17/10/2018 as 10:41
SaúdeMas especialista sergipano não vê aumento exagerado nas cesarianas.
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Estudo divulgado no periódico científico The Lancet analisou 169 países referentes ao ano de 2015 e chegou-se à conclusão que a proporção de cesáreas no período cresceu de 16 milhões de nascimentos em 2000, 12% do total, para 29,7 milhões em 2015 (21%). A República Dominicana é o país com a maior taxa, 58,1%. O Brasil e o Egito vêm em seguida, com taxa de 55,5%. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa ideal de partos cesáreos deveria oscilar entre 10% e 15%.
Para o médico especialista em Ginecologia e Obstetrícia, ultrassonografista e professor da Universidade Federal de Sergipe, Paulo César de Andrade Gomes, o aumento de cesarianas tem sido crescente não só no Brasil, mas em todo o mundo. Ele informa que, em média, a taxa de cesáreas hoje na Europa é de 25%, contra 15% há 20 anos. Já nos EUA a taxa é de 32,8% e no Brasil está em 55%.
“O número de cesáreas no serviço público brasileiro está em torno de 40% a 44%, enquanto que nas clínicas privadas é de 80% a 85%, sendo que o recomendado pela OMS é de no máximo 15%. E atualmente a Holanda é o único país que está dentro do recomendado. Quando eu estagiei na Alemanha, na década de 90, a taxa de cirurgias era de 11%. Hoje está entre 23% e 24%”, diz.
Na concepção do médico, não houve aumento exagerado. “Com a melhoria dos métodos de diagnóstico, mais partos cesáreos têm sido realizados por conta do risco de sofrimento feral, o que ocorre muito na população que não tem muito acesso. Essa é uma das razões do aumento”, explica.
Outro ponto, segundo Paulo César, é que a mulher deixou de ser dona de casa para ocupar postos no mercado de trabalho e isso tem adiado a gravidez. Com isso, quanto mais ela estiver acima da faixa etária, mais o bebê corre risco de problemas cromossômicos, por exemplo. “Além disso, as comorbidades como diabetes, hipertensão e os extremos reprodutivos, como uma mulher com idade acima de 35 anos, tem mais incidência de ter cesárea. Outro motivo também é o medo do parto normal”, acrescenta.
Ainda segundo o médico, há certo exagero sobre o parto normal. “Quem vai dizer se será parto normal ou cesáreo são os exames clínicos pré-natais. Pode haver complicações como a redução do líquido amniótico, por exemplo, onde será necessário fazer a cirurgia. Por isso, por mais que haja uma vontade pelo parto normal ou cesárea, os exames é que vão indicar qual será a via”, disse o obstetra, acrescentando ainda que outro fator a ser levado em consideração é a fertilização in vitro.
“Nas gestações por fertilização in vitro, onde pode haver gestação tripla, ninguém vai arriscar um parto normal de trigêmeos, por conta desses fatores: melhora do diagnóstico, fertilização in vitro, postergação da gestação, medo e comorbidade. São fatores que fazem com que a incidência de cesáreas aumente no mundo”, concluiu Paulo César de Andrade Gomes.
Grecy Andrade/Equipe JC