30/05/2022 as 10:59

ENTREVISTA

‘O nosso amor é o nosso afeto transcentrado’, Isis Broken

No dia 5 de junho, Isis Broken lança o clipe na canção “um rock, um roubo”, terceiro single do álbum “Bruxa Cangaceira”

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‘O nosso amor é o nosso afeto transcentrado’,  Isis Broken

No dia 5 de junho, Isis Broken lança o clipe na canção “um rock, um roubo”, terceiro single do álbum “Bruxa Cangaceira”. Nele, o amor é exaltado de todas as formas, na relação afetiva entre duas pessoas; na comunhão entre pais e filho; no arroubo de paixões, proteções e afetos. Consciente do lugar que ocupa e da fala que ecoa, Isis corre para o abraço ao desafio, destemida, voraz feito a pegada do rock e com os pés firmes na essência de simplesmente ser. Foi sobre amor, família, novidades e outras coisas que Isis Broken conversou com o jornal da cidade. Boa leitura!

JORNAL DA CIDADE - Que amor é esse em canção e videoclipe a ser lançado pela bruxa do cangaço?
ISIS BROKEN - A música é uma parceria com meu marido, Aqualien, que até então não era meu marido. Eu conheci ele porque queria chamar um homem trans para a música para a gente falar sobre amores, né? Sobre esse lance de amores transcentrados. E aí foi nesse momento que conheci ele e a gente acabou se apaixonando nesse processo. A gente escreveu a música e quando pensamos no clipe, queríamos que fosse uma coisa mais singela né? Menos estonteante como meus outros clipes, que são megalomaníacos. Assim, a gente queria que fosse uma coisa mais simples, mas que mostrasse um afeto porque o nosso amor é o nosso afeto transcentrado. Então, para que as pessoas vejam essa simplicidade, olhar para o nosso carinho, para o nosso amor, para a nossa família, vem desse lugar mesmo de mostrar a simplicidade do amor, que o amor pode ser simples, ele pode ser leve. Esse clipe foi filmado um dia antes de Lorenzo ter Apolo, então ele se cansou bastante nas gravações, foi um dia inteiro para gente gravar. E a gente descansou, para que no outro dia ele estivesse pronto para ter Apolo. Foi um dia super cansativo, a gente teve que adiantar a gravação, mudar o dia da gravação que já estava previsto para outro dia para não perder a barriga de Lorenzo ainda.

JC - É uma música que dá início a um novo momento da sua carreira? Vem mais coisa nova em breve?
IB - Vem coisa nova sim por aí. Depois do clipe eu vou lançar um single, que é um pouquinho diferente de tudo que eu já fiz. Mas ainIsis/Divulgação da continuo carregando minha estética bem sergipana de sergipanidade e é um trap de coco que eu costumo falar que é um é uma mistura de trap com samba de coco e uma embalada também na música. A música é diferentona, assim do que sou bruxa cangaceira, mas ainda continua com minha essência. E o samba de coco sempre foi algo muito presente na minha vida, samba de pareia, né? Embolada que meu avô fazia. Ararinha da Viola que era repentista, cordelista, também fazia esse lance da embolada, a gente sempre se reunia nas festas das de família e ele tocava e fazia essa embolada, então é um lance também que eu me reconecto com a minha ancestralidade e que é muito bonito.

JC - A vida pessoal e artística comungam de necessidade de luta e, até mesmo, soa como um pedido de ajuda para fortalecer esse amor?
IB - Eu acho que não é nenhum pedido de ajuda na verdade. Não é um pedido de ajuda. Mas um lembrete assim, sabe? Para essa generalidade acerca dos nossos corpos, acerca das nossas existências. É muito importante. Eu queria nessa aqui mostrar a importância de amar corpos trans e travestis, né? É essa a importância que a música traz em todo o legado que a música apresenta. E também mostrar a potência de dois corpos trans juntos. Como isso também é potente, como isso também é bonito, como isso também é válido. Como a forma de amor também é válida, né? E tem que ser validada porque é uma família que está sendo construída. Um legado que está sendo construído a partir do amor e o amor é o princípio base de qualquer coisa, né?

JC - Manter uma equipe inteira LGBTQIA+ na produção do clipe também foi estratégia para dar força ao movimento?
IB - Ter LGBTs na equipe foi uma estratégia para a função movimento. Lógico que é importante a gente estar trazendo pessoas trans, LGBT para o protagonismo das coisas que a gente faz. Mas também no lugar de proteção pra gente. A gente ia ter um filho um dia depois de uma gravação, então assim era importante ter LGBT para não haver um desgaste emocional, né? Do Lorenzo, pra que fosse um momento bonito, daquela barriga, e isso na recordação de um clipe tão bonito, tão significativo pra gente, então na verdade também foi um lugar de proteção nossa, né? A gente passou por tantas coisas durante a gestação que seria injusto nesses últimos momentos de curtir a barriga, sofrer algum tipo de violência, mas também é um momento da gente falar bem e de querer LGBTs por trás dessas produções de audiovisual. É importante pra que a gente mostre nossa capacidade que muitas vezes é subestimada.

JC - Lançar o videoclipe em Sergipe é ainda mais desafiador do que em estados como São Paulo?
IB - Sim, lançar um videoclipe em Sergipe é muito mais desafiador do que lançar em São Paulo. Parece que Sergipe ainda não abraçou, né? O que é do Estado parece que Sergipe ainda não entendeu que é importante valorizar o que é do Estado. Valorizar os artistas sergipanos, da música, das artes plásticas. Por exemplo, a gente tem Arthur Bispo do Rosário como sergipano e o Museu de Arthur do Rosário está no Rio de Janeiro e está rolando agora uma exposição Arthur Bispo do Rosário e não é em Sergipe. Sabe porquê, gente? Porque não sabe. Existe uma desvalorização e aí tipo assim se eu pergunto quem é Arthur Bispo do Rosário não vão saber quem é. Né? E eu no clipe do “Clã” trouxe uma referência da Arthur Bispo do Rosário, na cena da fogueira que eu estou vestida com o manto do Arthur Bispo e as pessoas em Sergipe não se ligaram nessa referência e aí quando eu cheguei aqui em São Paulo, a galera falou assim: “pô, eu amei aquela referência do Arthur Bispo do Rosário”, sabe? Então, parece que Sergipe ainda não se conectou com os seus artistas. Assim, é muito desafiador lançar qualquer coisa em Sergipe e é por isso que eu ainda insisto em lançar porque eu também gosto desse desafio, pois acho interessante, mas é muito desgastante. E também quando eu falo de valorização não falo só de estar numa revista, tá aqui no jornal, tá na TV. É de valorização financeira também, né? Porque tem grandes artistas aqui que estão com cachês extremamente desvalorizados né? E aí quando eu chego em São Paulo abri o primeiro show que eu faço em São Paulo eu ganho três vezes mais do que eu ganhei em um dos maiores festivais de Sergipe entende?

JC - E depois daqui, por onde mais espalhará esse amor?
IB - A gente também tem um projeto do nosso filme que gravamos durante a gestação, inclusive eu acabei de receber um teaser e está muito bonito, incrível. Nele, a gente sim discute muitas coisas, que vai mostrar a gente realmente de forma muito crua e vai mostrar a nossa essência, vai mostrar a nossa luta, tudo que a gente passou, tudo que a gente teve que enfrentar. O nome do filme vai carregar o nome de Apolo, nosso filho. E é isso, a gente tem esses projetos aí na frente para espalhar esse amor porque eu acho que que o Brasil está precisando agora nesse momento, né? A gente está tão desconectada com o amor, a gente está tão desconectada com o outro, né? Que parece que está todo mundo se odiando, então é importante que a gente se ame, né? Se reconecte com os nossos para que a gente possa chegar a algum lugar, porque se a gente ficar nesse lugar de desamor, você vai chegar a lugar nenhum.

|Por Gilmara Costa
||Foto: Divulgação