Breno Garibalde: “Crescer sem planejamento é condenar a cidade ao caos”

Com pautas que vão desde a defesa da mobilidade ativa ao planejamento urbano sustentável, o vereador Breno Garibalde tem se destacado nos debates mais relevantes da Câmara Municipal de Aracaju. Relator da CPI do Natal Iluminado, ele acompanha de perto os desdobramentos da investigação sobre o evento de 2024, ao mesmo tempo em que defende melhorias estruturais para a capital sergipana, como mobilidade urbana, preservação ambiental e qualidade de vida. Nesta entrevista exclusiva ao JORNAL DA CIDADE, Breno fala sobre os avanços da CPI, os desafios do crescimento desordenado de Aracaju e os projetos que têm aproximado a população dos espaços públicos.

JORNAL DA CIDADE - Vereador, o senhor é relator da CPI do Natal Iluminado. Quais têm sido os principais pontos levantados até agora pela Comissão e o que a população pode esperar desse trabalho?

BRENO GARIBALDE - A CPI foi criada para apurar com transparência todos os aspectos relacionados à execução do Natal Iluminado de 2024. Até aqui, já aprovamos requerimentos importantes e estamos reunindo documentos que vão nos permitir entender com clareza como foram feitos os contratos, a utilização dos recursos públicos e a execução do evento. Sobre os requerimentos de documentos e informações, o prazo é de 15 dias e ainda está contando. Tem mais uma semana para que esses documentos cheguem até a Câmara, para podermos nos debruçar sobre eles e, a partir disso, ver quem é que vamos convocar para depor. A próxima reunião que dará andamento à CPI, será na terça-feira (02/09), às 14h, no plenário da Câmara.Nosso compromisso é entregar um relatório consistente, baseado em fatos e dados, para que a população tenha a segurança de que a Câmara está cumprindo seu papel fiscalizador. O objetivo não é apenas apontar eventuais falhas, mas também contribuir para que as próximas edições do Natal Iluminado sejam mais transparentes.

JC - Como o senhor enxerga a relação entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental na nossa capital?

BG - O desenvolvimento urbano só pode ser considerado verdadeiro progresso quando respeita o meio ambiente. Aracaju possui ecossistemas valiosos — como rios, manguezais e áreas verdes — que precisam ser preservados. É fundamental que os projetos urbanos contemplem práticas sustentáveis, incluindo arborização, drenagem adequada, acessibilidade e uso de soluções energéticas mais eficientes. O equilíbrio entre crescimento e preservação é indispensável. Se a cidade cresce sem o devido planejamento, quem sofre é a comunidade. A Zona de Expansão, por exemplo, é uma região que está crescendo sem nenhum planejamento urbano, e os impactos disso são muito graves. Lagoas de drenagem naturais estão sendo aterradas em favor da especulação imobiliária. No Jabotiana, arvores sendo derrubadas também por conta da construção de novos condomínios. Eu não sou contra o desenvolvimento, sou contra a falta de planejamento em favor desse desenvolvimento.Infelizmente a gente vive as gestões para resolver problemas, e muitos deles poderiam ser evitados com um bom planejamento de cidade.

JC - Como o senhor avalia os principais desafios de Aracaju hoje em termos de urbanismo e qualidade de vida?

BG - Aracaju possui um enorme potencial de crescimento, mas enfrenta dificuldades importantes em infraestrutura e mobilidade urbana. O desafio é garantir que esse desenvolvimento seja equilibrado e inclusivo, contemplando tanto o centro da cidade quanto as áreas periféricas. O urbanismo deve ser participativo e precisa convidar a população para dizer o que espera da cidade, afinal são as pessoas que moram nela, que devem opinar e ajudar nessa construção. É isso que eu prezo, foi isso que aprendi durante todos os meus anos de estudo e é isso que eu quero para a cidade que tanto amo.Precisamos de um urbanismo que proporcione serviços de qualidade, espaços públicos atrativos e transporte eficiente, assegurando uma melhor qualidade de vida para todos os aracajuanos.

JC - O senhor acredita que Aracaju está preparada para crescer de forma sustentável nos próximos anos?

BG - Acredito que Aracaju tem potencial para isso, mas será necessário planejamento consistente e de longo prazo. Se não houver uma estratégia clara, corremos o risco de enfrentar os mesmos problemas urbanos que outras capitais vivenciam. Defendo que a expansão da cidade seja conduzida com respeito às comunidades, incentivo à habitação digna, mobilidade inteligente e, principalmente, integração entre o poder público, os técnicos especializados e a sociedade civil. Infelizmente, nesse sentido, Aracaju vem caminhando a passos lentos. Prova disso, é o nosso Plano Diretor que é do ano 2000 com estudos feitos em 1995. São mais de 25 anos de atraso, e isso têm causado consequências irreparáveis para a nossa cidade em setores como saúde, educação e mobilidade urbana ao longo dos anos.

JC - Recentemente o senhor tem levantado debates sobre mobilidade urbana. O que considera essencial para reduzir os acidentes e melhorar o transporte em Aracaju?

BG - Para enfrentar esse desafio, é necessário agir em três frentes: educação para o trânsito, infraestrutura adequada e eficiência no transporte público. Precisamos pensar a mobilidade não apenas sob a ótica dos veículos particulares, mas também priorizar pedestres e ciclistas. A ampliação da malha cicloviária, a modernização da sinalização e a oferta de transporte coletivo mais eficiente são medidas fundamentais para reduzir acidentes e garantir maior segurança. É preciso priorizar o transporte coletivo, valorizar o pedestre e incentivar o uso de modais alternativos, como a bicicleta. Além disso, campanhas educativas permanentes e investimentos em segurança viária são indispensáveis para construir um trânsito mais humano, onde a vida esteja sempre em primeiro lugar. Retomando a pauta transporte público de qualidade, não deveria haver cobrança de passagem para as pessoas. Deveria ser público de verdade! A tarifa zero é algo que precisa ser discutido urgentemente e é possível! Eu mesmo contratei um estudo que comprova essa viabilidade e divulgaremos no final de setembro. Não dá mais para termos uma passagem cara e um sistema de péssima qualidade. A mobilidade só vai funcionar de fato com todos os modais funcionando bem e de forma conectada!

JC - Como avalia a relação da Câmara Municipal com a Prefeitura em termos de parceria para execução de projetos?

BG - A Câmara tem a responsabilidade de fiscalizar e propor soluções, mas também de manter um diálogo aberto com a Prefeitura. Essa parceria é essencial para transformar propostas em ações concretas que beneficiem a cidade. Tenho buscado manter uma relação de cooperação responsável, com espírito crítico e propositivo, sempre no intuito de fazer com que os projetos avancem e tragam melhorias reais para a vida dos aracajuanos.

JC - O projeto Ruas Vivas já é lei em Aracaju. Como tem sido a recepção da população? Há previsão de expansão? 

BG - Sim, o Projeto Ruas Vivas já está em vigor como lei municipal. Fico feliz em dizer que a recepção da população tem sido muito positiva. Desde 2023 realizamos essa ação em diversos bairros da nossa cidade com programação gratuita que incluiu apresentações culturais, oficinas e área kids. Em todas as edições já realizadas a comunidade compareceu em peso, comprovando a aprovação do nosso projeto. Uma iniciativa que vem proporcionando momentos de lazer e cultura nas ruas, que precisam ser ocupadas pelas pessoas. Inclusive neste sábado, 30, acontece mais uma edição do Ruas Vivas, no Parque Diamante, localizado no bairro Ponto Novo. Quero aproveitar para convidar os aracajuanos para participar! Teremos feirinha de artesanato e produtos locais, roda de samba, apresentação do grupo Batalá. Além disso, aferição de pressão e glicemia e atendimento destinado à causa animal. Vai ser mais uma ótima oportunidade para que os aracajuanos possam aproveitar o que a cidade oferece. Bora nessa!