07/04/2020 as 17:30

Meios virtuais

Telas, notas e musicalidade

Mestres e aprendizes de instrumentos se rendem aos meios virtuais para manter a educação musical em dia

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Telas, notas e musicalidade

Gilmara Costa - Da Equipe JC 

Não há mal que não traga um bem, não há dificuldade que não desperte para facilidades, não há uma porta fechada que não faça entrar o conhecimento por duas janelas abertas. Reinventar tem sido um verbo conjugado no presente de cada dia, por vez, nesse período de isolamento social e se adaptação da rotina aos quantos cantos da casa é ordem, os gloriosos e responsáveis professores e aprendizes de instrumentos musicais cumprem à risca. E num desafio prazeroso, as aulas por chamadas de vídeo por aplicativos e/ou software têm mantido mestres e aprendizes embalados pela musicalidade, em proximidades sonoras no passar das horas e avanços do conhecimento. 

Autointitulando-se “atrasado” na velocidade da tecnologia, o baterista Rafael Jr., da banda Snooze, aproveitou a oportunidade que chegou para uma aula através das telas e garante ter sido uma experiência adoravél. "Eu não costumava dar aulas online ou usar ferramentas como o Skype. Sempre trabalhei com aulas presenciais. Porém, um de meus alunos sugeriu manter virtualmente e adorei a experiência. Facilitou porque essa aluna é filha de músico e tem uma estrutura em casa, um estúdio com equipamentos. Dois celulares com ela e dois celulares comigo e deu tudo certo. Com bateria não é tão simples. A maioria não tem instrumento em casa e utilizamos um estúdio alugado para as aulas presenciais", declarou Rafael Jr.

Para o instrumentista Saulo Ferreira, os pensamentos circulantes na mente se concretizaram como alternativa para manter as atividades e superar a nossa realidade. Na verdade já pensava nessa possibilidade há algum tempo. Pessoas de outras cidades já haviam me perguntado sobre, mas sempre optei pelo encontro presencial. No entanto, percebi que realizá-lo por videoconferência seria uma boa alternativa. Lembrando que se trata de uma aula, e como tal requer o planejamento e o cuidado de sempre. Propus essa possibilidade aos alunos e eles aprovaram de imediato. Não se trata apenas de manter as atividades, é preciso lembrar que a arte nos auxilia a enfrentar tempos difíceis", disse Saulo.

Porém, ele reforça o aprendizado que nenhuma plataforma virtual consegue (ainda? será?) alcançar o significado da aula presencial. "Confesso: sinto falta do abraço! Acredito que ele ensina tanto ou mais que qualquer conteúdo musical, como é o tema das aulas que ministro. Sempre comento com os alunos que, mesmo em tempos difíceis, não devemos esquecer do que os motivam. Estamos falando de educação através da arte e muitos pontos importantes podem e devem ser abordados nesse contexto", ressaltou o músico instrumentista. 

No replanejamento de aulas tanto nas escolas em que leciona quanto para as aulas particulares, o baixista Paulo Antônio fala sobre as adaptações. "Tem sido desafiador porque, no meu caso, eu dou aula nas escolas e uma delas aderiu às férias, e outra não. Então, temos enviado material pelo Youtube e a própria escola está criando uma plataforma para que a gente possa ter um feedback dos alunos. Já nas aulas particulares depende muito do aluno. Tem aluno que não usa o Skype e então fazemos por ligação de vídeo via WhatsApp. A gente sente um pouco da falta do olhar de perto, de pegar na mão do aluno para mostrar o que poderia ser executado de uma forma melhor, às vezes tem problema na ligação", declarou Paulo Antônio. 

 

Possibilidades
E ampliando as possibilidades com vistas após a travessia desses tempos de isolamento social, eles são unânimes ao enxergar as aulas online como mais uma forma de difundir o conhecimento. "Toda mudança num percurso leva-nos a refletir sobre novas possibilidades. O mundo digital é uma realidade e isso independe do momento em que estamos enfrentando. Em se tratando de educação, em suas mais amplas faces, toda expansão é válida", afirmou Saulo Ferreira. 

Para Rafael Jr., é uma realidade a ser colocada em prática em Sergipe, uma vez já ser comum em outros lugares. "Tem muita gente que já dava aula por Skype antes, inclusive bateristas renomados do eixo Rio-São Paulo. É muito legal e gratificante, realmente funciona. No segundo celular eu acompanho as partituras das lições, que ela me envia as imagens. Abre uma possibilidade sim, é uma ferramenta interessante pra utilizar no futuro", afirmou. 

"A gente acaba criando novas formas didáticas, vencendo limites. Eu já fazia com alguns alunos que moravam em outros países e estados, mas era bem menor do que com a quantidade de alunos que temos trabalho hoje em dia. E as pessoas têm procurado muito em relação a aulas justamente pelo período de isolamento, por não terem muito o que fazer, mas acho que é algo que pode se manter, mas ainda não tira a coisa da presença, da aula presencial. A gente consegue adpatar, mas a aula presencial é outro nível de experiência. Porém, eu acho que é válido depois de todo esse período isolamento pensar em mais essa forma de ensaiar", destacou Paulo Antônio.