03/05/2024 as 09:46

ENTREVISTA

JC Social entrevista: Kitty Lima

Nascida e criada em Aracaju, essa mulher multifacetada é bacharel em direito pela Universidade Tiradentes (Unit) e radialista formada pelo Senac.

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Kitty Lima é muito mais do que uma ativista pelos direitos dos animais. Com uma trajetória de mais de duas décadas dedicadas à proteção animal em Sergipe, ela é uma guardiã dos bichinhos de quatro patas. Nascida e criada em Aracaju, essa mulher multifacetada é bacharel em direito pela Universidade Tiradentes (Unit) e radialista formada pelo Senac. Como se não bastasse sua impressionante carreira na defesa dos animais, Kitty também mergulhou na política, servindo como vereadora de Aracaju entre 2017 e 2018. Nesse período, suas conquistas foram ainda mais impressionantes, com a aprovação de leis pioneiras como o "Abril Laranja", uma medida vital na prevenção aos maus-tratos aos animais, e o "Dezembro Verde", que visa combater o abandono desses seres indefesos. Além de destinar verbas para o controle populacional de cães e gatos e efetivação de outras políticas públicas na área. Atualmente, Kitty Lima ocupa o cargo de superintendente de Proteção Animal do Estado, dentro da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudanças Climáticas (Semac). Seu comprometimento e paixão por essa causa continuam sendo as forças motrizes por trás de suas ações.

JC SOCIAL - Como foi sua jornada desde os primeiros passos na proteção animal até alcançar o cargo de superintendente do Estado?
KITTY LIMA
 - Comecei com 6 anos de idade, 7, mais ou menos, porque com a cabecinha de criança eu chorava na mesa e dizia que não queria comer animais. Então eu virei vegetariana naquela vontade de proteger eles mesmo. E aí eu fui indo para as ruas, pegando escondido de minha mãe, levando para casa. Até que eu já adolescente minha mãe disse que não ia morar em uma casa que parecia uma ONG. E eu disse que os animais não iriam embora, e que seria melhor ela ir, e ela foi mesmo, morar com minha avó, e deixou a casa para que eu cuidasse dos animais. Com o tempo fundei a ONG Anjos, que hoje é uma referência de reabilitação animal. Como vereadora foram quase 5 mil votos, com um mês de campanha em rede social, porque não tinha verba para nada, né? Foi uma mudança de vida, onde dois anos depois deputada estadual, e hoje, a convite do governador Fábio Mitidieri, estou superintendente de Proteção Animal. Então um cargo pioneiro, nunca tido antes no estado, então é sempre assim, rompendo barreiras e sendo pioneira. Eu estou muito feliz com todo esse resultado. 

JC SOCIAL - O que motivou a criação do Abril Laranja e como você avalia seu impacto na conscientização sobre os maus-tratos aos animais?
KITTY LIMA -
 A motivação do Abril Laranja surgiu das milhares de demandas, de denúncias que chegavam, e as demandas eram muito expressivas, tanto que me fez correr atrás da primeira delegacia especializada na causa animal, na proteção animal, que hoje é uma realidade e são poucos os estados no Brasil que têm uma delegacia como essa. E a gente entende que conscientizar, educar não só as pessoas, nossas crianças principalmente, nossos adolescentes, porque eles são o nosso amanhã. Se eles crescerem respeitando toda a forma de vida, a gente vai ter cada vez menos casos cruéis e a gente vai ter uma sociedade que respeita a vida. Então, foi a maior motivação. 

JC SOCIAL - Quais são os principais desafios enfrentados na proteção animal em Sergipe, e como você os tem enfrentado?
KITTY LIMA - 
São muitos. A gente tem muita dificuldade em aprovação de leis que não tratem apenas de cães e gatos. Os parlamentares precisam entender a importância de respeitar toda a forma de vida. A causa animal é muito ampla e precisa da atenção e da sensibilidade de todos. Precisamos falar também que uma outra dificuldade é a adoção, o preconceito de muitos que só querem adotar animais, se forem ou de raça, ou se forem pequenininhos, filhotinhos, e quando crescem quer abandonar.  A ONG precisa de suporte da ração, precisa de suporte de medicamentos, precisa que você ajude com esse animal para ele ter um final feliz. Então, é um ciclo que precisa da sua ajuda. Por isso que agora, com a superintendência, a gente começou a iniciar licitação de ração, apoio, para que a gente possa um futuro breve ter minimizado a dificuldade de quem ama e quem protege os animais no estado do Sergipe. 

JC SOCIAL - Além da legislação, quais outras iniciativas têm sido implementadas para promover o bem-estar animal no estado?
KITTY LIMA
 - Além da legislação, porque não é só ela existir, ela precisa sair do papel. Um segundo ponto é que a gente promove o bem-estar fazendo várias e várias palestras ao decorrer da nossa rede estadual de ensino público. Esse trabalho educativo é uma prioridade aqui na superintendência para além de resultados na praticidade. O número de animais nas ruas é visível. Então, se a gente não castrar, não ter o controle populacional e de zoonoses desses animais a gente não vai conseguir ajudar porque construir abrigo não vai dar certo, se a gente não castrar o abrigo vai se encher em menos de cinco minutos. E um espaço também que atenda, que ofereça bem-estar aos animais, está sendo também já pensado, de abrigo e de atendimento animal gratuito. E no futuro próximo vai ter.

 JC SOCIAL - A SupAnimal é um órgão inédito no estado. Como você o desempenho até agora, em pouco mais de um ano e existência?
KITTY LIMA
 - Em um ano a gente bateu recordes. A gente conseguiu mais de 2 mil atendimentos no castramóvel, onde passamos mais de quatro anos gritando, brigando por castramóvels no estado, enquanto parlamentar, e hoje podendo executar, ver o castramóvel castrando muitos animais, e animais que poderiam estar mortos agora. Fomos em vários colégios públicos, estaduais e municipais, para que nossas crianças recebessem a educação e o amor e o cuidado aos animais. E nas palestras a gente via as crianças falando o quanto apanhavam também. Então a gente consegue mostrar a importância, o link da causa animal, da proteção animal com a segurança pública, com a proteção de nossas crianças, das nossas mulheres, proteção da mulher. Essa rede precisa funcionar em conjunto e a gente está conseguindo demonstrar isso. Então em um ano a gente fez muita coisa, a tão sonhada regulamentação do Código Estadual de Proteção Animal e a regulamentação dos animais comunitários em condomínio, que foi lei de minha autoria, e hoje também é uma realidade graças à superintendência.

JC SOCIAL - Com as eleições de 2024 se aproximando, como você vê o cenário político para as questões relacionadas aos animais? Existe alguma nova proposta ou plano em mente?
KITTY LIMA -
 Ano de eleição é um ano muito complicado, a gente precisa ter essa consciência que a gente não consegue a pauta animal se a gente não chegar lá, né? Então o parlamento, na minha visão, é um parlamento de causas. Você tem que ter representatividade e não pode deixar de ter, não se pode deixar de falar sobre a causa animal. Esse ano eu decidi não estar candidata porque mais importante é a causa animal, dar atenção a uma superintendência que está em seu primeiro ano. Então esse é um ano que eu vou cuidar da superintendência. Vou apoiar uma pessoa que eu confio, que vai atuar e ajudar também na causa animal, já que é uma pessoa que tem expertise também na segurança pública, então acho que vai ser um casamento legal e a gente vai conseguir unir esforços também pela causa animal.