22/07/2025 as 08:51

GORETTI REIS

“Estamos tirando a saúde de Lagarto do abandono e construindo um polo regional”

A secretária Goretti Reis detalha os avanços dos primeiros seis meses de gestão, que incluem centenas de cirurgias oftalmológicas, fortalecimento da reabilitação e mais de mil atendimentos

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Por Mayusane Matsunae 

A secretária Goretti Reis detalha os avanços dos primeiros seis meses de gestão, que incluem centenas de cirurgias oftalmológicas, fortalecimento da reabilitação e mais de mil atendimentos no plantão mulher. Com formação em enfermagem e mestrado em ciências da saúde, além da experiência como deputada estadual, ela conta, nesta entrevista para o Jornal da Cidade, que promete transformar lagarto em referência regional com a construção de três UBSS, CAPS infantil, upa 24h e o novo Hospital de Amor, que atenderá pacientes oncológicos de quatro estados. Confira a seguir:

JORNAL DA CIDADE - A senhora tem uma longa trajetória na vida pública, tanto como gestora da saúde quanto como deputada estadual. De que forma essa bagagem influencia, hoje, o seu trabalho à frente da Secretaria da Saúde de Lagarto?
Goretti Reis – Essa experiência traz segurança para decidir, para definir papéis, protocolos, o que precisa ser implementado para que os processos de trabalho aconteçam de forma mais ágil, mais resolutiva. Com isso, você consegue envolver a equipe, fazer com que percebam que há um perfil de liderança à frente. Alguém com vivência e experiência que oferece suporte, subsídios para que a equipe também possa avançar com segurança, sabendo que estão no caminho certo. Acredito que tudo isso influencia muito, oferecendo base e direcionamento para que a equipe conduza melhor seu próprio processo de trabalho.

JC – Nesses primeiros seis meses, a senhora liderou ações na saúde, como a realização de centenas de cirurgias oftalmológicas e o fortalecimento da reabilitação no CER III. Como essas ações foram estruturadas?
GR – Os impactos disso são muito significativos, especialmente quando falamos, por exemplo, de cirurgias oftalmológicas. Pessoas que já estavam sem conseguir enxergar tiveram, agora, a oportunidade de voltar a ver, e é emocionante acompanhar a felicidade dessas pessoas. Também temos os casos de famílias que, há muito tempo, buscavam atendimento para seus filhos, como crianças autistas que não tinham acesso a um neuropediatra. Hoje, já contamos com esse profissional na rede, além de diversos outros que estão em atividade. É claro que ainda enfrentamos uma demanda muito alta. O número de registros e de atendimentos relacionados a crianças com TDAH e autismo é grande, e reconhecemos que ainda não temos o número ideal de profissionais para atender a essa necessidade. Mas estamos avançando. Estamos na fase de construção do CAPS Infantil; o projeto já está em processo de licitação. Com ele, vamos poder oferecer um serviço de maior qualidade, com um espaço físico mais adequado, mais amplo, e, assim, estruturar melhor nossa rede de cuidados.

JC – O que iniciativas como o Plantão Mulher representa para a saúde pública de Lagarto?
GR – Essa pauta sempre esteve presente na minha vida, e seguiremos defendendo esse olhar sensível, esse cuidado com as mulheres. Acredito que precisamos priorizar muitas ações e condutas voltadas à saúde feminina, à qualidade de vida da mulher. O Plantão Mulher foi um exemplo claro desse compromisso. Em apenas três meses de gestão, conseguimos organizar esse evento logo no início, estruturando um atendimento que beneficiou mais de mil mulheres. O serviço foi tão procurado que se estendeu até depois das 19h. Foram realizados exames de lâmina com resultado imediato, consultas médicas, entrega de medicação, ultrassonografias e várias outras atividades — tudo isso graças a uma parceria com a Carreta da Saúde do Estado, que trouxe ainda mais suporte à ação. Isso mostra o compromisso que temos com as mulheres. E não há dúvida: o Centro de Referência da Mulher será um verdadeiro exemplo. Estamos construindo uma linha de cuidado específica para o atendimento à mulher. Essa linha virá com toda a garantia de acesso aos exames de pré-natal, às ultrassonografias e a todos os diagnósticos necessários para acompanhar uma gestação de risco com segurança e atenção em cada etapa. Mas o cuidado vai além da gestante. Pensamos também nas mulheres que precisam de exames como colposcopia, citologia, ultrassonografias de rotina. Teremos um serviço específico, com estrutura adequada, para que todas possam ter um espaço de acolhimento e um atendimento digno, humanizado e de qualidade.

JC – A construção de três UBSs, de um CAPS Infantil e da UPA 24h representa o quê para o sistema de saúde do município?
GR – As gestões anteriores deixaram essas obras paradas, sem continuidade no sistema, e havia um risco real de perdermos esses recursos se não tivéssemos agido rapidamente. Foi necessária uma força-tarefa. Corremos atrás dos projetos, da definição de espaços físicos, da regularização de terrenos. Contamos muito com o apoio da Secretaria de Obras e de todas as equipes de engenheiros para conseguir avançar. Hoje, essas obras já foram licitadas e, em breve, esperamos emitir a ordem de serviço para o início das construções. Agora, com prédios construídos dentro dos padrões exigidos pelo Ministério da Saúde, como o tamanho adequado das salas e estruturas necessárias, o município terá muito mais segurança e autonomia. Teremos unidades com capacidade para abrigar até três equipes de Saúde da Família, além da construção do CAPS Infantil, que será uma conquista enorme. Ele vai permitir o atendimento especializado para crianças com transtornos mentais, inclusive autistas, oferecendo acolhimento e cuidado em um espaço estruturado, pensado para essas necessidades. E a UPA, então, nem se fala! Lagarto precisa urgentemente de uma Unidade de Pronto Atendimento. Hoje, o que temos funcionando é um ambulatório, de forma muito precária, porque não conta com a estrutura adequada que uma UPA exige. Mas o projeto da nova UPA está belíssimo. Em breve, tenho certeza de que o prefeito dará a ordem de serviço e definirá os espaços para início da obra. A UPA também contará com uma sala de acolhimento exclusiva para mulheres vítimas de violência, o que reforça nosso compromisso com o cuidado e a humanização. 

JC – Em sua avaliação, o que diferencia a atual gestão da saúde de Lagarto das anteriores?
GR – A avaliação que faço, ao observar o cenário que encontramos, é de um verdadeiro abandono. As estruturas físicas estavam sucateadas, com equipamentos enferrujados, como no próprio CAPS AD, onde as paredes estavam completamente rachadas. Era visível o descaso, o abandono real. O que existia era uma maquiagem: muitas imagens positivas circulando, vendendo uma ideia de gestão eficiente, mas que, na prática, não se confirmava. Faltavam materiais, faltavam medicamentos, faltavam profissionais ou mesmo acesso a esses profissionais. Era uma gestão de aparência, não de efetividade. Hoje, o que vemos é um trabalho pautado por princípios claros: responsabilidade, seriedade, ética e compromisso.

JC – Quais são as prioridades da Secretaria de Saúde para o segundo semestre de 2025?
GR – No segundo semestre, com certeza, queremos trazer ainda mais melhorias para a nossa comunidade. Através das emendas parlamentares, vamos realizar diversos mutirões de acesso a serviços, exames e consultas, muitos deles com filas antigas acumuladas nos sistemas. Estamos agilizando esses atendimentos para melhorar, de fato, o acesso da população aos serviços de saúde. Já temos observado avanços importantes, principalmente nas marcações de exames e consultas, que antes apresentavam muitas dificuldades. Hoje, já conseguimos ver uma maior rapidez na oferta desses serviços, e a perspectiva para o segundo semestre é de melhorar ainda mais, com a realização de diversos mutirões e procedimentos aqui mesmo no município, evitando deslocamentos desnecessários para Aracaju. Essa é uma expectativa muito grande: dar respostas concretas à população em relação ao acesso aos serviços. No campo da infraestrutura, também teremos importantes avanços. Esperamos dar início às obras e reformas de várias unidades. Já firmamos um contrato para manutenção da nossa rede de estruturas de saúde e, com certeza, vamos inaugurar, em breve, o serviço do CTA e também o Laboratório Municipal. Além disso, no segundo semestre, vamos reabrir todos os serviços de especialidades médicas na antiga sede da Associação, onde funcionava a Maternidade Monsenhor Daltro. Lá, será instalado um verdadeiro complexo de especialidades, reunindo serviços como odontologia, especialidades médicas e o Centro de Atendimento à Mulher, tudo em um só espaço. Isso vai facilitar muito a vida das pessoas, concentrando o atendimento especializado em um único local de referência. Também vamos iniciar a manutenção de unidades que se encontram sucateadas, como o nosso Centro de Zoonoses. No serviço do Maroto, por exemplo, a estrutura precisa ser urgentemente melhorada. Faremos uma reforma completa ali, até que a nova UPA fique pronta. E vamos cuidar de outras Unidades Básicas de Saúde que, hoje, estão em estado precário, com paredes rachadas e condições insatisfatórias.

JC – Lagarto celebrou a entrega do Hospital de Amor. Como a senhora avalia o impacto desta nova unidade?
GR - Lagarto, hoje, é um polo universitário e está se consolidando como referência em saúde, especialmente com esse hospital especializado em oncologia. Temos outros hospitais na região que também estão crescendo e agregando serviços, o que fortalece ainda mais Lagarto como um futuro polo de saúde, uma macrorregião que poderá oferecer serviços e respostas de qualidade para a população local. O grande diferencial é que, com essa parceria e organização da rede de saúde, poderemos resolver muitas demandas aqui mesmo, no território, tornando a cidade menos dependente dos serviços de referência em Aracaju. Para Lagarto, isso representa um ganho significativo. Teremos um espaço onde será possível realizar todo o tratamento oncológico dos pacientes no próprio município, evitando o deslocamento até Aracaju, que, hoje, ainda é necessário para casos novos, enquanto os que estão em tratamento continuam seus procedimentos fora. Além disso, esse hospital não atenderá apenas o estado de Sergipe. Já existe uma pactuação com quatro estados, abrangendo municípios da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Isso faz com que o Hospital do Amor se torne uma referência regional para atendimento e contrarreferência em quimioterapia, radioterapia e procedimentos cirúrgicos oncológicos. Esse é um avanço muito significativo para a área de oncologia.