13/11/2019 as 10:37

Música

Algo Novo’ com mais melanina

Alex Sant’Anna lança, ao vivo e a cores, o single no palco do Festival de Artes de São Cristóvão

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É na desconstrução à primeira vista; no reconhecimento dos tambores com o artista em pessoa e no retorno às origens, que muita gente se lançou a passos dançantes (ou pezinhos inquietos!) com o single ‘Algo Novo’, de Alex Sant’Anna, lançado no último dia 11 e que tem primeira apresentação ao vivo e a cores no palco Palco Frei Santa Cecília, num fim de tarde de domingo, 17, na histórica cidade de São Cristóvão, onde acontece o 36º Festival de Artes. A música de sonoridade africana, com batidas eletrônicas, tem a participação especial de Marco Vilane e faz parte do novo álbum de Alex, ‘Baião Amargo’, previsto para ser lançado no próximo ano.


Num doce reencontro com a própria negritude e acumulando as referências musicais de sempre, Alex ressalta as características inovadoras de um trabalho com ritmos desbravados na essência e em letra. “Apesar do nome do álbum ser ‘Baião Amargo’, eu escolhi como primeiro single uma música que não tivesse elementos de baião, porque quis mostrar logo de cara que este não será um disco especificamente de forró. Esse novo trabalho foi um longo processo. Eu pensei nele e fui escrevendo as faixas, pesquisando, desejando ter presente e evidenciada a percussão, elementos da música negra do Caribe para baixo. Foi um momento de reencontro comigo mesmo, em que deixei meu cabelo crescer, em me ver como negro de verdade, e também foi no momento que comecei a ter vitiligo e ficar branco. Mudanças. ‘Baião Amargo’ não será um disco de forró, mas tem ele, claro”, destacou.


Se a vontade percussiva nesse ‘algo’ se materializou com a presença efetiva de Betinho Caixa D’Água na banda - que também tem Abraão Gonzaga, Danyel Nanume, Leo Airplane e Rafael Ramos -, num afago às parcerias de sempre, a participação do amigo irmão Marco Vilane é o ‘novo’ grito da ansiedade moderna compartilhado. “O single não tem forró e pode representar bem o disco. Nesta faixa, a união da percussão e efeitos eletrônicos geram novas sonoridades. O percussionista Betinho Caixa D’água toca um instrumento chamado ‘onça’ que, com os efeitos inseridos pelo tecladista e sintetizador Leo Airplane, acabou virando uma ‘onça afrofuturista’ [risos]. Além disso, gosto muito da música pela ideia que ela traz. A felicidade atual está muito ligada ao ‘ter’ alguma coisa. O tempo inteiro somos bombardeados por propagandas, para querermos sempre algo. O single ‘Algo Novo’ nasceu dessa reflexão. No disco, terão várias participações especiais e, em ‘Algo Novo’, tenho a participação do cantor Marco Vilane, meu parceiro de longa data. Ele morou uns seis anos aqui em Aracaju e, desde então, fizemos muitas parcerias. Em todos os discos dele têm músicas minhas. Só faltava ter uma participação dele no meu disco, esta é a primeira vez”, disse.


E, num rufar dos tambores na emissão de mensagens, o artista remonta ao passado histórico dos afrodescendentes, numa compreensão escancarada de uma pesquisa que instiga a reflexão, diverte e embala corpos. “Nas minhas leituras, vi umas coisas interessantes. Na época da escravidão, nos Estados unidos, os tambores foram proibidos, porque os brancos entenderam que o instrumento era uma forma dos negros se comunicarem. E, realmente, os tambores eram uma forma de comunicação. Achei essa história incrível e quis trazer isso para o disco. Me conhecendo, me entendendo e identificando essas raízes que, por muitas vezes, foram negadas. Essa é a forma que quis me comunicar através da minha música”, falou Alex Sant’Anna.

Aos poucos
Numa estratégia de consumo musical comum em tempos de ‘playlist’, Alex Sant’Anna fala sobre o lançamento de mais singles até a chegada de ‘Baião Amargo’ por inteiro. “Ainda estamos definindo o lançamento do disco e, até a lá, a ideia é que seja lançado mais um single, mas isso vai depender da definição de datas. É algo real hoje com as plataformas de streaming, ‘playlists’ e coletâneas, o fato da pessoa não ouvir o disco inteiro. Ninguém mais faz isso. E vivenciei essa experiência com o EP ‘Insônia’, em que a música ficou mais conhecida após o lançamento posterior de um videoclipe. Então, há essa ideia hoje de lançar aos poucos, nas redes e como vídeo, pois as pessoas gostam de ver, assistir e acompanhar”, explicou.
O single ‘Algo Novo’ tem videoclipe disponível no YouTube, feito pela Rolimã Filmes com direção de Baruch Blumberg e Jéssica Maria Araújo, edição de Lu Silva e finalização de Renan Henriques. O clipe retrata o processo de gravação da música com os integrantes da banda.

Sobre Alex
Alex Sant’Anna começou a tocar profissionalmente em 1996 e, em 2003, lançou seu primeiro disco com a ‘NaurÊa’, banda que ajudou a fundar. Já teve músicas incluídas em coletâneas como World Music: South America Brazil (2013), Music From Sergipe (Disco de Barro, 2012), What’s Happening in Pernambuco (New Sounds of the Brazilian Northeast) (Luaka Bop, 2007), Music From Northeast Brazil (2005). Dividiu o palco com artistas como Tom Zé, Manu Chao, Shantel, Isaar, Genival Lacerda, Lenine, Zeca Baleiro, Pedro Luis e a Parede, Naná Vasconcelos, Bumcello (França), Debayres (Argentina), Dj Dolores e outros.
Longe do microfone e holofotes, fundou o selo Disco de Barro por onde lançou as coletâneas Sergipe’s Finest e Serigy All-Stars com a finalidade divulgar a música produzida em Sergipe em feiras e festivais, como a Feira Música Brasil (Recife), Porto Musical (Recife), Feira da Música de Fortaleza (Ceará), FMI (Brasília), Conexão Vivo (Belo Horizonte), Popkomm (Berlin), Juicy Beats (Dortmund), Casa Brasil (Londres), Blue Balls (Suíça).


No Teatro, Alex fez a trilha dos espetáculos ‘Respire ... e conta até 10’ (2002), Palavras Mágicas (2008), Projeto Cenas de Bolso: Duas Histórias de amor (2009), Acorda (2009), ‘Felicidade conjugal ou quase isso” (2010), Pela Janela (2011), O Natimorto (2013), ‘Saluba Medeia’ (2013) e Vulcão (2015), todos do grupo Caixa Cênica. No cinema compôs a trilha para o curta ‘A morrer’ (2005), de Gabriela Caldas e ‘Para Leopoldina’, de Diane Veloso e Moema Pascoine (2014), além de canções para os curtas ‘Clandestino’, de Baruch Blumberg (2017) e ‘Ave Seca’, de Carol Mendonça (2018).