20/07/2023 as 08:45
SAÚDESociedade Sergipana de Pediatria cobra realização de concurso público na saúde
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A Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), unidade materno-infantil para atendimento prioritário às pacientes em alto risco – quando há complicações potenciais que podem afetar a mãe, o bebê ou ambos –, vem enfrentando problemas com a superlotação ao mesmo tempo em que as escalas profissionais estão desfalcadas. Pode estar ocorrendo, inclusive, um “esvaziamento” de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais especializados na neonatologia nesta maternidade, por conta das mínimas condições de trabalho, conforme denúncia dos profissionais. Na manhã desta quarta-feira, 19, a presidente da Sociedade Sergipana de Pediatria, Ana Jovina, em entrevista para a rádio Rio FM, reforçou a importância da realização de concurso público para a área de saúde, como principal maneira de fixar os profissionais nas unidades públicas.
Segundo Jovina, a Sociedade de Pediatria ouviu relatos de profissionais da área, informando que o processo seletivo da Maternidade Municipal Lourdes Nogueira, de Aracaju, ofereceu vantagens financeiras, ou seja, salários melhores do que vinha sendo pago aos profissionais que trabalham na MNSL, fazendo com que muitos migrassem de unidade. “Não só pela vantagem financeira, mas por ser uma maternidade nova, a Lourdes Nogueira, com uma proposta diferente, de parto humanizado. Então teve sim uma procura maior de profissionais para trabalhar lá, e a administração conseguiu fechar a escala, apesar de o processo seletivo ter sido bastante exigente. Acabou tendo sim uma determinação migração. O profissional da MNSL é sobrecarregado. Temos uma maternidade excelente, a MNSL funciona muito bem tanto na atenção da alta complexidade, com as UTIns, como no método canguru, com bons profissionais, mas que estão desestimulados pela sobrecarga de trabalho”, destacou a presidente, durante entrevista.
Ainda conforme Ana Jovina, apesar de a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes oferecer um excelente atendimento, os profissionais precisam estar felizes para realizar o trabalho, com condições, sem que precisem ficar rondando de serviço em serviço. “Como são profissionais específicos, os profissionais que trabalham na Lourdinha [MNSL], também trabalham na Lourdes Nogueira. E esses profissionais adoecem, vira e mexe tem furos de escala, e que nem sempre se consegue fechar esses buracos e escalas. Isso pode impactar na qualidade do atendimento e também na sobrecarga do profissional que está lá. Então, essa é uma queixa constante, a sobrecarga dos funcionários de MNSL, pela dificuldade de fechar escala”, explica a presidente.
Essa situação da unidade materno-infantil do Estado não é recente. Cerca de três meses atrás o Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed) publicou uma matéria sobre o cenário em que vive a maternidade, e afirmou estar acompanhando a situação. No texto divulgado pela entidade sindical, o depoimento de uma médica apontou a possibilidade de a unidade colapsar e, por isso, precisava de uma atenção urgente das autoridades fiscalizadoras e entidades de Saúde do Estado. “Estamos sem as mínimas condições de trabalho. Sobrecarga na escala, desvalorização salarial. A população precisa entender que está acontecendo desassistência e isso mexe de forma geral. O nosso objetivo é prestar uma assistência decente às pacientes gestantes com comorbidades. Esse é o objetivo da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes. É isso que estamos fazendo? Não! Nós não estamos conseguindo fazer isso. E por que? Porque nossa porta é aberta, tem livre demanda. Chega um momento em que isso está se tornando crônico e a gente não tem condição, pelo quadro clínico que se apresenta defasado. Estamos com dificuldades de assumir todas essas responsabilidades que nos colocadas em nossos ombros”, desabafou a médica obstétrica da maternidade, que preferiu não se identificar.
Ao JORNAL DA CIDADE, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na área da Saúde de Sergipe (Sintasa), Augusto Couto, disse que o déficit de profissionais é grande e atinge não só a MNSL, mas toda a rede de saúde pública de Sergipe. Ele conta ainda que esse ano haverá uma saída de cerca de 60% dos servidores estatutários que irão se aposentar, causando uma deficiência ainda maior no sistema, portanto, reforça a necessidade de concurso público.
“Com esse grupo que vai sair, a deficiência vai ser ainda maior. Até porque, a máquina funciona com os contratados, que é o maior grupo, e eles estão migrando para outras unidades principalmente porque o contrato com a Fundação Hospitalar de Saúde está se encerrando. Tem que se haver concurso público para conseguir sanar as escalas dos profissionais regionais. Enquanto isso não ocorre, a Fundação gasta quase R$ 4 milhões com hora extra, para poder sanar a escala de profissionais. É um problema que está alcançando toda a rede”, disse o presidente.
A reportagem do JC entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) em busca de esclarecimentos acerca da situação. A assessoria da pasta informou que está buscando preencher algumas “falhas pontuais na escala médica da maternidade, e vai abrir um novo credenciamento médico com equiparação da hora trabalhada, tendo como base a nova maternidade”. “O objetivo é a contratação de médicos neonatologistas e obstetras. Dentre as estratégias, está a regulação da porta da MNSL para pacientes de alto risco. A maternidade não se nega a atender nenhum tipo de paciente, mas a partir do momento da regulação e a criação de uma nova porta, a maternidade passará a cumprir a sua função, que é atender gestantes de alto risco”, explica a comunicação do órgão.
Ainda conforme a SES, a MNSL atende gestantes de alto risco portadoras de patologias, com hipertensão, diabetes, cardiopatia e trabalho de parto prematuro, que necessitam de atendimento especializado. “A unidade cumpre uma importante função social, sendo a única referência para partos de alto risco em Sergipe. Somente no primeiro semestre de 2023, foram realizados 7.082 atendimentos e 2.790 partos na Maternidade”, informa a Secretaria.