24/10/2019 as 11:58

Saúde

Mamografia: exame é pouco realizado em SE

O estudo divulgado este ano catalogou dados do Ministério da Saúde que mostram que aqui em Sergipe, em 2016, apenas 30.288 mulheres realizam o exame

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

O artigo “Difficult Access and Poor Productivity: Mammography Screening in Brazil”, publicado no Asian Pacific Journal of Cancer Prevention, traz um panorama cruel sobre o acesso das mulheres brasileiras ao exame de mamografia, um dos principais procedimentos para o auxílio da previsão precoce do câncer de mama. O estudo divulgado este ano catalogou dados do Ministério da Saúde que mostram que aqui em Sergipe, em 2016, apenas 30.288 mulheres realizam o exame, sendo que o ideal era que 132.580 mulheres tivessem realizado.


Segundo a médica mastologista Paula Saab, o estudo detalha ainda que Sergipe tem apenas 19,8% de índice de cobertura, muito longe dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre os fatores que que contribuem para baixa cobertura mamográfica estão a falta de acesso ao exame, a falta de informação das pacientes, a falta de aparelhos disponíveis, a falta de locomoção das pacientes, a má qualidade dos exames e a falta de rastreamento e controle desses resultados.

“O problema não é a falta de mamógrafos, pela recomendação da OMS deveríamos ter apenas 20 aparelhos, mas temos 26 disponíveis. Ou seja, o número reduzido de exames não está atribuído a falta de mamógrafos, mas a má distribuição geográfica dos aparelhos e a subutilização deles. Com a baixa cobertura mamográfica, a falta de acesso ao exame, consulta, diagnóstico e tratamento, vamos ter uma taxa de mortalidade muito maior. E é isto que vem ocorrendo nas regiões com menor índice de desenvolvimento, a mortalidade está aumentando”, coloca.

A médica frisa que a mamografia diagnóstica, assim como outros exames complementares com finalidade de investigação de lesões suspeitas da mama, pode ser solicitada em qualquer idade, a critério médico. “A mulher não precisa ter a idade mínima para a realização do exame, a qualquer suspeita, a gente pede os exames de rastreamento para ver se há lesão e assim elaborar o plano de tratamento”, disse Paula Saab, acrescentando ainda que é necessário mais engajamento do poder público sobre assunto.

Saab pontua que apenas fazer mamografia não vai resolver o problema, pois não adianta a mulher fazer esse exame e demorar anos para ter um diagnóstico e iniciar o tratamento. “Fazer mamografia não reduz a mortalidade, está faltando distribuição correta e uma rede de gerenciamento e de tratamento eficiente. Sergipe consegue cumprir a lei dos 60 dias (estabelece que o primeiro tratamento oncológico no SUS deve se iniciar no prazo máximo de 60 dias a partir da assinatura do laudo patológico) para apenas 16% dos pacientes. Mas e até chegar esse laudo? Ninguém sabe quanto tempo já se passou”, alerta.

A médica chama atenção que é o Outubro Rosa deve ser utilizado para aprofundar a discussão sobre a estruturação de uma rede de organização dos fluxos de encaminhamento e sobre o tipo de saúde que está sendo ofertado para as mulheres.


“Não vejo uma mobilização social ou um programa de rastreamento da população que necessita realizar o exame. Há uma demanda social muito grande e que muitas vezes não tem acesso a mamografia, população essa que tem uma lesão e suspeita, mas não tem o diagnóstico e o tratamento adequado. Deveríamos aproveitar o Outubro Rosa para falar também sobre políticas de acesso ao tratamento”, concluiu a mastologista Paula Saab.

| Reportagem: Grecy Andrade

|| Foto: Jadilson Simões