Ginásio de Esportes está abandonado há quatro anos, em Maruim

O bairro São José, no pequeno município de Maruim, é o retrato do descaso. Basta um breve passeio pelas ruas da comunidade para constatar a irresponsabilidade com o dinheiro público e a falta de empatia, da administração municipal, com a população mais sofrida. As famílias convivem com o lixo que se acumula pelas esquinas e o esgoto que corre nas portas das casas. Como se não bastasse a falta de infraestrutura, também falta à comunidade áreas para o lazer e práticas de esportes. Isso porque a única quadra poliesportiva do bairro, que custou mais de meio milhão, nunca foi concluída.

Há mais de quatro anos, a quadra escolar coberta do bairro São José está abandonado. A obra está com mais de 90% do projeto executado, mas nunca chegou a ser inaugurada pela prefeitura. O equipamento deveria beneficiar, sobretudo, os alunos da Escola Municipal São José, porém não dispõe, sequer, de traves ou estrutura mínima para prática de esportes, a exemplo de cestas de basquete ou mastros para rede de vôlei. Os vestiários, sem portas, viraram depósitos de lixo e fezes. O ambiente é totalmente insalubre e em nada se assemelha a uma estrutura construída para proporcionar entretenimento, bem-estar e saúde para comunidade.

O ginásio foi construído a partir de um convênio celebrado no ano de 2012, portanto, ainda no primeiro mandato do prefeito Jeferson Santana (MDB), entre a administração municipal e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A obra custou R$ 509 mil, sendo que já foram repassados pelo órgão à prefeitura, entre junho de 2012 e janeiro de 2014, cerca de R$ 381,8 Mil. Ou seja, o equivalente a 75% do total previsto para conclusão. 

A vigência do contrato segue até o dia 30 de junho deste ano, mas basta uma rápida visita ao local para notar que não há, por parte da prefeitura, nenhum interesse em resolver a situação. O último repasse para conclusão da obra foi realizado há seis anos, o que denota o total abandono por parte da gestão.

“Faz uns quatro anos que essa quadra está desse mesmo jeito que você está vendo, largada, sem a menor condição de uso. Quando o pessoal do bairro quer jogar futebol, tem que colocar as sandálias no chão para marcar o gol. A situação é revoltante, porque essa é uma obra nova, que nem foi inaugurada, e já vai precisar de um bocado de reparos”, dispara um morador do bairro que preferiu não se identificar, por medo de represálias.

Ainda de acordo com o morador, além do lixo que se acumula no entorno da quadra, a situação piora muito quando chove ou quando a maré enche. “Você pode ver que aqui do lado funciona a única escola do bairro, onde as crianças convivem com um curral e a maré no fundo. É um fedor insuportável, não sei como ainda não resolveram. Quando chove, isso aqui vira uma lama, e já vi muitas vezes invadir a escola”, reforça.

Abandono 

O descuido da administração do prefeito Jeferson Santana com a infraestrutura da cidade não fica restrito ao abandono de obras. De 2012 para cá, a prefeitura de Maruim celebrou um total de 12 convênios com a Caixa Econômica Federal voltados, exclusivamente, à realização de obras de pavimentação, urbanização e revitalização de vias públicas. O montante de recursos gerados pelos convênios é de cerca de R$ 4,2 Milhões. O problema é que muitas dessas obras sequer foram concluídas, ou pior, não chegaram a quem mais precisa.

No mesmo bairro onde a prefeitura deixou de lado a quadra esportiva, está localizado o conjunto Hildergades de Azevedo, mais conhecido como Alto da Boa Vista. Ali, o abandono à comunidade é visível. O esgoto corre a céu aberto nas portas das casas. Há pontos de lixos que se acumulam por várias localidades do bairro, gerando um mau cheiro insuportável e facilitando a presença de insetos e roedores, que preocupam a saúde dos moradores.

“Faz mais de 50 anos que moro no Alto da Boa Vista e nunca vi melhoria nenhuma para quem vive aqui. Eles até começaram a calçar algumas ruas, mas não resolveram o problema dos esgotos e do lixo. Quando chove é um Deus nos acuda. Eles tratam o bairro como se não morasse gente aqui, só bicho”, desabafa o carroceiro Egídio de Souza, 51 anos.

A indignação dele é compartilhada pela dona de casa Valmira Santos, moradora há 30 anos do Alto da Boa Vista. “É horrível a situação, até fezes você vê passar pela fossa na porta de casa. Meus filhos já pegaram micoses várias vezes. Fomos reclamar na prefeitura e disseram que era mentira nossa. Eles não vêm aqui”, reclama a dona de casa.

Respostas

Questionada sobre a situação de abandono da quadra escolar coberta, do bairro São José, a prefeitura de Maruim informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que a obra está paralisada “por conta do atraso na liberação de recursos federais”, e que aguarda um parecer da Procuradoria, “pois a empresa responsável havia abandonado a obra”. Destacou, ainda, que a quadra já está com um percentual de execução de 94%, porém não esclareceu o porquê da demora para sua inauguração, uma vez que o último repasse feito pelo FNDE já foi há cerca de seis anos.
Sobre a situação do conjunto Alto da Boa Vista, a prefeitura reconhece que a pavimentação ainda não alcançou toda a comunidade, que ainda há ruas a serem calçadas, porém já existem recursos disponíveis. “Sobre o esgotamento, existe uma previsão de um grande investimento de saneamento básico em todo município, através de convênio federal. Já a coleta de lixo, ela acontece de forma regular”, conclui.