15/07/2019 as 09:18

Rio Sergipe

Em Riachuelo, venda de peixes e mariscos está comprometida

No dia 25 de março, um vazamento de óleo atingiu o Rio Sergipe que corta o município de Riachuelo. No dia 18 de abril aconteceu mais um derramamento de óleo na região.

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Em Riachuelo, venda de peixes e mariscos está comprometidaFoto: Raphael Farias

Notícias tristes de vazamento de óleos em rios e mares parecem ser cada vez mais corriqueiras. O impacto é muito maior do que apenas tristeza, já que um vazamento de óleo em um rio pode demorar muito tempo para ser contido e eliminado, fazendo com que diversas espécies de animais acabem morrendo. Em Sergipe, pautas como essas estampam as páginas dos jornais há anos e nada de fato tem mudado. O que se vê sempre é o fatídico acontece, as pomposas empresas são autuadas pelo órgão ambiental e agem para “maquiar” a situação, seja com reparos, ou - quando de sorte - com uma mísera indenização para as comunidades ribeirinhas.

Essa é a “sorte” que os pescadores e marisqueiras do município de Riachuelo amargam há quase cinco meses. A pesca é a principal fonte de renda de muitas famílias ribeirinhas e dois vazamentos ocorridos em menos de um mês na região trouxeram não só prejuízos ambientais, como econômicos para as famílias que dependem do Rio Sergipe para o seu sustento. Danos em embarcações, redes e viveiros foram graves, porém o maior dos problemas que eles enfrentam é o descrédito frente aos consumidores e temem até para consumo próprio comer peixe contaminado.

“Não estamos mais proibidos de pescar, mas até agora não houve nenhum laudo técnico nem da Adema e nem da Petrobras. São mais ou menos 48 famílias que dependem diretamente dessa pesca. Estamos todos à mercê sem receber nenhuma indenização. Eles iam analisar a água e até lá a gente fica assim do jeito que está. Eu ando me virando, fazendo outras coisas, fazendo bico, mas nosso sustento maior é da maré e nós temos família para sustentar e também tínhamos clientes que dependiam da gente. Donos de bares, restaurantes já era certo essa compra deles. Agora ninguém quer comprar mais peixe da gente”, lamenta o pescador, Alan Santos Barbosa, de 27 anos.

Para seu Manuel Messias, que é pescador há mais de vinte anos, ninguém da região sente segurança em comprar o peixe ou marisco pescado no Rio Sergipe, em Riachuelo e municípios vizinhos. “Ficamos interditados 15 dias sem poder pescar e a gente logo sentiu os prejuízos. Quando liberado e aparecia peixe vivo no rio, eu pescava, chegava para vender e a pessoa dizia que não queira porque estava poluído. Eu vendia no mercado e entregava nas portas, depois desse vazamento tanto o número de peixes quase sumiu, quanto os compradores”, comenta.

Manuel diz ainda que já passou por algumas situações semelhantes e, ao invés de melhorar, só tem piorado. “Não estávamos preparados para esses dois danos ocorridos tão rapidamente e a gente ficou com as mãos atadas sem ter o peixe nem para comer. Antes, enchia um carrinho de mão e vendia tudo rapidinho, era uma questão de ter o pão de cada dia. Hoje a gente pesca, mas não tem confiança de colocar mais esse peixe na mesa do povo e nem na mesa de casa. A gente não quer passar produto contaminado pra população e no momento não temos como saber se isso ainda está ocorrendo. O nosso maior prejuízo foi perder a confiança do povo sobre a qualidade do peixe”.

De acordo com o vereador e presidente da Câmara de Riachuelo, Berg Hipólito, foram realizadas reuniões com a Petrobrás e a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), mas nunca deixaram nada claro se podia ou não continuar pescando no rio, e nenhum documento oficial ainda foi emitido. “Em nenhum momento foi anunciado de forma aberta para o povo. A própria Petrobras precisa fazer uma divulgação pela cidade para quem comprava esse pescado, dizendo que esse peixe não ofereceria risco à saúde. Agora os pescadores dessa região estão desacreditados, porque ninguém compra achando que está contaminado. Eles precisam pelo menos provar para o povo com um laudo técnico que ali não existe mais contaminação”, diz.

Segundo o parlamentar, quem tem dado apoio é a Prefeitura Municipal de Riachuelo, através da Secretaria Municipal de Assistência Social. “Os pescadores participam de reuniões quinzenais com a coordenadora de Igualdade Racial, Gênero e Diversidade, Cristina Guimarães, que é quem vem acolhendo bem os pescadores e marisqueiras. Ela quem me procurou para darmos um suporte e, inclusive, semana que vem teremos uma reunião com o setor jurídico da Petrobrás para sermos melhor orientados. Eles estão desde março sem pescar, era para ter sim um auxílio para suprir pelo menos a questão do lucro cessante, coisas do tipo. Pode ser até mesmo uma medida cautelar”, explica Hipólito.

O JORNAL DA CIDADE procurou os dois órgãos, Adema e Petrobrás, para se pronunciarem sobre o caso. O contato foi feito com a assessoria de cada um. Ambos garantiram o envio das respostas, porém até o fechamento desta edição do Caderno Municípios, nada foi respondido. Diante da dura realidade que a comunidade ribeirinha enfrenta, este espaço permanece em aberto para possíveis respostas na próxima edição.