11/05/2020 as 12:20

MÚSICA

Pedro Luan: ‘Sempre é tempo de evidenciar afeto, respeito e reciprocidade’

Pedro Luan acaba de expandir as letras secretas com a chegada de mais uma canção

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HABITANTE DE UM TERRENO FÉRTIL PARA MUSICALIDADE, O JOVEM PEDRO LUAN CULTIVA AS PRÓPRIAS COMPOSIÇÕES E NOTAS, NO RESPEITO AO TEMPO DE CADA UMA DELAS, REVELANDO-SE ATENTO ÀS DESCOBERTAS DELE MESMO ENQUANTO ARTISTA E COMPARTILHANDO COM O PÚBLICO.

APÓS O LANÇAMENTO DO PRIMEIRO DISCO AUTORAL NO ANO PASSADO, “O QUE HÁ DE SEGREDO”, ELE ACABA DE EXPANDIR AS LETRAS SECRETAS COM A CHEGADA DA CANÇÃO “TANTO ESPAÇO”, FEITA EM PARCERIA COM O PIANISTA JOÃO VENTURA. UMA LINDEZA DE CANÇÃO PARA OUVIR, SENTIR E GOSTAR NESSE OUTRO TEMPO DE EVIDÊNCIAS E AFETOS QUE O MUNDO VIVENCIA. FOI SOBRE A NOVA MÚSICA, PARCERIAS E MUITO MAIS QUE ELE CONVERSOU COM O JORNAL DA CIDADE. BOA LEITURA!

JORNAL DA CIDADE - Há “Tanto Espaço” entre os segredos revelados num primeiro disco autoral e agora essa canção de afeto lançada nesse momento de ressignificação das relações?
PEDRO LUAN - Há mais proximidade do que se possa imaginar. “Tanto Espaço”, assim como as outras composições, é mais um dos segredos que guardo por um tempo e depois acabo – já sem forças – revelando (risos)! Certa vez, um amigo comentou que percebia em grande parte das minhas canções relações de conflito. Isso repercutiu muito em mim. Fui sedento analisar as letras e constatei que ele tinha toda razão. E, pelo visto, temos mais uma prova desse diagnóstico: em Tanto Espaço exponho uma série de conflitos contemporâneos. A nossa delicada relação com o tempo, as diversas formas de solidão a que estamos submetidos e a conexões que temos com os outros. Identifiquei uma série de espaços, distâncias e abismos que criamos uns para com os outros. Mas a canção é otimista. Proponho que mesmo em meio a toda essa loucura é possível encontrarse no outro. E o abraço é uma bela expressão desses encontros entre almas.

JC - O sucesso do disco anterior te estimulou a revisitar composições antigas (já que Tanto Espaço foi escrita há quatro anos!) e compartilhar com o público?
PL - Na verdade, Tanto Espaço foi gravada no ano passado junto às canções de “O Que Há de Segredo”. Ela estava no repertório do álbum e entraria com todas as outras. Mas antes de finalizar o processo senti que deveria guardar essa faixa para um momento futuro. Trabalhar com ela de maneira que tivesse um protagonismo maior, talvez. Até pelo fato de ser uma música registrada com uma participação especial. Então, decidi lançar entre março e abril desse ano sem imaginar, obviamente, o que nos aguardava. Mas, pra (sic!) não fugir do tema, devo admitir que tenho guardadas inúmeras c o m p o s i ç õ e s a n t i g a s . Conservo todas com muito zelo. A qualquer momento posso sentir que é a vez de alguma sair por aí.

JC - Como surgiu essa parceria com o João Ventura?
PL - A ideia de gravar com João se deu a partir de uma sugestão carinhosa e atenta de Irineu Fontes. É comum que todos nós recebamos sugestões vindas de diversos lados. Algumas acolhemos e outras deixamos passar. Nesse caso, em específico, eu abracei sem hesitar. Me pareceu, logo de cara, uma excelente ideia e que, sim, deveria acontecer. Através de intermediação do próprio Irineu, eu e João nos encontramos em uma das suas visitas a Aracaju e começamos a tramar essa parceria.

JC - Foi apenas uma primeira mostra desse encontro de talentos?
PL - Com toda certeza. Sempre é muito especial q u a n d o n o s f a l a m o s ou nos encontramos. Há uma reciprocidade muito forte. Nossas histórias com a música se assemelham. Tanto eu como ele temos raízes musicais muito fortes em nossas famílias. Além do mais, eu sou um fã assumido de João Ventura. A musicalidade e a autenticidade que ele carrega explicam o porquê de ser um dos maiores talentos contemporâneos da música brasileira. Fica impossível não querer produzir com ele por mais e mais vezes.

JC - Como tem sido a receptividade do público ao lançamento de uma nova música durante esse período tão atípico?
PL - Confesso que me surpreendi com a resposta tão imediata e volumosa das pessoas desde o lançamento dessa canção. Creio que há um desejo em nós compositores de que cada canção chegue às pessoas e faça sentido de algum modo. Que emocione, incomode, suscite bons sentimentos e também levante reflexões. Quando isso acontece, é bastante singular. Tanto Espaço chegou no momento mais pertinente pra (sic!) ela. O público tem percebido isso e abraçado a canção de um jeito lindo.

JC - A música é o “start” para um novo disco que está em desenvolvimento?
PL - Acredito que a todo tempo um novo disco está se desenvolvendo dentro de mim. Afinal, busco compor com constância e, aos meus olhos, o terreno vai sendo preparado daí. É claro que a produção de um álbum requer uma mobilização considerável. Sobretudo para nós artistas independentes (condição majoritária no Brasil). Hoje, com a ascensão do universo digital, temos a possibilidade de promover financiamentos coletivos. O público se aproxima do artista, toma o projeto como seu e ativamente o viabiliza. “O Que Há de Segredo”, por exemplo, foi feito assim. Inclusive, eu ainda o estou saboreando e por isso não produzirei álbum esse ano. Ainda está bastante recente.

JC - Há outras parcerias no caminho?
PL - Afirmar que não vou gravar álbum novo não implica dizer que será um ano sem novidades. Será um ano com novas canções lançadas e todas elas, sem exceção, trarão parcerias. Sempre é tempo de evidenciar afeto, respeito e reciprocidade. Espero que a gente perceba isso cada vez mais. E as parcerias musicais refletem isso muito bem. Comecei com João Ventura e ainda há outros nomes importantes por vir.

JC - E como tem sido a sua rotina de artista com o distanciamento dos palcos físicos?
PL - Seria leviano se eu não admitisse que vivemos um período bastante exigente. Dá medo, insegurança e muita saudade. Nada substitui o palco físico. E não creio que seja um mero fetichismo da minha parte. Mas, por enquanto, tenho buscado alternativas, como vários artistas, para estar próximo ao público. Aproveito a ocasião para exaltar os artistas. É extraordinário vêlos dispondo do seu tempo e do seu trabalho, quase sempre gratuitamente, a fim de ofertar arte e amor para tanta gente. Espero, de todo coração, que a sociedade reflita com carinho sobre o seu relacionamento com os obstinados e incansáveis fazedores de arte espalhados pelo Brasil.