30/09/2019 as 08:36

ENTREVISTA/ALESSANDRO VIEIRA

‘Bolsonaro não entrega uma parte importante do que prometeu’

Nesta entrevista para o JORNAL DA CIDADE, o senador Alessandro Vieira (Cidadania) comenta como vem sendo a atuação no Senado Federal no tocante ao requerimento da Comissão Parlamentar Inquérito (CPI) da Lava Toga.

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Nesta entrevista para o JORNAL DA CIDADE, o senador Alessandro Vieira (Cidadania) comenta como vem sendo a atuação no Senado Federal no tocante ao requerimento da Comissão Parlamentar Inquérito (CPI) da Lava Toga. Além disso, o parlamentar comenta como anda a discussão sobre o uso da cannabis medicinal e do cânhamo e defende a necessidade do medicamento para as pessoas que sofrem doenças graves. “Não atender isso, não tratar disso, seria, mais do que ignorância, um gesto de falta de compaixão”, expõe. Sobre a atuação no presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), o senador analisa ser um “governo de ruptura”, mas que ainda há uma parte que ficou “apenas no discurso de palanque”.

 

Confira o conteúdo completo abaixo:

 

JORNAL DA CIDADE – O que o senhor acha da Operação Lava Jato? Comente sobre o andamento.

ALESSANDRO VIEIRA – A Operação Lava Jato é um marco na ética e no combate à corrupção no Brasil. Foi a primeira demonstração concreta de que era possível encarcerar e punir os poderosos que há décadas subtraem os recursos públicos brasileiros.

 

JC – Do que se trata exatamente a Comissão Permanente de Inquérito (CPI) Lava Toga? O que deverá ser atingido? Como anda a tramitação?

AV – Com a CPI da Lava Toga queremos elevar o patamar de combate à corrupção em busca de transparência no serviço público no único setor onde ele não chegou ainda, a cúpula do Judiciário. Você tem dezenas de denúncias acumuladas em gavetas que jamais foram esclarecidas, sequer respondidas pelos ministros. A CPI veio para mudar esse quadro. O requerimento mais recente tem hoje 26 assinaturas colhidas e o requerimento anterior está pendente de avaliação pelo plenário do Senado.

 

JC – Quais condutas o senhor questiona de Gilmar Mendes e Dias Tofoli? É por essa razão que insiste na CPI? Comente mais sobre o tema.

AV – As razões para a CPI estão expressas nos próprios requerimentos. Você tem fatos concretos que precisam ser apurados e o único lugar e a única forma de se apurar é através de uma CPI no Senado.

 

JC – Há indicação sua para cargos na Codevasf? E no Governo Federal? Por quê?

AV – Não, eu tive uma conversa com o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) na qual eu disse claramente que não tinha interesse em nenhuma indicação para cargos federais em Sergipe, mas que exigia gente honesta para trabalhar no meu Estado. Ele pediu que fizesse uma indicação para a Codevasf, que tem maior relevância de orçamento, e eu fiz a indicação (de Milton Andrade) em fevereiro. De lá para cá não tive nenhum outro contato com o governo solicitando ou cobrando. A bancada se posicionou pela manutenção do atual superintendente, que vem de uma indicação política anterior, com a qual eu não compactuo. Mas não fiz nenhum gesto contra essa permanência. O ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) esteve no meu gabinete tratando desse mesmo assunto e oferecendo qualquer cargo federal disponível em Sergipe. Eu respondi que não tenho interesse em fazer indicações e que minha postura é de total independência.

 

JC – Como o senhor avalia o governo Bolsonaro? Há acertos? E erros?

AV – O governo Bolsonaro é um governo de ruptura, ou seja, ele muda uma estrutura presente há quase duas décadas. Portanto, é natural que ele enfrente algumas dificuldades. Mas é importante ressaltar que o governo Bolsonaro não entrega uma parte importante do que prometeu: a questão ética, do combate à corrupção, que ficou apenas no discurso de palanque. Na prática, o governo Bolsonaro tem atuado contra o combate à corrupção, atuando em pleno acordo com as casas congressuais e com o Supremo Tribunal Federal. É uma construção que está no seu início e estamos sempre dispostos a ajudar, mas com independência, criticando o que precisa ser criticado.

 

 JC – O senhor é o relator do projeto para regulamentar o uso da cannabis medicinal e do cânhamo, como está o andamento? O que de fato trata o assunto e suas importâncias? Há demora na votação, por quê?

AV – É uma sinalização para o Brasil de que o Senado da República se dispõe a discutir e regulamentar aquilo que vem como demanda da sociedade. Essa, especificamente, é uma demanda por medicamento para as pessoas que sofrem com doenças graves. Não atender isso, não tratar disso, seria, mais do que ignorância, um gesto de falta de compaixão. Cumprimos nosso papel, defendemos o projeto, apresentamos o substitutivo, que é bastante sóbrio, que impede qualquer possibilidade de uso recreativo. É um projeto que vai contribuir para a evolução da ciência e o tratamento das pessoas.

 

JC – O senhor é o presidente do diretório estadual do Cidadania, então, como está o quadro de filiação?

AV – O partido vem crescendo muito no Estado, há uma demanda muito grande por filiação, mas vem fazendo isso com calma e organização para que a gente possa fazer um partido moldado naquilo que a gente defende na política: renovação, gente de ficha limpa, com boa vontade e capacidade de diálogo. Nesse sentido, vem crescendo no Estado todo.

 

JC – O senhor acredita que cenário do partido para as próximas eleições está promissor, por quê? Haverá candidatos para os municípios? E para a capital?

AV – Teremos candidatos em vários municípios, certamente para a capital, e principalmente chapas de vereadores competitivas. O vereador tem um papel fundamental na construção de uma nova política.

 

 

 

| Repórter: Mayusane Matsunae

|| Foto: Pedro França/Agência Senado