14/02/2023 as 09:54

ENTREVISTA

TB Entrevista André Lucas

Existência de 34 anos, músico há 15, tem festivais na vestimenta e história, recitais e toadas naBahia, Goiás, Alagoas, Brasília ... e em casa

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TB Entrevista André Lucas

Menestrel da Madrugada, poeta e cantor. Música, consciência e poesia no Festival de Artes Arthur Bispo do Rosário, em nossa Japaratuba/SE, exatamente há 01 mês, em 11 de janeiro. Ele é André Lucas, - Dé Lucas -, transborda arte em ação e sua entrega tem víscera e coração. Caçuá trançado no cipó, seu verso brota que nem a água, ali no grotão. Existência de 34 anos, músico há 15, tem festivais na vestimenta e história, recitais e toadas naBahia, Goiás, Alagoas, Brasília ... e em casa. Vamos conhecer sua participação no evento que consolida sua carreira e inspirou o título de Menestrel da Madrugada.

THAÏS BEZERRA – Existe diferença de palco, coração ou pele, atmosfera, sentimentos ou reação quando você se apresenta em Japaratuba? ANDRÉ LUCAS – Como aracajuano acolhido nesta terra energizada, acredito que você resumiu e explicou a influência que inspira o nosso melhor e a emoção do reconhecimento na expressão facial e do corpo, braços, danças, coro do público por nos ouvir e querer. Uma troca espontânea, um crescimento e pacto.

TB – A emoção tira você do roteiro? Você improvisa no palco?
AL – A necessidade de programar o show não o engessa. Sua abertura, textos, etc. têm a sequência que sugere eprovoca a sensibilidade, pensamentos e coração. A receptividade do público, aquela sintonia fiel, espontânea e delicada, nos dá coragem para intuir e arriscar – mesmoos eventuais micos demonstram a espontaneidade do nosso amar.

TB - Como foi a sua participação no Festival Arthur Bispo do Rosário, na sua Japaratuba?
AL - Desde o grito de abertura, de Jadson Rocha, mesclado e concatenado ao ritmo e a estridência do berimbau em toque de Angola (por Carlinhos) ao texto crítico-narrativo elaborado e dito pelo mestre Tigre Dourado, tornou-se evidente a tentativa de acordar e conscientizar os presentes sobre os sentidos e significados históricos dos quais a própria cidade é constituída.

TB – De que maneira ou argumentos consegue acordar e conscientizar?
AL – Fui ator, mestre cultural e a banda composta por Nito (contrabaixo), Ivan (guitarra), Danzinho (tecladista), Dedé (bateria), foram expansões da representatividade do axé afro-histórico, mágico e conscientizador que me ungiu, como Menestrel da Madrugada, devido à troca emocional e rica que começou à meia noite. Rick Sax, Paulo e Thiago (instrumentos de sopro) e Gabriel e os percussionistasdo Quilombo da Patioba, foram o tempero, requinte e sensualidade que o axé bahiano transpassa e herda em suas músicas.

TB – Geralmente há um estilo atribuído aos intérpretes, mas você representa vários - e mantém sua identidade.
AL – Acredito que sim, obrigado. Mesmo que a base de minha trajetória de músico seja MPB e forró, a escolha, identificação com o axé music, em especial de 1990 e 2000, gerou o resgate de lembranças e momentos na memória musical dos ouvintes. Na apresentação de Japaratuba, a canção “A Luz de Tieta” de Caetano Veloso, foi tocada sob novos contornos rítmicos, uniu a letra poderosa, reflexivoe cativante à melodia e harmonia dematrizes culturais africanas, pois “existe alguém em nós, em muito dentre nós esse alguém, que brilha mais do que milhões de sóis.”

TB – Parece emocionante determinar o repertório do show
AL – O show tem uma mensagem. Na canção de Carlinhos Brown, “Meia Lua Inteira”, foram apresentados elementos que constituem a própria essência melódica e histórica da negritude brasileira, reforçando a cadência e o cantar das palavras ritmadas, “poeira ra ra ra (...) São dim, dom, dão São Bento” que fazem parte do cotidiano do povo negro, enquanto, no tablado, o grupo de Makulelê Filhos de Matusalém se apresentava com a força e guerra dos povos afrodescendentes. Porém, com a canção “Tá tudo bem” de Alexandre Peixe, tornou-se possível vivenciar, em seus termos essenciais e tradicionais, o amor e o heros melodramático bahiano.

TB – Fale mais, sobre este eixo racional de resgate e intenções, pela oportunidade de realizar.
AL - Ao recitar “Não consigo suportar a solidão, sou jardim sem flor, lua sem amor, não tem graça não”, constituiu-se uma atmosfera entre o artista, os músicos e o público que marcaram o clímax do sentimento musical, da alegria que aquele momento festivo representou. Ao término do espetáculo enalteci a presença de todos e a importância do auto (re)conhecimento histórico e cultural que o japaratubense deve resgatar e promover e garantir.

TB – Qual foi o foco e recado principal do show do Menestrel da Madrugada?
AL - O espetáculo foi alicerçado com base no respeito a cultura negra. Respeito a história negra.... as pessoas negras. O respeito as religiões de matrizes africanas, o respeito crucial para o amor em si. Seja o amor à democracia, amor ao próximo ou amor a si mesmo, pois se você não respeita, você não tem amor. Pela importância do Festival de Japaratuba, na sua história, e pela madrugada em que me tornaria menestrel, a noite foi inesquecível.

TB – Talvez o festival - como equipamento que aglomera as pessoas em nome da cultura - possa ter mais amplitude em suas contribuições e significados?
AL – Aplausos para os festivais, espaços importantes de celebração e exaltação da cultura e da arte nas suas infinitas linguagens. O festival de artes é essencial não apenas para os grupos culturais e eventualmente folclóricos - peculiares e locais. Esta foi a XX edição doFestival de Artes Arthur Bispo do Rosário, e cada trabalho envolveu estudo, pesquisa, lógica e mensagem. No resultado, risos e lágrimas. Agradecemos esta oportunidade de divulgação.