27/02/2023 as 09:09

ENTREVISTA

TB Entrevista Scheila Caldas Amado

A nossa entrevista hoje é com Scheila Caldas S. Amado, ginecologista que atua na área de PTGIC e sexualidade, participante do grupo Estudo e prosa GO, criado em setembro de 2015, pela iniciativa da Dra. Carmen Luiza Leite.

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A nossa entrevista hoje é com Scheila Caldas S. Amado, ginecologista que atua na área de PTGIC e sexualidade, participante do grupo Estudo e prosa GO, criado em setembro de 2015, pela iniciativa da Dra. Carmen Luiza Leite. Inicialmente com cerca de 20 colegas médicos, hoje conta com 44 participantes, médicas ginecologistas em sua maioria que atuam na área de patologia do trato genital inferior e colposcopia. E neste 04 de março, é o Dia Internacional de Conscientização sobre o papilomavírus humano (HPV). Ela vai falar sobre a importância da prevenção e da vacina, e o trabalho que realiza junto com o grupo chamado “Estudo e Prosa”, sendo este ligado ao capítulo Sergipe da ABPTGIC (Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia).

THAÏS BEZERRA - Qual a Importância do dia 04/03?
SCHEILA CALDAS AMADO - A Sociedade Internacional de Papilomavírus (IPVSoc, na sigla em inglês) celebra em 04 de março, desde 2018, o Dia Internacional de Conscientização sobre o papilomavírus humano (HPV). A iniciativa, liderada no Brasil pelo Instituto de Câncer de São Paulo (Icesp), conta com vídeos, uma lista de perguntas frequentes e o esclarecimento de fake news sobre o tema. Tudo pode ser acompanhado no Facebook, Instagram e Twitter, por meio das hashtags #TragoVerdadesDoHPV e #AskAboutHPV. Faço parte de um grupo de ginecologistas, chamado “Estudo e Prosa”, sendo este ligado ao capítulo Sergipe da ABPTGIC (Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia). Decidimos então nos engajar nessa campanha, pois jugamos de suma importância. Nesse dia pretendemos alertar a população sobre a necessidade de utilizar as ferramentas disponíveis para controlar os cânceres relacionados a infecção pelo HPV. Lembrar sobre os testes diagnósticos para a detecção precoce dessas infecções e principalmente lembrar da segurança com as vacinas contra o HPV.

TB - O que é e como acontece a contaminação pelo HPV?
SCA - O HPV é um grupo de vírus muito comum no mundo. Existem mais de 100 tipos de HPV, dos quais pelo menos 14 são cancerígenos (também conhecidos como tipos de alto risco). O HPV é transmitido principalmente por contato sexual direto com pele e mucosas. Atualmente a infecção pelo HPV é a infecção sexualmente transmissível mais frequente e a maioria das pessoas é infectada logo após o início da atividade sexual. O câncer do colo do útero é causado por infecção sexualmente adquirida com certos tipos de HPV. É uma doença de desenvolvimento lento, que pode cursar sem sintomas em fase inicial e evoluir para quadros de sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais avançados. Dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres do colo do útero e lesões pré-cancerosas. Também há evidências científicas que relacionam o HPV com cânceres do ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe.

TB - Qual ou quais as melhores formas de se proteger e de evitar contaminar outros com essa infecção?
SCA - O uso de preservativo proporciona proteção relativa em virtude de o dispositivo recobrir apenas a região peniana. Áreas genitais não cobertas estariam desprotegidas, além do que pode ocorrer a contaminação através das digitais e boca. Porém estimula-se o seu uso de forma indiscriminada, principalmente pensando na prevenção de outras doenças sexualmente transmissíveis. A vacinação contra o HPV representa a melhor forma de prevenção primária. O ideal é que todos os indivíduos, homens e mulheres tivessem acesso a esta vacina antes do início sexual, onde ela seria efetiva em 100% contra os HPV contidos nas vacinas. Isso não quer dizer que pessoas que já iniciaram a vida sexual não precisem se vacinar. A vacina para prevenir a infecção por HPV, é gratuita na rede pública de saúde no Brasil para meninas e meninos de 11 a 14 anos. Disponível também em clínicas particulares para qualquer idade, sob recomendação médica. Além disso, estar atento a sinais de lesões e verrugas na região genital, anal ou oral, assim como diminuir o número de parceiros, ajuda evitar a transmissão do vírus.

TB - Em relação a Vacina o que precisamos saber?
SCA - Embora a vacinação reduza significativamente o risco de câncer relacionado ao HPV, as mulheres que tomaram a vacina contra o HPV ainda precisam fazer exames de rastreamento do câncer do colo do útero, como o Papanicolau, conforme as diretrizes vigentes no país. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza a vacinação gratuitamente para meninas e meninos de 9 a 14 anos como já foi dito anteriormente e pacientes de ambos os sexos com HIV/Aids, oncológicos e transplantados de 9 a 26 anos. Pessoas com idade superior a 26 anos também podem se beneficiar com a vacina contra HPV: converse com seu médico. Existem atualmente duas vacinas que protegem contra o HPV 16 e 18, que são conhecidos por causar pelo menos 70% dos casos de câncer do colo do útero. As vacinas também podem ter alguma proteção cruzada contra outros tipos menos comuns de HPV que também causam essa doença. Uma das vacinas também protege contra os tipos 6 e 11, que causam verrugas anogenitais. Em breve teremos a vacina nonavalente que englobará nove tipos de HPV 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52, 58, e assim ampliando a imunogenicidade para mais tipos de HPV oncogênicos. As vacinas são seguras, os efeitos colaterais são mínimos, e muito do que se descreve na imprensa leiga sobre efeitos graves, não apresentam comprovação científica.

TB - Qual a importância das infecções induzidas pelo HPV em relação ao câncer?
SCA - Uma vez infectado, o corpo pode, em sua grande maioria, ou não, eliminar a infecção pelo HPV. Se o organismo não conseguir eliminar a infecção, a persistência a longo prazo pode resultar em alterações pré-cancerosas. Algumas dessas alterações, se não forem tratadas, ao longo do tempo poderão evoluir para o câncer. Rastreio e tratamento de lesões reduzem muito o risco de progressão, podendo até evitar o surgimento ou a evolução do câncer. O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões menos desenvolvidas do mundo. Em 2018, foram 570 mil novos casos (84% dos novos casos no mundo) aproximadamente 311 mil mulheres, morreram com câncer de colo do útero; sendo cerca de 90% dessas mortes em países de baixa e média renda), dados do OPAs. No Brasil, em 2023, são esperados 17.010 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres. É a terceira localização primária de incidência e a quarta de mortalidade por câncer em mulheres no país, sem considerar tumores de pele não melanoma (INCA, 2022). Em 2020, ocorreram 6.627 óbitos por esta neoplasia, representando uma taxa ajustada de mortalidade por este câncer de 4,60/100 mil mulheres. Apesar da infecção por HPV esta principalmente ligado ao surgimento do câncer de colo uterino ela ainda pode estar relacionada a câncer de pênis, anus e orofaringe.

TB - Quais as ações programadas pelo grupo estudo e prosa em Aracaju?
SCA - Acreditamos que a educação clara e objetiva, falando sobre o assunto, de forma direta e constante será de grande valia, então estamos iniciando nas redes sociais, apesar de ainda estarmos aprendendo a lidar com essas ferramentas. Aproveito essa oportunidade para convidar a todos a nos seguir no instagram-@estudoeprosago. Neste sábado, dia 04/03, estaremos recebendo a imprensa para um café da manhã, no hotel Vidam, para conversar e promover disseminação de forma informal, sobre a importância do trabalho de vocês para nos ajudar a combater a infecção e novos casos de câncer. Sabemos concretamente que isso é possível visto que em países como os da América do Norte apresentam hoje 3 x menos casos que na América Latina e Caribe. Thaïs em nome do grupo Estudo e Prosa, agradeço a oportunidade que você está nos proporcionando, esperamos você no nosso café da manhã. Participantes do Grupo: Alessandra Aleixo, Maria do Carmo, Carolo Marques, Carmen Luiza Leite, Daniela Prado, Dorcas Almeida, Eline Gurgel, Ildete Caldas, Izabel Fonseca, Ivi Gonçalves, Adriana Albuquerque, Renata Lemos, Vanessa Matos, Thais Serafim, Marina de Pádua, Milla Jansen, Nilma Machado, M Auxiliadora Costa, Rosa Angélica, Edla do Amaral, Mysthis Ribeiro, Jânua Celestino, Neuma Barbosa, Patrícia Chaves, Rosineide, Tiana Freire, Rosita Fiorito, Luci Dilela, Vânia Soares, Lavínia Melo, Clarisse Cortez, Larissa Galvão, Vânia São Mateus, Juliana Vasconcelos, Karla Rolemberg, Luciana Alice, Marta Aguiar, Vânia, Ryane e Thaisa Ribeiro.