04/02/2021 as 08:24

COVID-19

Apenas 5% dos profissionais do HU se vacinaram

Hospital Universitário conta com 2.400 funcionários. Somente 127 tomaram primeira dose da CoronaVac

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Apenas 5% dos profissionais do HU se vacinaram

É um sopro de esperança, um momento de luz”. Paramentada em touca e máscara NR 95, a enfermeira Ana Luiza Menezes sorri com os olhos. “Fiquei bem emocionada, chorei um pouco”. Ela é uma das 127 trabalhadoras e trabalhadores da linha de frente do Hospital Universitário de Aracaju (HU) a receber a primeira dose de Coronavac, em 26 de janeiro. Infelizmente, Ana Luiza é parte de uma minoria em meio a 2.400 funcionários e funcionárias do Hospital Universitário em Aracaju, dentre servidores RJU, contratados da Ebserh, terceirizados e terceirizadas.

Pouco mais de 5% do efetivo do hospital, presente no grupo prioritário para vacinação contra a Covid-19. Comparado a outras unidades hospitalares da capital sergipana, a quantidade de doses endereçada ao HU foi abaixo da expectativa. “Não entendemos porque o Hospital Primavera, que é da rede privada, recebeu doses para vacinar quase 800 profissionais, enquanto as doses recebidas pelo Hospital Universitário de Aracaju não deram para vacinar pouco mais que 5% do efetivo”, afirmou Taira Moreira, coordenadora do Sintufs. Os dados referentes ao Hospital Primavera foram publicados no portal do hospital.

CORTE DA SMS
A nutricionista Márcia Candido, servidora lotada no ambulatório do HU, compara a vacinação com outros Hospitais Universitários, a exemplo do Estado de Alagoas, que já vacinou quase todo o seu efetivo, e questiona a condução da Secretaria de Saúde de Aracaju. “Por que o Hospital Universitário de Alagoas, Estado que tem características muito semelhantes a Sergipe, conseguiu vacina para todos os trabalhadores, independente de vínculos? A capital Maceió já está vacinando todos os idosos (institucionalizados ou não), e aqui tá a passos lentos? A gestão do HU publicou um comunicado relatando que enviou a lista completa com o nome de todos profissionais e a Secretaria Municipal de Saúde determinou que fosse realizada uma filtragem que resultou em apenas 254 doses. Qual o motivo desse tratamento desigual?”, questionou a nutricionista.

RESPOSTAS?
Em matéria publicada em 1º de fevereiro, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que a apresentação das listas é de responsabilidade das unidades de saúde, públicas ou privadas. Em ofício de resposta ao Sintufs emitido no dia 2 de fevereiro, a Superintendência da HU alega que enviou a lista contendo todos os funcionários e funcionárias da instituição, porém “a SMS/PMA solicitou a filtragem da referida relação de profissionais para as áreas prioritárias (Unidades de Terapia Intensiva, área de transição para Covid-19, Pediatria e Clínica Médica II) segundo o Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde”. A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde afirmou que esta filtragem de vacinação deveria corresponder a 38% do efetivo nesta etapa da vacinação. Pois bem, e por que a Superintendência do HU filtrou apenas 5% do seu efetivo para este primeiro momento? Uma funcionária da Enfermagem, que preferiu não se identificar, afirma que “na semana passada houve o pedido a alguns setores do HU, nome e Siape para compor uma lista para vacinação, e deveria ser informado quem havia tomado vacina em outra instituição”.

ÁREAS PRIORITÁRIAS
De acordo com o Plano Municipal de Vacinação de Aracaju, a meta do município é vacinar “pelo menos, 90% de cada um dos grupos prioritários contra Covid-19”, mas o objetivo nesta fase da vacinação seria imunizar 70% do grupo com as doses recebidas de Coronavac e AstraZeneca. Como selecionar áreas prioritárias em uma unidade de alta complexidade? Uma assistente administrativa, que prefere não se identificar, detalha a situação da grande maioria dos trabalhadores do setor. “Veja como exemplo o meu setor: temos um alto fluxo de pessoas, técnicos, enfermagem, médicos, montadores. Estamos todos em trabalho presencial. Temos contato direto com os trabalhadores da linha de frente o tempo inteiro. Casos de suspeita, como já ocorreu comigo, se meu exame não desse negativo eu colocaria em risco a vida de mais nove colegas. Até vacinar todo o efetivo do hospital, a situação vai ficar difícil”, a firma.

Uma profissional de Enfermagem, que também é vinculada ao Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE) e não quis se identificar, questiona se há listagem de trabalhadores e trabalhadoras que já foram vacinadas em outras instituições onde possuem vínculo, e questiona a distribuição entre algumas unidades hospitalares e municípios menos populosos de Sergipe. “A prioridade é o Huse ou um município com cinco mil habitantes? Nem todos que fazem atendimento ao paciente no Huse foram vacinados, por exemplo: em todas as alas tem pacientes com Covid-19 isolados nos quartos, pois já não há possibilidade de isolar numa ala específica e o internamento adulto não se tem previsão de vacinação”.

RECOMENDAÇÃO DO MPF
Em 24 de janeiro, o Ministério Público Estadual emitiu, juntamente com o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho, a recomendação conjunta nº 02/2021, que estabelece a transparência nos protocolos de distribuição das doses, além da devida publicidade dos dados e doses por parte da Secretaria Municipal de Aracaju, responsável pela distribuição das vacinas na capital. A fim de cumprir a recomendação, as listas de vacinados foram publicizadas no início de fevereiro através do Portal da Transparência da Secretaria Municipal de Saúde, mas a relação consultada em 3 de fevereiro, às 11h11 não constava qualquer lista do Hospital Universitário, além de apresentar números que contradizem as informações dos demais portais, como os contemplados do Hospital Primavera. Em resposta por telefone, a assessoria da SMS afirmou que a lista está em processo de construção, e que o levantamento dos números se dá de forma paulatina e contínua. Não há prazo para a conclusão da lista. FURA-FILAS Não bastasse a situação de escassez das vacinas, os servidores e servidoras do HU receberam a informação de que três coordenadores, dois da Fisioterapia e um da Terapia Ocupacional, que não se encontram na linha de frente da Covid-19, constam na relação de vacinados e vacinadas. Em ofício, a Superintendência do HU negou o ocorrido.

FALTA DE TESTES
A enfermeira Ana Luiza Menezes ressalta a ausência de testagem para Covid para todo o HU, o que amplia ainda mais os riscos de contágio e as chances de tratamento e isolamento. “A testagem de pacientes ainda peca e muito. O paciente não pode apresentar os sintomas para, só depois, a gente fazer o RTPCR e verificar se este paciente tem Covid ou não. A gente vive uma pandemia em que um grande número de pacientes é assintomático. O ambiente hospitalar exige uma série de cuidados”, confessa. A segunda dose da Coronavac em Aracaju será aplicada no dia 8 de fevereiro, os 127 funcionários e funcionárias já estão contempladas com as 254 doses emitidas, uma para cada fase. De acordo com a superintendência, não há previsão para novas doses para o HU-UFS além das aplicadas.