22/01/2019 as 11:14

Otorrino

Especialista alerta para cuidados no verão

Na estação mais amada pelos brasileiros e sergipanos, é comum que aumentem os casos de otites externas.

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Especialista alerta para cuidados no verão

No verão, a maioria das pessoas intensifica os cuidados com a pele, usando com mais intensidade o protetor solar, por exemplo, mas é raro observar aqueles que se preocupam em proteger os ouvidos. Na estação mais amada pelos brasileiros e sergipanos, é comum que aumentem os casos de otites externas.


De acordo com o otorrinolaringologista pela Universidade de São Paulo (USP), membro da Clínica Otocenter em Aracaju, Dr. Daniel d’Avila, a manipulação do canal auditivo externo após banhos ou mergulhos em mar, rio ou piscina é principal fator associado às otites externas nesta época do ano.


“Basicamente, existem dois tipos de otite, a otite média, que acomete a orelha média, do tímpano para dentro; e a otite externa, que acomete do tímpano para fora. A otite externa é um processo inflamatório/infeccioso da pele que reveste o canal externo do ouvido, causada predominantemente por bactérias, tendo como sintoma principal a dor de ouvido, que pode ser bastante intensa. E a evolução da doença pode ocorrer em questão de horas a dias, por isso que é classificada como aguda, otite externa aguda”, explica.

A otite externa aguda ocorre ao longo de todo o ano. Porém, no verão, as pessoas costumam ir mais para as praias, rios e piscinas. E tomam muito banho, mergulham para se refrescar, especialmente as crianças, que ficam, muitas vezes, horas e horas brincando com água. De acordo com o otorrinolaringologista, o contato prolongado com a água é um dos fatores predisponentes para essa doença porque favorece uma maceração da pele do conduto do ouvido (“pele enrugada” na água, como acontece com os dedos das mãos, por exemplo), deixando a pele mais frágil. Além disso, a água remove secreções protetoras do ouvido, que é o cerume, produzindo uma alteração no pH do ouvido (deixando-o mais alcalino), o que favorece um processo inflamatório/infeccioso nesta região.

Ainda segundo Dr. Daniel d’Avila, se a água entrar nos ouvidos, não se pode mexer de forma alguma dentro do canal auditivo. “A pele do ouvido já está sensível por causa do contato com a água. O que pode ser feito é inclinar a cabeça para o lado que está sentindo o incômodo e esperar a água sair. Se não resolver, eu costumo recomendar aos meus pacientes que pingue uma a duas gotas, no máximo, de álcool etílico a 70%, aquele que vende em farmácia. Quando se colocam essas gotas, fica mais fácil de evaporar a água que acumulou lá dentro. Mesmo assim, se a sensação de ouvido tampado persistir após uma hora ou se tiver dor ao colocar o álcool, recomendo uma avaliação com otorrinolaringologista”, orienta.
No verão, uma das grandes reclamações das pessoas é a sensação de ouvido tampado de forma persistente, e muitas nem imaginam que a causa do problema é o cerume, popularmente conhecido como “cera do ouvido”, uma mistura de descamação da pele do conduto auditivo externo junto às secreções das glândulas sebáceas desta região, formando geralmente uma substância pastosa de coloração amarelo claro a marrom escuro. E quando existe a entrada de água dentro do ouvido, pode causar um problema chamado cerume impactado.

“O cerume funciona como uma barreira protetora e lubrificante do ouvido. Naturalmente, há uma eliminação constante e lenta desta ‘cera’ através do canal do ouvido, mas, em algumas pessoas ocorre um desequilíbrio entre a produção e eliminação do cerume, causando um acúmulo fechando todo o conduto auditivo externo, o que chamamos de cerume impactado ou ‘rolha de cera’. Um dos fatores desse desequilíbrio é justamente a entrada de água dentro do ouvido. Imagine só que a cera está sendo produzida e está a caminho de sair do canal auditivo e, de repente, quando a pessoa vai mergulhar, a água empurra todo cerume para dentro, ocluindo o canal. O grande erro é tentar manipular o ouvido por conta própria para resolver esse problema. Se cutucar o ouvido com cotonete, por exemplo, e tiver um cerume ocluindo o canal, o que era apenas uma sensação de ouvido tampado pode evoluir para dor de ouvido, com possibilidade de inflamação/infecção, ou seja, de ter uma otite externa aguda”, destaca.

Prevenção
Para prevenir esse tipo de otite, é recomendado evitar banhos/mergulhos prolongados. Se não for possível evitar, como no caso de nadadores profissionais, pode-se utilizar protetores auriculares ao nadar. “Além disso, a melhor forma de prevenção dessa doença é não manipular/coçar de forma alguma os ouvidos. Remover o cerume obstrutivo (impactado) também ajuda a prevenir esta condição, pois evita retenção de água dentro do conduto. Lembrando que esta remoção deve sempre ser realizada por profissional médico capacitado”, afirma.

Procurar um Otorrino aos primeiros sinais e sintomas de otite é fundamental para evitar a evolução da doença. Quando o tratamento é iniciado nos primeiros dias de apresentação da otite, é muito raro ter uma complicação mais grave. Mas ela pode ocorrer, principalmente, em pacientes diabéticos ou com algum tipo de deficiência do sistema imunológico, nosso sistema de defesa. As complicações que mais preocupam são aquelas em que há disseminação da infecção para as cartilagens da orelha, para a orelha média, para o osso, para a face e quando há formação de abscessos.
Na grande maioria dos casos de otites externas agudas o tratamento não é complicado. “O tratamento é simples e consiste em aplicar medicações tópicas no ouvido (gotas) e tomar anti-inflamatórios e/ou analgésicos. Além disso, não é permitido molhar o ouvido durante o período de 7 a 10 dias ou até resolução do quadro, inclusive tem que proteger o ouvido para não molhar durante o banho de chuveiro no dia a dia. Raramente, é preciso tomar antibiótico por boca. E algumas vezes, o Otorrino precisa retirar o excesso de secreção da infecção que é produzida na orelha para que as gotas otológicas possam ter um melhor efeito”, conclui.
Vale ressaltar que no verão há pessoas que, até mesmo sem saber, tomam banho em água contaminada. Os estudos mais recentes não mostram uma relação direta entre nível de contaminação da água com maior chance de ter otite. Contudo, por outras questões de saúde em geral, não é recomendado o banho em águas com suspeita de contaminação.