28/01/2020 as 06:08

Segurança

13 municípios contam com apenas dois policiais

Com nova decisão da SSP, cidades poderão ficar sem policiamento

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Um comunicado do Comando Geral da Polícia Militar de Sergipe (PM/SE), na última sexta-feira, 24, causou rebuliço entre policiais militares lotados em diversos municípios sergipanos, principalmente os mais distantes da capital.


As informações davam conta de que, cumprindo a Instrução 01/2020, expedida pelo Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ/SE), todos os flagrantes de crimes no interior do Estado serão realizados na Central de Flagrantes de Aracaju.


O informativo do Comando Geral diz ainda que as delegacias plantonistas do interior apenas farão atendimento ao público e procedimentos que não envolvam pessoas custodiadas. Essa decisão gera grande impacto para a população de algumas cidades do interior que atualmente contam com apenas dois policiais militares para dar conta da segurança da população.


Isso mesmo. A reportagem do JC teve acesso, com exclusividade, às escalas de militares em diversos municípios sergipanos e pôde constatar o quão vulneráveis os populares ficarão após o cumprimento dessa medida.


Para o consultor de segurança e ex-comandante geral da Polícia Militar de Sergipe, o coronel Maurício Iunes, a situação é absurda e coloca a sociedade em risco.


“Isso é um prejuízo para a sociedade, um prejuízo para a instituição Polícia Militar. Se a polícia não tem em municípios do interior uma quantidade de efetivo policial, quando você vai migrar todo flagrante para a capital você está dizendo à população que durante o momento do flagrante aquela cidade vai estar desassistida. É algo absurdo e preocupante, porque você teria em uma cidade mais próxima. Até compreendemos da impossibilidade de você manter delegacias com 24 horas para atender flagrantes, agora você deixar o interior desprovido de segurança é um desserviço para a sociedade, a coisa mais absurda que se possa imaginar”, avalia Iunes.


Ele vai além: “O que você fica mais abismado é quando vai fazer a conta do efetivo. Se nós não temos efetivo para atender a todas as delegacias, nós temos capacidade técnica para atender, pelo menos, de forma regional. Agora, está se jogando toda a responsabilidade para a Polícia Militar, que é a única instituição que está nos 75 municípios. É muito claro o recado de que não terão mais viatura da Polícia Militar quando houver flagrante. Se levar em consideração que tem flagrante que pode durar, 4, 6 até 12 horas, a depender do número de pessoas que precisam ser ouvidas, você já tem problema na capital de se fazer fila para flagrante. É tão inaceitável que é até difícil discutir um assunto tão absurdo”, afirma o ex-comandante geral da PM.


De acordo com um policial militar, que prefere não ser identificado, mas que atua em um município distante da capital, o baixo efetivo não permite que a guarnição se ausente da cidade de atuação por um longo período.

“Isso é impossível. Não tem efetivo para isso, sem contar o gasto de combustível e a retirada do policiamento da cidade e da área de atuação. Tem cidade com dois, três PMs por dia. A imprensa tem que verificar essa informação e cobrar do comando da PM e do secretário a veracidade dessa informação. Estão alegando que seria por conta da audiência de custódia. Tudo bem, mas quem deve fazer essa condução para o Fórum é a Polícia Judiciária e não a PM”, lamenta o policial.


E as escalas apontam a veracidade desse depoimento. Para se ter ideia, apenas dois policiais dão segurança à população nos municípios de Maruim, Riachuelo, Santo Amaro das Brotas, Amparo de São Francisco, Canhoba, Cedro de São João, Muribeca, Malhada dos Bois, São Francisco, Telha, Aquidabã, Graccho Cardoso, Feira Nova e Itabi.

Neste último caso, um detalhe chama a atenção: nos dias 19 e 23 de janeiro, apenas um policial estava responsável pela segurança dos cerca de cinco mil itabienses. “Peça à SSP a escala do policiamento do interior. Será possível observar que são dois policiais, no máximo. Nos batalhões, que tem um pouco mais e nas sedes de companhias, uns dois policiais a mais. Ninguém vai querer prender e sair de Nossa Senhora da Glória para Aracaju. Vão fazer vista grossa. Que a instrução seja cumprida, mas por quem é de direito”, acrescenta o militar.

O Governo do Estado emitiu uma nota afirmando que diante das últimas informações e desdobramentos administrativos em decorrência da Instrução 01/2020, do Tribunal de Justiça de Sergipe, que a SSP e a PMSE, apoiados pela PGE, estão em tratativas com o TJ/SE para melhor cumprimento dos procedimentos referentes às audiências de custódia, inclusive com uma reunião prevista para acontecer nesta segunda-feira, 27. O JC aguardará o resultado desta reunião.


Em conversa com o assessor de Comunicação da PM/SE, coronel Fábio Machado, foi informado que a escala em todos os municípios do interior, e também na capital, continua da mesma forma, conforme planejamento de cada batalhão, e que não irá mudar a escala, nem quantitativo diário.

Questionado sobre o quantitativo de policiais destinados a essas cidades, o coronel informou que por questões de estratégia de planejamento essa informação não é divulgada.

Para fechar essa matéria com chave de ouro, o coronel Maurício Iunes faz o levantamento de uma problemática que deve ser constatada em algumas cidades, caso essa decisão da SSP seja mantida.


“Aquelas pessoas que ligavam para a polícia por conta de um simples delito, um princípio de confusão para que a polícia pudesse passar e apaziguar antes dos ânimos se exaltarem, isso não será mais possível. Se você tiver uma violência contra a mulher, ela vai ficar apanhando, isso é uma covardia. E a viatura vai estar parada na capital. A sociedade já é carente de policial”, finaliza Maurício Iunes.