22/08/2019 as 15:30

EM APURAÇÃO

Mais mulheres denunciam obstetra do Hospital Zé Franco

Após desabafo em rede social, surgem novos casos contra o médico George Macedo

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“Ele chegou com muita ignorância, fez um toque muito brutal. Pegou pelo meu braço e foi me arrastando. Eu não estava com roupa nenhuma, apenas com um lençol por cima. O lençol caiu e eu saí nua pelo corredor, passando pelo setor de atendimento. Quando chegou na sala de parto, ele mandou eu subir na cama e eu dizendo que não aguentava, eu já estava sentindo a cabeça do meu filho. Ele, com muita grosseria disse ‘suba logo’. Eu subi com a ajuda de duas enfermeiras. Ele começou a abrir a vagina com os dedos para a criança sair. Eu senti aquele corte grosso na minha vagina, aí o meu bebê nasceu. Eu dizendo a ele que estava doendo muito. Foi muita tortura na sala e eu gritando de desespero”.

O relato acima é da jovem Eva Cristian, que entrou em trabalho de parto e foi atendida na madrugada do último dia 15, no Hospital Zé Franco, no município de Nossa Senhora do Socorro, pelo médico obstetra, George Macedo.

Segundo a paciente, mesmo após o nascimento do filho, o médico continuou a tratá-la com aspereza e de forma rude. “Quando o menino nasceu, ele saiu da sala e me deixou lá com as pernas penduradas naquele ferro. Eu perguntei às enfermeiras se eu poderia sair da posição e elas disseram que ainda não tinha acabado o procedimento e que eu poderia pegar uma bactéria. Eu me sentia muito rasgada. Meu filho nasceu 1:45 e quando eu olhei para o relógio já eram 2:10 e nada dele retornar para tirar a placenta que ainda estava dentro de mim”, lamenta Eva.

Por último, segundo Eva, após uma espera de 25 minutos, Dr. George retornou para realizar a finalização e continuou com o mesmo tratamento. “A enfermeira foi chamar ele. A sala estava aberta e as pessoas viam quando passavam, as minhas pernas penduradas e abertas. A menina da limpeza, inclusive entrou e fez a limpeza do chão comigo lá. Depois, ele voltou com a cara de raiva e disse vamos logo aplique aí a anestesia nela. Foi quando eu gritei de tanta dor. Ele tirou a placenta e começou a costurar. Quando eu dizia que estava doendo, ele puxava os fios bem forte. Foi horrível. Foi muito triste. Hoje, eu não consigo nem segurar meu filho ainda”, conta.

Após fazer um desabafo em suas redes sociais, Eva Cristian contou com o apoio de inúmeras pessoas, entre elas, mulheres que afirmavam terem sido atendidas pelo Dr. George Macedo.

Uma delas, que terá a identidade preservada, chegou a entrar na Justiça, em fevereiro deste ano, solicitando uma reparação de danos morais e materiais. Segundo a paciente, ela teria sido atendida em novembro de 2017, no Hospital Zé Franco, pelo médico George Macedo. Porém, após ter recebido alta, passou a sentir fortes dores e um mau cheiro exalava de suas partes íntimas, tendo que retornar ao hospital e ficar internada por mais três dias.

Ela retornou mais uma vez para casa, mas o mau cheiro não passava. A mulher procurou o Posto de Saúde e tomou antibióticos e fez uso de pomadas, mas, ainda assim, o odor não cessava. Ela ainda foi motivo de chacota por outra médica do hospital, que disse que isso era falta de asseio.

Foi quando, mais de mês após o parto, outra médica a atendeu e fez um exame de toque, descobrindo que o médico havia esquecido dentro da paciente uma gaze, daquelas utilizadas para estancar o sangue durante uma hemorragia.

Já uma terceira paciente, que também terá a identidade preservada, chegou ao hospital na madrugada do dia 12 de outubro do ano passado e o mesmo médico a mandou embora dizendo que ainda não estava na hora do seu parto.

“Não falei logo porque saí muito contrariada de lá. Eu tive filho pouco tempo depois na Maternidade Santa Isabel. Quando vi a menina denunciando, eu tinha certeza de que se tratava dele. Comigo, eu comecei a ter contrações fortes na madrugada e sabia que eu estava na hora, pois era o meu terceiro filho. Cheguei em torno de 3 horas da manhã e ele foi me atender. Ele disse que não estava na hora e que eu iria para casa. Eu comecei a chorar e disse que não tinha condições de ir para casa. Ele disse, bem irônico, você vai para casa. Eu perguntei o nome dele e ele mostrou no jaleco e, em seguida me disse ‘já sei, vai me colocar nas redes’. Ele ainda me disse que estava fazendo um favor porque não era o plantão dele”, relata a paciente, que saindo de lá foi atendida na Maternidade Santa Isabel e teve seu filho.

A paciente Eva entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde, que providenciou o afastamento do médico até a apuração dos fatos. Em nota, a direção geral da Fundação Hospitalar de Saúde (FHS) informou que havia solicitado o relatório do ocorrido e aberto processo administrativo disciplinar diante da conduta do médico, cabendo, inclusive, a demissão do mesmo.

Diante da situação vivenciada por Eva Cristian, seus advogados (Fernanda de Barros, Jéssica Lima e Ângelo Oliveira) informaram que estão apurando e analisando todos os detalhes a respeito, inclusive aguardando a prestação de informações pela Secretaria de Saúde do município de Nossa Senhora do Socorro. Segundo a advogada Fernanda de Barros, medidas judiciais estão sendo providenciadas, a fim de que o Poder Público seja responsabilizado pela negligência e violação à dignidade humana da senhora Eva. “Acionaremos também o CRM para tomar todas as providências cabíveis. Esse caso não ficará somente na seara administrativa, mas também na cível e criminal”, ponderou a advogada.

A equipe de Reportagem do JC entrou em contato com o médico George Macedo através da sua secretária, a senhora Mônica, que informou que o médico entraria em contato para prestar a sua versão sobre o caso. Porém, até o fechamento desta matéria, o profissional não retornou o contato.

Por telefone, o Conselho Regional de Medicina de Sergipe (CRM/SE) disse que, tão logo receba a denúncia, dará início ao processo de apuração.

Por Diego Rios