24/01/2020 as 15:51

AVANÇO

Sergipana cria máquina de detecção de câncer de pele

Infelizmente, ainda não há data prevista para o uso dessa tecnologia artificial pelos profissionais de saúde

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A sergipana de Aracaju e professora-doutora do Instituto de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sandra Eliza Fontes de Ávila, é uma das pesquisadoras que criaram uma máquina para detectar um tumor maligno na pele humana que nem médicos especialistas conseguem detectar.

Em conversa com o JORNAL DA CIDADE, a pesquisadora contou que para fazer a detecção do câncer de pele pelo computador são necessárias duas etapas. “Na primeira, treinamos a máquina para aprender a diferenciar o que é uma imagem de lesão de pele maligna de uma imagem benigna. Nesse processo de treinamento, a máquina precisa “ver” muitos exemplos para aprender a diferenciá-los. Quanto mais, melhor. São imagens de lesões de pele que foram capturadas com um dermatóscopio (aparelho usado por dermatologistas)”, explica.

Ainda segundo Ávila, o mais interessante é que os cientistas não dizem para a máquina o que ela deve aprender, ela mesmo aprende quais são os padrões das imagens que são importantes para detectar o câncer de pele. Para que o aprendizado seja possível e confiável, esses exemplos de imagens precisam ser de imagens que foram corretamente diagnosticadas, de imagens que passaram por uma biópsia.

“Na segunda etapa, uma vez que a máquina está treinada, ela só precisa da imagem de uma lesão de pele para gerar a probabilidade da lesão ser maligna ou benigna. O aperfeiçoamento pode demorar muito tempo; nosso grupo de pesquisa tem estudado o problema há cinco anos! Mas, dado que a máquina já está treinada, o tempo de resposta é de microssegundos”, revela.

Questionada se o programa de detecção de tumores é 100% confiável, Sandra pontuou que ele não deve ser usado considerando essa segurança. “Deve ser usado para auxiliar o dermatologista, ou o médico generalista. A decisão final deverá ser sempre do especialista. No momento, a nossa taxa de acerto é de 86%. É uma taxa alta, mas estamos investigando como podemos melhorar essa taxa ainda mais”, coloca.

 

Há quanto tempo o projeto está sendo desenvolvido?

“O projeto começou em 2014, quando o nosso grupo de pesquisa iniciou os estudos para detectar automaticamente, por meio de imagens de lesões de pele, o melanoma. O nosso grupo de pesquisa é formado por dois professores da Computação (eu, Sandra Ávila, do Instituto da Computação, e Eduardo Valle, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, ambos da Unicamp) e pesquisadores da Medicina, alunos de doutorado, mestrado e iniciação científica”, informou.

Infelizmente, ainda não há data prevista para o uso dessa tecnologia artificial pelos profissionais de saúde. Ávila esclarece que os pesquisadores estão buscando colaboradores em hospitais para realizar testes mais realistas, de acordo com a população.

“O nosso banco de imagens, que contém 23.906 imagens, pode não ser tão representativo da nossa população. Essas imagens são públicas e foram coletadas através da Colaboração Internacional de Imagens de Lesões de Pele (ISIC, International Skin Imaging Collaboration). Portanto, é importante fazer essa avaliação do programa em hospitais no Brasil. Além disso, quanto mais imagens, melhor pode ser a taxa de acerto. Então, coletar mais imagens é também fundamental”, diz.

Por fim, Ávila destaca que a técnica utilizada nesta pesquisa é baseada em inteligência artificial (IA), em redes neurais artificiais profundas. “As técnicas de IA estão gerando excelentes resultados para diversos campos, conseguimos ver claramente a melhoria das ferramentas que usamos no dia-a-dia (ferramentas de busca na Internet, por exemplo). Podemos não saber como essas ferramentas foram melhoradas, mas sabemos que técnicas de IA estão sendo responsáveis por isso”, finalizou a pesquisadora sergipana.

 

|Matéria: Grecy Andrade/Equipe JC
||Foto: Arquivo pessoal