”, cita.
Mix de produtos
O Alvorada produz o Matriarca, um queijo mais apurado, pra ser acompanhado com vinho, e temperar comida. O Madrugada é um coalho maturado. Há ainda o Chanddar, tipo reino, o meia cura, um coalho curado, o minas padrão, o minas frescal, ricota, meia cura, provolone e muçarela. “Aqui se faz o muçarela de trancinha, bolinha, e a muçarela comum, fazemos coalhada, bebidas lácteas e doce de leite, que é o resgate histórico do famoso doce da leite da CSL, onde trabalhei. Estamos ampliando a produção e temos um espaço pronto para produzir linguiça, presunto, salame, paio e kit feijoada com carnes defumadas”, detalha Miguel. O laticínio, que emprega quinze pessoas, atende Aracaju. “Entregamos em dez hotéis, delicatessens, vários locais”, finaliza.
Na capital o queijo do Laticínio Alvorada é vendido numa loja no bairro Grageru. A decisão de abrir uma segunda loja, na fazenda, atende aos clientes que têm procurado a fazenda para comprar queijo, como o suplente de vereador Geraldo Fotógrafo. “Venho visitar o amigo e comprar do queijo, que se tornou uma marca conhecida”, comenta.