01/07/2019 as 10:09

Caso crítico em Lourdes

Nove municípios de SE estão em situação de epidemia de dengue

Já são quase 3 mil casos em Sergipe nos primeiros seis meses deste ano. O número chega a 20 vezes maior se comparado ao mesmo período de 2018

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

Nove municípios de SE estão em situação de epidemia de dengueFoto: Divulgação

Sergipe está em alerta para um provável surto de dengue. Em todo estado, 64 municípios já notificaram casos da doença neste ano, com a confirmação de cinco óbitos para as manifestações mais graves, sendo quatro deles em crianças com até 10 anos de idade. Os números de notificações saíram de 122, em 2018, para atuais 2.963, um aumento superior a 2.000%. A situação mais crítica é de Nossa Senhora de Lourdes. Localizado às margens do São Francisco, o município já registrou 138 casos de dengue e possui a pior taxa de incidência de todo estado, com 2.132,9/ 100 mil habitantes. Só para se ter dimensão da situação em Lourdes, a média de incidência em todo estado é de 95,9.

Na cidade, a procura por atendimento médico tem lotado os postos de saúde. Dos cinco óbitos confirmados neste ano por dengue, um foi registrado em Lourdes. E o pior é que a situação está longe de melhorar. O município vem acumulando, ciclo após ciclo, as piores avaliações de taxas de infestação predial do mosquito Aedes aegypti desde o ano passado.

Na verdade, a situação piorou em todo estado. A avaliação dos três últimos ciclos de Lira-a revela que foi havendo uma queda no controle da infestação predial do mosquito pelo interior. No 1º Ciclo, haviam apenas 5 municípios em situação de risco. No 2º, esse número ampliou para 12 e, agora, registram-se 21 municípios com risco de surto.

Em nove municípios,  a taxa de incidência da doença já está acima de 500/100 mil habitantes, o que pode ser considerado uma epidemia. São eles: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Lourdes, Pedra Mole, São Miguel do Aleixo, Gracho Cardoso, Feira Nova, Brejo Grande, Monte Alegre e Gararu. Em todo estado, apenas 11 municípios ainda não notificaram casos de dengue. 

AUMENTO DOS CASOS

De acordo com a diretora de Vigilância em Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde, Mércia Simone Feitosa de Souza, existem vários fatores que ajudam a explicar os motivos para o aumento da dengue em Sergipe. Esses fatores vão desde a presença de mais de um vírus circulante na região (em Sergipe foram identificados dois. Isso faz com que a população possa estar imune a um, mas não ao outro); a falta de imunidade da população, sobretudo infantil, já que a última epidemia que o estado testemunhou foi em 2008; bem como a presença do vetor na região, sobretudo quando são fornecidas as condições para o aumento da infestação predial do mosquito. 

“Como não temos epidemia de dengue desde 2008, quando grande parte da população foi acometida e ocorreram mais de 60 óbitos, atualmente temos uma população que nunca teve nenhum dos quatro vírus da dengue e desta forma apresenta maior susceptibilidade a ser infectada e adoecer”, explica Mércia. “A dengue em crianças realmente tem sido uma grande preocupação, pois como a última grande epidemia foi há 11 anos atrás, a população infantil praticamente toda está susceptível. Além disso, a dengue pode em sua fase inicial ser confundida com outros quadros febris comuns na criança e isto levar a um diagnóstico tardio, fazendo com que só retornem aos serviços de saúde quando já estão bastante graves”, complementa Mércia.

 

Ela também pontua que para manter o controle da dengue no território, as principais intervenções devem ser focadas no combate ao mosquito transmissor e isso engloba as ações das gestões municipais na rotina do trabalho das suas equipes de campo e da mobilização permanente da população na eliminação de possíveis focos. “Quando temos um desequilíbrio nesses três fatores, temos a possibilidade de aumento de casos e até de uma epidemia”.

N.S. Lourdes

O coordenador de saúde de Nossa Senhora de Lourdes, Gerivaldo Ferreira, explica que a maior dificuldade do município para controlar os casos de dengue tem sido a falta de conscientização de parte da população, “que mesmo com a visita domiciliar das equipes de saúde, continua deixando, por exemplo, caixas d’água destampadas, lavanderias, baldes, e inclusive potes de barro para consumo de água potável sem a devida proteção”.

Quando questionado por que Lourdes aparece com frequência nas listas de municípios com piores índices de infestação predial (Lira-a) do estado, o coordenador elencou uma série de medidas que a gestão tem priorizado em seu plano de ação, como intensificação das visitas domiciliares, ações educativas nas escolas e envolvimento de outras secretarias no combate aos focos criadouros. Porém, voltou a atribuir à falta de engajamento da população a falta de efetividade das medidas adotadas.

“Diante do número de casos de dengue que tem ocorrido no município e por saber que se trata de uma doença grave, que pode levar à morte,  as ações por parte da gestão estão sendo feitas,  mas precisamos da participação da população,  que parece não ter consciência do perigo desse vetor. Mesmo assim, estamos na luta diária para buscar essa conscientização”, observa Gerivaldo.

Embora a política de combate e prevenção à dengue preveja repasses federais definidos, o representante municipal não soube informar quanto o município já investiu nas ações voltadas à prevenção da doença e combate de criadouros do mosquito Aedes aegypti neste ano. “Não temos como precisar o quanto foi gasto nas ações, pois teríamos que fazer um levantamento minucioso, uma vez que todas as secretarias estão empenhadas no combate à dengue”, indagou.

Ele também confirma que a ampliação de casos de dengue no município tem levado ao “aumento considerável” da procura por atendimento médico nos postos de saúde. Como medida para ampliar o atendimento, ele explica que a gestão tem acolhido todos os casos e removendo para o hospital regional de Propriá apenas os mais graves.