23/03/2020 as 09:59

COVID-19

Profissionais da saúde denunciam falta de condições de trabalho durante o combate ao Coronavírus

No interior do estado, há relatos de falta de água em algumas unidades

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Está faltando Equipamento de Proteção Individual (EPI) e até mesmo água em algumas unidades de saúde do Estado de Sergipe, conforme aponta o Sindicato dos Enfermeiros. A presidente da entidade, Shirley Morales, conta que está recebendo diversas denúncias de profissionais da saúde sobre a falta de condições de trabalho neste momento delicado de combate ao novo coronavírus.

Conforme as denúncias, há falta de máscara cirúrgica em alguns locais, bem como álcool em gel. Outras unidades possuem os equipamentos nos almoxarifados, no entanto, os gestores estão limitando a entrega para os profissionais, o que tem causado dificuldades. Segundo Shirley, os Planos de Contingência ainda não foram finalizados, portanto, está ocorrendo muitas flutuações de organização.

“Os EPis estão sendo usados de maneira racional. Temos máscaras cirúrgicas mais simples, e elas têm um tempo de uso de até 4 horas. Mas, se ela sujar, ou umedecer, é necessário fazer a troca. Porém, não está ocorrendo, mesmo quando há necessidade. No Hospital Fernando Franco, e o Hospital de Urgência do Estado, está acontecendo isso. Os gestores só disponibilizam máscaras a cada quatro horas. Mesmo que o profissional sinta a necessidade de trocar antes do horário, ele não vai poder. Essa dispensação do material está causando problemas”, aponta Shirley.

Mas, os equipamentos de proteção, não é a única dificuldade que os profissionais têm relatado enfrentar. Shirley cita que as três unidades de referência que servirão para atender pacientes sintomáticos respiratórios, ou suspeitos de coronavírus, continuam tendo vacinação contra a gripe para idosos, o que pode vir a ser um problema, segundo ela.

“A vacinação foi antecipada, e nós colocamos que precisava ser feita uma organização para não ter aglomeração. Mas, infelizmente, no sábado, às 5h da manhã, já tinha idosos em filas que se formaram nas principais unidades de saúde de Aracaju. São seis equipes de saúde da família nas unidades, e a gestão colocou apenas um profissional enfermeiro e um técnico de enfermagem para fazer vacinação. Têm colegas se habilitando para vir trabalhar, mas, foi negado pela gestão, que alegou ser muito oneroso em termos de extra. Isso resultou na fila enorme de idosos nas unidades centralizadas. Nós avisamos que iria acontecer”, relata Shirley.

Além disso, há problemas de manutenção em ar condicionados das unidades de saúde em todo o Estado, segundo aponta a presidente. Muitos não passam por limpeza há anos, podendo ser um veículo de transmissão em todos os locais.

Há também uma dificuldade de entendimento entre estado e municípios, conforme aponta Shirley, sobre o que vai ser feito, quais serão as unidades de referência, entre outros. “Esses fluxos não estão estabelecidos. Tem município que fez plano de contingência, outros que não. Está tudo muito solto. A rede estadual como um todo está muito solto. Nós solicitamos que houvesse uma reunião de urgência essa semana, e o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju ficou de encaminhar qual seria o dia”, disse.

O Sindicato dos Enfermeiros informa, ainda, que está tomando providências cabíveis diante das denúncias, onde serão encaminhadas para o Ministério Público do Estado, que está com um Gabinete de Crise para acompanhar a situação.

“Faltou máscara cirúrgica no mercado, faltou álcool gel, no interior falta até água nas unidades de saúde. Alguns prefeitos fizeram os decretos, fazendo rodízio de profissionais, afastando quem precisasse, alguns suspenderam os serviços eletivos. Mas, outros não. Mantiveram tudo, aumentando a carga horária. A gente tem essa desigualdade de tratamento nos municípios, principalmente com relação a equipamento de proteção. Precisamos que os gestores avaliem a dispensação do material”, acrescenta Shirley.

SMS

A Secretaria Municipal da Saúde informa que as denúncias sobre problemas na dispensação de EPIs no Hospital Fernando Franco não são condizentes ao cenário encontrado na unidade.

De acordo com o coordenador da Rede de Urgência e Emergência da SMS, Júlio César Lima, a dispensação dos EPIs está acontecendo com regularidade, mas diante da pandemia, que vem gerando grande procura desses equipamentos, a rede organizou uma dispensação mais controlada, fornecendo um kit de EPIs que atende a 3h de trabalho, podendo ser renovado, conforme necessidade de cada profissional.

“Não estamos inviabilizando o uso dos equipamentos, mas diante desse cenário atual e prevendo uma maior dificuldade no fornecimento desses produtos, que já estão escassos no mercado, é preciso um maior controle. Mas isso não significa dizer que os profissionais estão desabastecidos, após esse período de uso do kit entregue ou em casos onde o equipamento precisa ser trocado, a unidade faz a renovação”, explicou Júlio.

UBS de referência e campanha de vacinação

Com relação à aglomeração de idosos nas unidades básicas de saúde nesses primeiros dias de vacinação contra a gripe, a SMS informa que as gerências das unidades foram orientadas a desenvolver, conforme a realidade de cada UBS, a estratégia que atendesse a população de modo a evitar grandes aglomerações. Houve uma procura muito grande da população idosa que optou por garantir sua dose já no primeiro dia de campanha, mas as unidades controlaram esse fluxo. É importante que as pessoas tenham calma, que todos grupos serão imunizados, mas para isso é fundamental que a população respeite o calendário previsto.

Sobre a oferta do serviço nas unidades que serão referência para atendimento dos quadros de síndromes gripais, a assessora técnica da Rede de Atenção Primária (Reap), Michelle Dias, explica que os profissionais das salas de vacinas dessas unidades reforçarão o atendimento nas salas de vacinas das UBS mais próximas. Desta forma, os usuários que necessitam de vacinação, devem se dirigir à unidade da região para fazer uso do serviço.

Quanto à afirmação do Sindicato dos Enfermeiros acerca da negativa da gestão municipal em ampliar os profissionais nas unidades, para o atendimento durante a campanha de vacinação, alegando “ser muito oneroso em termos de extra”, a assessora declarou que a acusação não condiz com o que foi pactuado entre as unidades.

“A proposta da categoria, era no lugar de hora extra receber duas folgas, e foi ressaltado que, como nós teremos várias campanhas até o final do ano, há de convir que, a partir do momento que temos um profissional com um número considerável de folga, fica inviável para o funcionamento da unidade. Sobre o funcionamento, a proposta da gestão, enquanto RH, ficou de acordo e decisão da gestão local juntamente com sua equipe. Inclusive é inviável a gente deixar um enfermeiro e só um vacinador. A escala de todas as 44 unidades está disponível, e em nenhuma delas tem apenas um vacinador e um enfermeiro”, explicou Michelle.

O Governo do Estado de Sergipe não se manifestou até o momento.

|Da Redação do JC Online

||Foto: Jadilson Simões