09/09/2021 as 10:33

MERCADO

Produção de veículos teve pior agosto desde 2003

Setor automotivo convive com sérios problemas de falta de produto no varejo

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A indústria automotiva conseguiu manter produção em agosto na faixa de 164 mil, bem próxima à de julho, mas bem abaixo dos níveis tradicionais para o mês. Com as operações prejudicadas pela falta de semicondutores, foi o pior agosto do setor na área produtiva desde 2003. De acordo com a Anfavea, 11 fábricas sofreram paralisações parciais ou totais por causa desse problema.

Em relação a agosto do ano passado, quando o setor começava a sair do período mais crítico da pandemia e saíram das linhas de montagem total de 210 mil unidades, houve queda de 21,9%. No acumulado dos oito primeiros meses verifica-se crescimento de 33%. A produção atingiu 1.476.100 veículos este ano ante total de 1.109.900 no mesmo período de 2020, período em que as montadoras suspenderam operações por dois ou até três meses por causa das medidas de isolamento social impostas pela Covid-19 a partir de março/abril.

Os dados foram divulgados pelo presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, na ocasião em que fez considerações sobre a crise política/institucional vivida no País, com reflexos negativos na economia brasileira, que convive com alta da inflação e aumento das taxas de juros, com riscos de retração no consumo e aumento do desempenho, já em nível elevadíssimo. “Devido à falta de semicondutores, está difícil avaliar a real demanda do mercado diante da oferta reduzida. Mas sem dúvida há risco de desaceleração do consumo no País diante do atual quadro econômico”, comentou o executivo, destacando que tudo que está acontecendo “não ajuda na retomada”.

Com a produção bem aquém do tradicional para esta época do ano, o setor automotivo convive com sérios problemas de falta de produto no varejo. Na virada do mês, havia aenas 76,4 mil unidades disponíveis nos pátios das montadoras e das redes de concessionárias, estoque suficiente para somente 13 dias de vendas, o que explica as filas de espera para vários produtos. Segundo a Anfavea, é o pior nível em mais de duas décadas. “Essa situação dos semicondutores traz uma enorme imprevisibilidade para o desempenho da indústria no restante do ano. Num cenário normal, estaríamos produzindo num ritmo acelerado nesta época do ano, quando as vendas geralmente ficam mais aquecidas”, afirmou o Moraes.

“No ano passado tínhamos boa produção no segundo semestre, mas uma demanda imprevisível em função da pandemia. Neste ano, temos demanda, mas infelizmente uma quebra considerável na produção”. Por causa da baixa oferta de produtos, o número de emplacamentos segue em queda. Foram 172,8 mil unidades vendidas no mês passado, no pior agosto desde 2005. A queda foi de 1,5% sobre julho e de 5,8% em relação a agosto de 2020. Em meio à retração, alguns segmentos se destacam positivamente. As exportações reagiram em julho sobre agosto, com uma alta de 23,9% e 29,4 mil veículos embarcados.

EXPORTAÇÕES DESACELERAM

Mesmo com a natural recuperação frente ao desempenho do ano passado, muito afetado pelas medidas de restrições para evitar a disseminação da Covid-19 tanto no Brasil como nos principais mercados consumidores, as exportações brasileiras de veículos brasileiros ainda estão, em unidades, bem distantes do ritmo pré- -pandemia. Olhando para os 253,3 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus embarcados de janeiro a agosto, 43,5% a mais do que em igual período do ano passado, não deixa de ser um saldo a ser comemorado num primeiro momento.

Entretanto, ele representa recuo acima de 17% sobre os embarques dos oito primeiros meses de 2019 e quase a metade do registrado em 2018, quando mais de 484 mil veículos foram exportados de janeiro a agosto. E a recuperação das exportações, a exemplo da produção e vendas internas, também vem diminuindo sua velocidade a partir do terceiro trimestre. Se até junho a média mensal de embarques ficou no patamar de 33 mil, entre julho e agosto caiu para 26,5 mil.

O motivo, aponta a Anfavea, é a própria debilidade na produção brasileira, impactada por seguidas paralisações das fábricas, que não dispõem de componentes, sobretudo eletrônicos, para dar conta dos pedidos. “Mercados como Chile, Colômbia e Peru seguem em boa recuperação”, pondera Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, sugerindo que o quadro das vendas externas poderia ser bem mais favorável. Em valores, porém, as montadoras contabilizam ligeiro crescimento até mesmo sobre os primeiros oito meses de 2019.

Foram faturados US$ 4,9 bilhões em 2021 versus US$ 4,8 bilhões dois anos antes. A comparação com o saldo de janeiro a agosto de 2020 é, claro, muito superior: crescimento de 54,9%. Moraes justifica essa aparente contradição com a mudança do mix dos veículos exportados para produtos de maior valor agregado, como versões mais sofisticadas de automóveis e caminhões. Em agosto, seguiram para outros países 29,4 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. O número é 24% maior do que em julho e 5,5% acima do total embarcado em igual período do ano passado. Fonte: Autoindústria