04/06/2020 as 08:30

MICROEMPRESAS

89% das baixas empresariais na pandemia são de microempresas

Situação tem se agravado principalmente devido a não concessão de crédito por parte das instituições bancárias

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Se no final do mês de maio quase 70% dos empreendedores sergipanos apontaram para a necessidade de crédito para manter os seus negócios em funcionamento e sem gerar demissões, segundo dados levantados pelo Sebrae Sergipe, imagine com a negativa das instituições bancárias em conceder esse socorro imediato.

Ainda segundo os dados do Sebrae, 90% dos pequenos empresários que buscaram ajuda junto aos bancos tiveram os seus pedidos negados. Talvez esse fator tenha sido crucial para que 89% das baixas empresariais durante o período da pandemia sejam de pequenos e micro negócios.

Para se ter ideia da situação, de 17 de março a 31 de maio deste ano 397 empresas encerraram suas atividades de forma oficial na Junta Comercial do Estado de Sergipe (Jucese). Destas, 324 são classificadas na modalidade de Microempresa (ME) e 28 em Empresa de Pequeno Porte (EPP).

Para o presidente da Jucese, Marco Antônio Freitas, os números refletem um pedido de socorro urgente por parte das microempresas, principalmente no que diz respeito às concessões de crédito.

“Vínhamos numa constante de abertura de novos negócios antes do período da pandemia, isso é fato e os números estão aí para comprovar. Mas, com a chegada do vírus, os empresários tiveram que modificar a forma de administrar seus negócios e, para isso, o auxílio das instituições bancárias é fundamental para atravessar esse momento, principalmente para os pequenos empresários, que representam 80% da economia sergipana. Quem garante que entre esses fechamentos não existam empreendedores que tentaram esse socorro em diversos bancos e não conseguiram?”, questiona o presidente da Jucese.

Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (Acese), Marco Pinheiro, é preciso lembrar que mesmo antes do período de pandemia diversas empresas já se encontravam em dificuldade.

“As instituições financeiras, o Banco Central e o Governo Federal precisam mudar esse item. A concessão de crédito é fundamental neste momento em que estamos com essa paralização enorme. Porém, é importante lembrar que, assim como antes da crise, havia 14 milhões de desempregados, havia centenas de milhares de empresas em situação difícil, que vinham se recuperando. Muitos empreendedores estão com o CNPJ complicado ou seus sócios estão com o CPF comprometido para não prejudicar o seu negócio. Na micro e pequena empresa é muito difícil separar CNPJ de CPF. É um caixa único, praticamente. Não tem a estrutura que tem as grandes corporações”, explica Marco.

Ele também alerta para a necessidade urgente e imediata de socorro a esses microempresários. “A posição dos bancos ainda é muito conservadora. Apesar da MP 972, ainda é preciso que haja agilidade, pois de fato o crédito ainda não está chegando para o micro e pequeno empresário. Os bancos querem emprestar o dinheiro, mas não querem correr o risco da inadimplência. Acredito que grande parte ou a totalidade do risco deve ser assumido pelo Governo Federal, na sua proporção, minimizando os riscos. Mas também não é justo que os bancos não tenham risco nenhum, já que os bancos são as empresas com maior índice de lucratividade, com a melhor performance de lucro. É o momento dos bancos estatais e privados assumirem um pouco esse risco. Lembrando que é uma excepcionalidade”, acrescenta o presidente da Acese.

Quem também expõe o seu ponto de vista sobre essa situação é o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Aracaju (CDL Aracaju), Brenno Barreto. Para ele, o diálogo entre o empresário e as instituições bancárias é fundamental.

“O que percebemos é que, limitado às condições que as instituições financeiras têm como padrão, como regra, até porque elas possuem um órgão regulamentador que é o Banco Central, existem algumas limitações para a concessão de novos créditos. Então, é muito mais fácil para aquelas empresas que já possuem um relacionamento com uma instituição financeira para renovar ou pegar novos empréstimos. Percebemos que existe a dificuldade para a tomada de um novo crédito. É perceptível essa dificuldade. É nessa linha que a gente pede a sensibilidade e algumas sugestões por parte dos empresários para com as instituições financeiras para a criação de uma condição diferente para a aquisição de novos empréstimos diante da pandemia que o Brasil e o mundo se encontram”, pontua Brenno.

Já o superintendente do Sebrae Sergipe, Paulo do Eirado, são diversos os motivos para a não concessão do crédito, porém essa forma de avaliação deve ser mais empática por parte dos bancos.

“O fato é que esse sistema bancário dá as costas à pequena empresa, na prática. Basta saber que 90% do pequeno empresário que buscou auxílio junto aos bancos, para capital de giro, cobrir despesas de folha de pagamento, teve o seu crédito negado pelas mais diversas razões. Seja porque tem o nome negativado por conta de algum débito, seja pela falta de garantias, pois o banco entende que o risco é muito alto e não quer fazer a operação, até mesmo a falta de acesso ao banco”, afirma Eirado.

Em contrapartida, segundo ele, o Sebrae disponibilizou um fundo de aval para garantir que os bancos aprovem esses empréstimos. Mas, ainda assim, poucos empresários têm o seu crédito aprovado.

“O Sebrae é uma entidade que tem um compromisso muito grande com as pequenas e microempresas, a ponto de pegarmos 50% de toda a arrecadação do Brasil inteiro e destinar esse recurso a ser garantia de aval de empréstimo para microempresas. Na verdade, é um fundo nacional, o Famp, que é para dar garantias e minimizar o risco de inadimplência das pequenas empresas. O banco precisa flexibilizar e rever também que nós estamos vivendo um momento de exceção. Se por um lado o Sebrae chega a cortar na própria carne, buscando recursos da despesa corrente para criar esse fundo, e depois os bancos não têm a desenvoltura para fazer com que a pequena empresa tenha acesso a esses recursos, aí fica bastante difícil”, pontua o superintendente do Sebrae.

Por último, a sua crítica também vai para bancos públicos que, segundo ele, podem ser ainda piores quando o assunto é a aprovação de crédito, mesmo diante de anúncio por parte do governador do Estado de facilitação de linhas de crédito emergenciais do Banese, na ordem de R$ 500 milhões para os empresários sergipanos.

“Além de que, na prática, a gente só vê o banco emprestando dinheiro para quem não precisa de dinheiro. Até os bancos públicos que deveriam ser entes reguladores do sistema bancário para poder trazer mais competitividade, mais acesso, mais civilidade até nas taxas, de repente eles são operadores que fazem o mesmo jogo dos bancos privados, às vezes até pior. A maior parte dos empréstimos foi concedida pelos bancos privados. Fica aí um vácuo, uma falta de diálogo entre a própria instituição bancária e o povo. A gente lamenta”, finaliza Paulo do Eirado.