08/09/2020 as 09:38

ENTREVISTA

Paulo do Eirado: ‘O estrago é grande após cinco meses de custos fixos e nenhum faturamento’

Nesta edição, o Jornal da Cidade conversou com o superintendente do Sebrae em Sergipe, que apresentou um panorama sobre a situação das empresas no Brasil e aqui no Estado

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Além do triste e lamentável saldo de mortes, a pandemia gerada pela Covid-19 vem deixando também um impacto profundo na economia brasileira. Nesta edição, o Jornal da Cidade conversou com o superintendente do Sebrae em Sergipe, que apresentou um panorama sobre a situação das empresas no Brasil e aqui no Estado. Paulo falou sobre a importância da inovação e da presença no Ambiente Digital como forma das empresas conseguirem voltar à ativa, além de registrar também sua visão sobre pontos que serão importantes neste momento de retomada. Confira abaixo a entrevista completa.

JORNAL DA CIDADE – Como a pandemia da Covid-19 atingiu os empresários sergipanos? Qual foi o estrago?
PAULO DO EIRADO - Os impactos da Covid-19 atingiram os negócios de maneira global. Com a interrupção do funcionamento no mercado, muitas empresas tiveram quedas no seu faturamento, suspenderam contratos de trabalho e aumentaram os índices de endividamento ou empréstimos em atraso. Naturalmente, em Sergipe, tivemos um reflexo dessa pandemia na rotina dos empresários e da sociedade como um todo. De maneira geral, a Covid-19 forçou as empresas a se adaptarem para manter a saúde financeira e a própria sobrevivência do seu negócio. O estrago é grande após cinco meses de custos fixos e nenhum faturamento, em muitos casos.

JC - As micro e pequenas empresas sofreram mais? Qual foi o impacto para elas?
PE - O prejuízo econômico da pandemia atingiu todo o mercado, envolvendo tanto as micro e pequenas, quanto as empresas médias e de grande porte. Contudo, as pequenas empresas, como sempre, sofreram mais. Os primeiros dois meses da crise, principalmente, geraram resultados muito negativos para os negócios devido à paralisação das atividades e consequente redução de consumo. A queda no faturamento foi, sem dúvida, o grande impacto dessa pandemia para os pequenos negócios. A necessidade de se reinventar foi um desafio, bem como a adoção das ferramentas digitais na rotina de trabalho.

JC - Quais suas sugestões para os empresários que resistiram e estão reabrindo seus negócios neste momento?
PE - Estamos em um gradual processo de retomada, mas é importante frisar que a pandemia ainda não acabou. A Covid-19 ainda ronda nossas vidas. Aqueles que estão reabrindo os seus negócios, respeitando às decisões do governo local, devem estar atentos aos protocolos de segurança para um funcionamento seguro nesse momento e porque assim querem os clientes. É preciso cautela e organização para enfrentar essa situação e não retroceder. Além disso, o empresário deve aproveitar a experiência com as ferramentas digitais para expandir as possibilidades de mercado e conquistar mais e novos clientes.

JC - Como administrar os débitos e passivos que as empresas adquiriram neste período? Empréstimos podem ser boas opções?
PE - Precisamos de crédito justo para apoiar as pequenas e micro empresas. Elas são as maiores geradoras de empregos do país e devem ser respeitadas dentro da sua realidade. Temos que tratar diferentemente essas empresas. Sou a favor de se classificar empresas por grupos de risco, assim como fazemos com as pessoas físicas, e dar tratamento especial a estas. Seja tributário, creditício, acesso a mercados etc. Uma microempresa que faz transporte escolar, por exemplo, continua com os compromissos de financiamento do carro, IPVA, seguros, dentre outros; impedida de funcionar por força de lei. Semelhantemente, eventos, turismo em geral, creches, para citar alguns. Temos que agir rapidamente. 

JC - Como conseguir seguir em frente neste momento? Qual a importância da inovação, que o senhor citou?
PE - Inovar é, justamente, oferecer novas possibilidades. Numa crise, que gera impactos financeiros, é preciso encontrar novas maneiras de conduzir o negócio e de oferecer aos clientes novas ofertas. Isso é inovar. Esse é um momento do empresário avaliar as mudanças e adequações que a pandemia exigiu na sua rotina produtiva, a exemplo da conversão para o digital. Inovar para gerar valor para o cliente e ser referência.

JC - Algumas empresas foram forçadas a ingressarem no comércio online durante a pandemia e agora retornam apenas ao modo presencial. Como o senhor avalia isso?
PE - Primeiramente, é preciso entender que o comércio online não é uma tendência, mas já é uma realidade que se tornou ainda mais evidente ao longo dessa pandemia. O mercado consumidor é exigente e quer comodidade. Ele gosta e sente mais confiança quando sua empresa tem presença no online. Nesse período, houve um crescimento do número de empresas que passaram a realizar vendas por aplicativos e redes sociais, por exemplo. Na retomada, muitas empresas estão se reorganizando na sua logística presencial e isso pode fazer com que algumas pareçam ter relaxado o trabalho digital. Porém, as relações comerciais mudaram. O digital está se consolidando e o empresariado que não se adequar poderá sentir os impactos competitivos. A palavra de ordem é adaptabilidade.

JC - Ainda há risco de mais fechamentos de empresas, ainda como consequência da pandemia?
PE - Uma pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas com o Sebrae tem demonstrando uma diminuição no percentual de empresas que tiveram quedas no seu faturamento e isso tem refletido na saúde financeira desses negócios, já que também se identificou a diminuição de empresários com empréstimos e dívidas com atrasos. É possível que nos próximos meses esses indicadores continuem melhorando e tragam resultados que consolidem a real retomada da economia e distanciando cada vez mais a possibilidade do fechamento de empresas. Mas a ação dos governos na economia é que define esse ambiente com a circulação de dinheiro.

JC – Quais os dados mais precisos sobre o desemprego gerado neste período?
PE - O índice de desemprego segue, mas num ritmo menor. Houve uma leve queda do número de demitidos por empresa em junho, após dois meses de estabilidade. Isso pode indicar que após ajuste no tamanho das equipes em virtude da crise as empresas vêm mantendo suas equipes. É interesse reforçar que o empresariado tem adotado diferentes estratégias para evitar demissões. Um levantamento do Sebrae/FGV aponta que 43% deles suspenderam o contrato de trabalho dos funcionários durante a crise, enquanto 26% reduziram a jornada com a respectiva redução de salários e 16% deram férias coletivas. Melhor do que medir taxa de desemprego, que é subjetiva, é medir a variação do número de postos de trabalho de carteira assinada, porque este é um número objetivo sobre o emprego.

JC - Já existem perspectivas de novas contratações? Os empresários vão contratar, já estão contratando?
PE - No Brasil, a retomada nas atividades vem acontecendo de modo lento e os empresários estão com o desafio de reorganizar o seu negócio e recuperar a saúde financeira prejudicada pela pandemia. É possível que as contratações em massa e nos mesmos padrões que antes da Covid-19 não aconteçam de imediato. Até a distribuição da vacina acontecer, os processos acontecerão de forma gradual e com todo o cuidado possível. Mas a micro e pequena empresa é muito ágil e pode surpreender positivamente, conforme acredito.

Por Max Augusto
Foto: Divulgação