09/03/2020 as 08:38

Entrevista

Alessandro Vieira : ‘Belivaldo precisa dialogar com a bancada federal’

O senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE) avalia que o baixo resultado do PIB não foi bom para a economia, foi insuficiente para dar sinais de retomada do crescimento, com a recuperação de empregos.

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O senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE) avalia que o baixo resultado do PIB não foi bom para a economia, foi insuficiente para dar sinais de retomada do crescimento, com a recuperação de empregos. Ainda assim, em entrevista ao JORNAL DA CIDADE, ele diz acreditar que “no tocante à gestão econômica do governo Bolsonaro avalio que as ideias e o eixo básico são corretos”. O parlamentar afirma que falta uma coordenação mais eficiente na bancada federal de Sergipe. “Tanto por parte dos integrantes, e aí o coordenador eleito foi o deputado federal Fábio Reis, e o trabalho me parece insuficiente, mas também o governador Belivaldo Chagas precisa se aproximar mais e dialogar com a bancada. Não adianta dialogar somente com dois ou três mais simpáticos que fazem parte do agrupamento político dele e deixar de aproveitar o potencial que a bancada federal tem para resolver problemas reais”.


Leia a seguir os principais trechos da entrevista. 

JORNAL DA CIDADE - Nesta semana foram divulgados os números do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre. Embora um único trimestre seja insuficiente para se apontar tendências, a queda forte do investimento de 3,3% e a alta de 0,4% do consumo do governo ensejam dúvidas sobre pontos recentemente salientados pela equipe econômica, em especial sobre o papel do setor privado no atual ciclo. Qual a sua avaliação da gestão econômica do Governo Federal?

ALESSANDRO VIEIRA - Efetivamente é importante assinalar que o resultado da economia não foi bom. O aumento do PIB foi insuficiente para você sinalizar uma retomada da nossa economia, e essa retomada é essencial para que possamos ter a recuperação dos empregos e da renda dos brasileiros. No tocante à gestão econômica do governo Bolsonaro, avalio que as ideias e o eixo básico são corretos, ou seja, fazer as reformas estruturantes é importante, reduzir o tamanho e o peso do Estado é importante, mas falta uma dinâmica e uma atividade maior de convencimento da sociedade e do Congresso. Já temos aproximadamente 15 meses de governo e não temos uma proposta de reforma tributária, por exemplo, também não temos reforma administrativa encaminhada. Tem várias questões que estão paralisadas e é preciso acelerar para que tenhamos um bom resultado.

JC – Recentemente, o senhor protocolou um projeto de lei complementar para combater o monopólio dos bancos nas operações de crédito e reduzir a concentração bancária no Brasil. Como isso será possível?


AV - Nosso objetivo é reduzir a taxa de juros para os cidadãos lá na ponta. E os estudos técnicos indicam que essa redução exige maior competitividade no mercado. Hoje essa competitividade não existe. E nós precisamos acelerar a pulverização dos atores do mercado, das empresas, dos bancos, para que possamos ter mais disputa e taxas de juros mais baixas, essa é a essência do projeto de lei complementar - PLC 13/2020 - que protocolamos no final de fevereiro na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal. O projeto altera a lei n° 4.595, para estabelecer limite para a exposição total de crédito das instituições financeiras e promover a concorrência no Sistema Financeiro Nacional. Isto é, pretendemos reduzir o custo dos empréstimos ao consumidor, ao limitar a concentração de oferta de crédito. Apresentamos esse projeto com base em estudos, tanto no Brasil como fora, que mostram a necessidade de aumentar a competitividade no sistema bancário para garantir a redução dos juros lá na ponta para o consumidor. Nós sabemos que um dos grandes problemas da economia brasileira é o preço do crédito, o custo que você tem para empreender no Brasil. Atualmente apenas cinco bancos concentram 80% das operações de crédito das instituições financeiras, dois grandes bancos públicos, dois bancos privados nacionais e um banco privado de capital estrangeiro. A nossa proposição determina que nenhuma instituição financeira bancária ou não bancária poderá oferecer mais do que 10% das operações de crédito do sistema financeiro nacional ou o total de 3% do PIB do ano anterior. No Brasil, a diferença entre o juro que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele paga ao captar dinheiro é a maior do mundo. Essa nossa medida traz limites, tamanho máximo para cada entidade possa ter, para que assim possamos garantir o dobro de atores relevantes no mercado e consequentemente levar à redução das taxas de juros.

JC - Como está o andamento da reforma tributária no Congresso Nacional?

AV - Foi criada uma comissão mista para preparar um texto básico para a reforma tributária. São 25 senadores e 25 deputados federais, eu faço parte dessa comissão, mas a expectativa na minha opinião não é muito positiva, porque o Governo Federal ainda não se posicionou com clareza sobre que reforma seria a melhor para o Brasil. O Executivo, a presidência é quem está melhor posicionada para fazer uma avaliação global. Isso seria muito importante para termos uma potencial reforma tributária mais efetiva. Nós vamos fazer nosso trabalho e tentar construir um texto, mas eu particularmente não tenho a expectativa de que a gente consiga avançar tanto, até porque é um ano que o Congresso tem a atividade reduzida por conta das eleições municipais.

JC - Senador, a bancada federal de Sergipe é atuante na defesa dos interesses do Brasil, do Nordeste e de Sergipe?


AV - Apesar de termos, neste ano de 2019, ampliado o volume de recursos disponíveis para trazermos para o Estado através da bancada federal de Sergipe, ela tem um grande problema: falta uma coordenação mais eficiente. Tanto por parte dos integrantes, e aí o coordenador eleito foi o deputado federal Fábio Reis, e o trabalho me parece insuficiente, mas também o governador Belivaldo Chagas precisa se aproximar mais e dialogar com a bancada. Não adianta dialogar somente com dois ou três mais simpáticos que fazem parte do agrupamento político dele e deixar de aproveitar o potencial que a bancada federal tem para resolver problemas reais. Na hora de defender os interesses dos sergipanos isso tem que estar acima de qualquer interesse ou vontade pessoal, ou política do seu partido. Temos que pensar no povo sergipano e é preciso articular melhor a bancada para termos melhores resultados.

JC - Quanto a bancada traz do OGU para SE?

AV - O valor global foi de R$ 394.874.559,00. Isto é, a bancada teve o valor total de R$ 219.529.565,00. E, individualmente, cada parlamentar teve R$ 15.940.454,00.

JC - O Cidadania está bem organizado em SE? Em quantos municípios?
AV - O partido Cidadania vem avançando na sua estruturação em todo o Estado. Já são 34 diretórios municipais montados, em pleno funcionamento. E uma expectativa muito positiva de que você possa participar de uma forma transformadora na política sergipana, nas cidades do interior e na capital.

JC - Tem quantos prefeitos, vices e vereadores? Quer eleger quantos em 2020?
AV - Atualmente são quatro deputados estaduais atuantes na Assembleia Legislativa de Sergipe. Estamos reestruturando o partido e teremos candidatos a prefeito em mais de 20 municípios.

JC- A delegada Danielle é forte candidata à Prefeitura de Aracaju? Por quê?
AV - A delegada Danielle Garcia é uma candidata forte porque o povo de Aracaju quer mudança, quer gente que tenha capacidade, coragem e seriedade para fazer aquilo que é necessário para resgatar a qualidade de vida do aracajuano e passar a limpo uma prefeitura que está na mão da mesma turma há muito tempo e é uma turma que já mostrou como trabalha e o que é negativa para o nosso povo. É nisso que reside a força da pré-candidatura de Danielle Garcia. 

JC - O Cidadania entra em campanha em 2020 pensando em 2022? Em outras palavras, o senhor pensa em ser candidato a governador?
AV - Não, o foco em 2020 é garantir bons candidatos por eleitores sergipanos que vão escolher prefeitos e vereadores. Essa é a missão de 2020. Ninguém está preocupado ou fazendo conta, ou acordo, pensando em 2022. As eleições de 2022 serão uma outra jornada e é preciso respeitar a vontade e a necessidade do cidadão, que precisa de bons vereadores e bons prefeitos. E o Cidadania se apresenta para poder atender essa necessidade

JC - Quais são os partidos aliados do Cidadania em 2020? O PSDB vai entrar no grupo?
AV - O nosso grupo original reúne o Cidadania, o PMN, o Partido Novo, que é um eventual parceiro e não terá candidatos nesse pleito de 2020, por decisão do seu diretório nacional. E estamos conversando com vários outros partidos, é muito natural que quando você tem uma pré-candidatura majoritária extremamente competitiva e que tem potencial para ser vencedora outros partidos procurem se aproximar de alguma forma. A gente vem conversando com vários partidos e a nossa regra é muito simples, o limitador é muito claro. Ninguém de ficha suja vai subir nesse palanque. Isso é muito claro, muito objetivo e será cumprido à risca. Mas feita essa ressalva, todos aqueles que querem mudar Aracaju e seus municípios de verdade são muito bem-vindos.