24/01/2019 as 10:07

Drama

Falta de remédios prejudica pacientes

JORNAL DA CIDADE mostra há meses o drama de pacientes com câncer que dependem dos medicamentos do Sistema Único de Saúde

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Falta de remédios prejudica pacientes

 

Pacientes oncológicos que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) de Sergipe, alguns em estado avançado da doença, estão desesperados com a falta recorrente de medicamentos no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). Em alguns casos, os remédios estão há cerca de 60 dias em escassez, segundo denúncias da representante do movimento “Mulheres de Peito”, Sheyla Galba.
Dona Verocínia Alves tem 65 anos de idade e sofre a luta diária contra câncer no pulmão desde 2017. Ela é uma das cinco pessoas do Estado de Sergipe que utiliza o medicamento chamado “Iressa”, que serve como bloqueador para que o tumor não avance para outros órgãos. Segundo a filha de dona Verocínia, Elaine Alves, a situação é de extremo desespero desde o dia em que a senhorinha tomou o último comprimido, 18 de janeiro.


Se trata de um remédio com custo entre 4 e 6 mil reais, e de difícil acesso, pois não vende em farmácias.
“Antes do Iressa, os médicos olhavam para mim e diziam “fique com a sua mãe”, como se estivessem me avisando algo. Quando ela começou a tomar o remédio, ela renasceu. Teve uma melhora tão significativa, que hoje ela consegue ir para a terapia matinal, faz o próprio almoço em casa, faz aulas de artesanato. Então, mesmo com dificuldades e dores, ela conseguiu voltar a fazer muita coisa”, conta Elaine.


A filha diz ainda que já procurou a Secretaria de Estado da Saúde (SES), no entanto, permanece sem previsão de chegada do medicamento. “É algo que não podemos esperar”, disse, em tom de preocupação.

Pior ainda está a situação do senhor Rivaldo dos Santos, de 68 anos de idade, também dependente do Iressa, e está há quase um mês sem o medicamento. “A última vez que ele tomou foi em 30 de dezembro. De lá para cá já são 24 dias sem tomar o remédio. E logo após os 9 primeiros dias sem o medicamento ele começou a ter problemas, com falta de ar, passando mal. Já levamos ele ao pronto-socorro quatro vezes. E quando perguntamos ao governo a previsão de chegada, o que recebemos como resposta é algo indefinido: final de janeiro”, desabafou o filho, Romário Oliveira dos Santos.


O senhor Rivaldo foi diagnosticado com câncer de pulmão há cerca 6 meses, e utilizava o Iressa há três meses. “Ele vinha bem com o medicamento. Estava sob controle. Ele sentia dores, mas, a situação começou a se agravar 9 dias após a falta do uso. E é um medicamento de alto custo, e não é acessível, porque para chegar até ele não é fácil”, disse Romário.


Essa não é a primeira vez que o medicamento falta no sistema público de saúde. “Da primeira vez eu cheguei a fazer uma denúncia no Ministério Público. Porém, a denúncia foi arquivada, pois solucionaram o problema. Mas, eu entrei com ação judicial pedindo a medicação em junho do ano passado e até hoje o processo não foi julgado, pois não consideraram urgente. Fiquei sem entender, porque se trata de uma pessoa que está num estágio de câncer avançado. Se dependesse da justiça, a minha mãe estaria sem a medicação”, lamenta Elaine.


Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informa que a empresa fornecedora do medicamento Iressa comunicou que entregará o remédio no prazo máximo de dez dias. “A SES também informa que está notificando e punindo empresas que não entregam medicamentos dentro do prazo. Já são mais de 30 fornecedores punidos. É importante ressaltar que a SES faz todo o planejamento para compra dos medicamentos, estamos rigorosamente em dia, mas nós temos esbarrado na burocracia. Muitas empresas participam da licitação, vencem a concorrência, e não dão continuidade, ou seja, não fazem a entrega. Aí temos que chamar a segunda colocada. Infelizmente isso leva tempo porque a outra empresa tem que se planejar para fazer a entrega. É uma situação que a secretaria está acompanhando e tomando todas as providências jurídicas cabíveis”, conclui a nota.