20/01/2021 as 12:35
SAÚDEA doença tem característica infectocontagiosa de evolução crônica
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Desde o ano passado os pacientes diagnosticados com hanseníase em Aracaju estão sem receber o tratamento para a doença por falta de medicamento. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a pandemia provocada pelo coronavírus afetou a produção do remédio, que é doado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ao Ministério da Saúde (MS) e distribuído para todo o país.
Apesar de ter cura, a hanseníase é uma das enfermidades que mais representam problemas à saúde pública no Brasil. A doença tem característica infectocontagiosa de evolução crônica, se manifesta através de lesões na pele e alguns sintomas neurológicos que, se não tratados, são irreversíveis, levando a deformidades e incapacidade física. “Desde o ano passado estão em falta medicações para a doença por conta da pandemia. Para o adulto multibacelar, que é o paciente que tem muitos bacilos, é necessário o tratamento poliquimioterápico (PQT), mas infelizmente estamos tendo que priorizar os casos mais graves devido à falta de um medicamento.
O mês de janeiro é considerado o Janeiro Roxo, mês de conscientização contra a doença, mas por conta da pandemia não podemos fazer as atividades que anualmente eram realizadas”, informou Léa Matos da Silveira, da Coordenação do Programação de Controle da Tuberculose e Hanseníase da SMS. Foram diagnosticados em 2019 com a doença 85 aracajuanos. Em 2020, foram 73 novos casos. Segundo Matos, os que foram diagnosticados antes da pandemia conseguiram iniciar e terminar o tratamento, que pode ser de seis ou 12 meses, a depender da quantidade de bacilos, mas os demais começaram e não conseguiram concluir ainda. “A falta da medicação ocorreu em julho em setembro reabasteceu e agora faltou de novo e estamos priorizando os casos mais graves para poder tratar. Ainda não há previsão de chegada do remédio, pois ele é produzido pela OMS, repassada ao MS que envia aos estados e os estados aos municípios, por isso não há o que fazer, só esperar o envio do medicamento pela OMS”, revelou.
A coordenadora explica ainda que a doença é classificada em duas: hanseníase paucibacilar, com poucos ou nenhum bacilo nos exames, ou multibacilar, com muitos bacilos. A forma multibacilar não tratada possui potencial de transmissão. A hanseníase pode se apresentar com manchas mais claras, vermelhas ou mais escuras, que são pouco visíveis e com limites imprecisos, com alteração da sensibilidade no local associado à perda de pelos e ausência de transpiração. Quando o nervo de uma área é afetado, surgem dormência, perda de tônus muscular e retrações dos dedos, com desenvolvimento de incapacidades físicas. “O tratamento é gratuito e fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Varia de seis meses nas formas paucibacilares a um ano nos multibacilares, podendo ser prorrogado ou feita a substituição da medicação em casos especiais.
O tratamento é eficaz e cura. Após a primeira dose da medicação não há mais risco de transmissão durante o tratamento e o paciente pode conviver em meio à sociedade”, disse. Em Aracaju, todas as 45 unidades básicas de saúde (UBSs) estão aptas a receber pacientes com a doença. E, além das UBSs, há ainda o centro de referência que é o Cemar do Siqueira Campos. “Esse acompanhamento no centro de referência é para os casos cujo paciente já tem alguma comorbidade, como uma doença hepática, por exemplo, e vai ter que ter um acompanhamento mais próximo, pois o tratamento é longo e para não correr o risco de alguma complicação hepática”, pontuou Léa, acrescentando ainda que o centro de referência atende também pessoas do interior. Vale reforçar que a transmissão da doença se dá por meio de convivência muito próxima e prolongada com o doente da forma transmissora, que não se encontra em tratamento, por contato com gotículas de saliva ou secreções do nariz.
Tocar a pele do paciente não transmite a hanseníase. “Infelizmente, ainda existe a questão do preconceito e discriminação com essas pessoas, muitos não comentam com ninguém nem iniciam o tratamento por conta do estigma e isso prejudica a adesão ao tratamento, ainda mais porque esse tratamento pode durar até um ano. Por isso, trabalhamos com equipe de busca ativa para que os pacientes iniciem e terminem o tratamento, principalmente entre os usuários de álcool e drogas, para que a gente consiga encerrar a cadeia de transmissão”, frisou Léa Matos da Silveira, da Coordenação do Programação de Controle da Tuberculose e Hanseníase da SMS.
|Por Grecy Andrade
||Foto: Divulgação