08/02/2021 as 10:25

CÂNCER DE MAMA

Exames de mamografia caem pela metade durante a pandemia

Em Sergipe, principal procedimento para detectar o câncer que mais mata mulheres sofreu uma redução de 66%, saindo de 5.551 exames, em 2019, para 1.875, em 2020

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Na semana em que o mundo celebra o Dia da Mamografia e o Dia do Mastologista, 5 de fevereiro, o Brasil não tem motivos para comemorar. Ao longo de 2020, ano assolado pela pandemia do novo coronavírus, o país registrou uma queda significativa na realização do principal exame detector do câncer de mama.

No Sistema Único de Saúde (SUS), a redução na realização de mamografias, em relação a 2019, foi de 63%. Já no setor privado foi de 53%. Os dados são da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), respectivamente. Em Sergipe, a queda na realização de mamografias, no último ano, foi de 66%.

De acordo com informações do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), em 2019, o Estado registrou 5.551 exames realizados, enquanto que em 2020 foram apenas 1.875. Os dados chamam atenção para as consequências drásticas do diagnóstico tardio. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 95% dos casos de câncer de mama no país têm chance de cura quando detectados precocemente.

Somente em 2020, cerca de 66 mil novos casos foram detectados. “Com a suspensão dos procedimentos eletivos, em decorrência da pandemia, diversas unidades de atendimento foram fechadas. Além disso, com o receio da contaminação, muitas pessoas deixaram de realizar seus exames periódicos e se afastaram da assistência como um todo ao longo de 2020. As consequências podem ser graves. Em termos absolutos, a redução no número de mamografias chega a 1,5 milhão de exames”, comenta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

A recomendação do Ministério da Saúde é para que toda mulher com idade entre 50 e 69 anos faça uma mamografia a cada dois anos como forma de prevenção. Para suprir a demanda existente, o órgão também preconiza que é necessário contar com um mamógrafo para cada 240 mil habitantes. O problema é que em todo país, conforme levantamento da Abramed, apenas 23% dos municípios contam com o equipamento para realização do exame.

Em Sergipe, os exames de mamografia ofertados para os 75 municípios do estado são realizados na capital. Para ter acesso ao exame, o paciente precisa ser encaminhado pelo médico do posto de saúde, próximo a sua residência, até o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), em Aracaju. Toda a regulação é feita por meio de um sistema digital, chamado Ácone.

TRATAMENTO
A preocupação com a assistência prestada às pacientes oncológicas, neste período de pandemia, não fica restrita à situação dos exames de mamografia. Outros procedimentos também registraram quedas consideráveis. Segundo o último relatório do Radar do Câncer, realizado em parceria com o Instituto Oncoguia e com o DATASUS, no Brasil, houve queda de 45,72% na realização de biópsias, e de 44,77% na Dosagem de Antígeno Prostático Específico (PSA) – exames fundamentais no diagnóstico da doença.

O represamento de atendimentos especializados, em decorrência do cancelamento de procedimentos eletivos em hospitais e centros de saúde, tem sido a maior preocupação de secretários de saúde de todo país. Na área de oncologia, esse represamento tem um impacto ainda mais significativo, haja vista se tratar de pacientes que também lutam contra o tempo. A interrupção ou adiamento do tratamento adequado pode refletir diretamente no número de óbitos por câncer. Um estudo do The British Medical Journal, de novembro de 2020, revelou que as chances de falecimento aumentam em até 13% a cada quatro semanas de atraso de terapia. Diante disso, é de comum acordo na comunidade médica que, mesmo com a necessidade de distanciamento social causada pela pandemia, a prevenção e o tratamento do câncer devem ser algo contínuo.

VACINAÇÃO
Diante deste cenário de queda significativa do acompanhamento de pacientes oncológicos por todo país, a Sociedade Brasileira de Mastologia faz um alerta sobre a necessidade das pacientes de câncer de mama e outros tipos serem priorizadas no plano de vacinação para COVID-19.

De acordo com o presidente da SBM, Vilmar Marques, durante toda a pandemia foi notória essa queda, o que gerou bastante preocupação. Agora, neste momento, além de conscientizar as mulheres para que não deixem de dar continuidade a sua rotina de ir ao médico, realizar exames e manter o tratamento, o que mobiliza a entidade é sensibilizar as autoridades quanto à vacinação, pois elas compõem o grupo de risco, muitas com a imunidade baixa devido ao tratamento que estão sendo submetidas. “Os mastologistas de todo o país compreendem o cenário crítico devido à incidência crescente do COVID-19 nessa nova onda, porém, sem atendimento remoto e sem as mulheres indo às unidades, só nos resta priorizá-las na imunização para que possamos encorajá-las e que elas tenham maior tranquilidade e segurança de se deslocarem em médio prazo, continuando prevenção e tratamento. Estamos falando de vidas ameaçadas”, conclui Vilmar Marques