13/11/2018 as 06:35

ESTIAGEM

Seca devasta produção de milho e feijão e coloca municípios em situação de emergência

87 carros pipas minimizam os efeitos no Alto Sertão e no Semiárido

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Levantamento da situação da estiagem feito pela Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro) traz uma realidade preocupante e que pode afetar não apenas quem vive nos municípios de maior incidência de seca, mas também a população que consome produtos por lá produzidos.

Para se ter ideia desta gravidade, a produção de milho em 2018 apresenta perda média de 50%. Em alguns municípios esse número chega a 90%. A produção de feijão amarga prejuízo de 90%. Já se verifica redução de 40% da produção de leite e os reservatórios (aguadas, tanques e barragens) estão em média com 30% a 40% da sua disponibilidade hídrica.

A degradação das pastagens e suporte forrageiro reflete na perda de peso dos animais, consequentemente, na produção de carne e redução da produção de leite dos rebanhos bovinos.

“Sergipe vem enfrentando um dos mais longos períodos de estiagens, atingindo praticamente todas as regiões. Com isso, a situação tende a se agravar no que diz respeito às questões sociais, ambientais e produtivas”, avalia João Alexandre de Freitas, coordenador da Articulação do Semiárido (ASA).

De acordo com a Defesa Civil do Estado, 17 municípios já decretaram situação de emergência e alguns outros aguardam a homologação do pedido para que sejam atendidos também por programas assistenciais no intuito de suavizar os efeitos da seca.

Atualmente, existe uma Instrução Normativa que diz quais são os procedimentos para se decretar uma situação de emergência. Entre eles, estão: a existência do dano humano e o colapso no exaurimento hídrico, como é o caso do que acontece em Sergipe.

“Para se ter ideia, até municípios que não faziam parte dos que decretam a situação de emergência, como no caso de Capela, tem nos procurado. São situações que a gente vê que está alastrando muito a seca”, afirma o major Luciano Queiroz, secretário executivo da Defesa Civil Estadual.

O órgão atua, junto com o Exército Brasileiro, no envio de carros pipas às áreas mais afetadas pela estiagem no Interior sergipano. Hoje, 12 municípios recebem 87 carros pipas, sendo 27 deles ofertados pela Defesa Civil e 60 pelo Exército.

São contemplados: Porto da Folha, Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo, Poço Verde, Monte Alegre, Canindé de São Francisco, Gararu, Frei Paulo, Nossa Senhora Aparecida, Carira, Tobias Barreto e Pinhão.

“Demos prioridade aos municípios do Alto Sertão, porque são os que têm mais problemas relativos à seca. Não podemos atender todos, devido aos recursos que são limitados. O custo mensal do Estado com a operação carro pipa é de R$ 270 mil”, expõe o major Queiroz.

Além dessa ação, a Defesa Civil estuda a possibilidade de perfuração de poços para a dessedentação animal, uma vez que o sertanejo reserva um pouco da água recebida, através dos carros pipas, para matar a sede dos animais, que, em sua grande maioria, representa o seu único meio de sobrevivência.

“Estamos buscando, junto ao Governo Federal, sabendo que teremos uma problemática grande com a seca e a alimentação do gado, recursos para a entrega de material forrageiro, como foi feito em 2016. Alguns animais já estão com o peso vivo abaixo. A seca vai vir muito severa, de acordo com os prognósticos climáticos. Temos ciência e, por isso, estamos buscando o máximo de recursos possível para amenizar o problema da seca”, explica o secretário executivo da Defesa Civil.

E a somação de esforços têm sido constante para enfrentar essa problemática. Só em 2018, a programação da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) é de encerrar o ano com 80 novos poços perfurados, beneficiando quase 16 mil famílias, num total de 64 mil pessoas.

Além disso, um projeto iniciado em 2018 está construindo 3.062 novas cisternas com até 16 mil litros de água e outros 514 barreiros nos municípios sergipanos de Tobias Barreto, Frei Paulo, Telha, Simão Dias, São Miguel do Aleixo, Pinhão, Poço Redondo, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora Aparecida, Monte Alegre e Macambira. É um investimento de mais de R$ 15 milhões do Ministério do Desenvolvimento Social, com a contrapartida estadual de R$ 152 mil.

Outra ação do Governo é o aporte financeiro do Programa Garantia-Safra, que beneficia 14 mil agricultores sergipanos que sofrem os efeitos da seca. “Essa é uma ajuda significativa para um momento de crise financeira e de seca em que vivem os nossos municípios do semiárido sergipano”, diz a secretária da Agricultura, Rose Rodrigues.

Apesar de toda essa engrenagem para agir de forma incisiva no combate à seca, o meteorologista Overland Amaral prevê a chegada de dias melhores para os sertanejos.

“Essa estação é uma estação de estiagem, todavia, não existe nenhum bloqueio para o sistema de chuvas, que nesse período sempre chegam pelo Sul, vindo pela Bahia. Hoje, temos o sistema atuando no Estado, com a possibilidade de chuvas, apesar de localizadas. A estação de verão não é como a de inverno. Não existe nenhuma anomalia climática que venha impedir a ocorrência dessas chuvas eventuais”, aponta Overland.

Assim como ele, o superintendente de Recursos Hídricos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Ailton Rocha, afirma que a situação do Rio São Francisco ainda é crítica, mas com as últimas chuvas que ocorreram, principalmente nas áreas de recarga do São Francisco, no trecho de Minas Gerais e Bahia, há uma expectativa muito positiva para sair dessa fase de crise para uma situação mais confortável.

“É tanto que, hoje, em Xingó, está se operando com uma vazão entre 600 e 700 metros cúbicos por segundo e é possível que, no início de janeiro do próximo ano, essa vazão já passe para 800. Houve uma recuperação gradativa nos reservatórios, principalmente Santa Maria e Sobradinho, que são os mais importantes no tocante à vazão do rio. Para 2019, a situação será mais confortável do que foi em 2017 e 2018”, assegura Ailton.

A Agência Nacional de Águas coordena um trabalho de monitoramento do Rio São Francisco e envolve, além dos estados banhados pela bacia, a Chesf, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e os usuários de água. A cada 15 dias existe uma reunião de videoconferência para avaliar a situação do rio e tomada de decisões de planejamento da quinzena posterior. Esse trabalho vem sendo feito desde 2013.