08/12/2022 as 10:12
TRANSPORTECooperados lamentam falta de incentivo por parte do Poder Público e ausência de licitação municipal
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“Foi questão de segundos, eu tentei segurar, mas ela foi com tudo para baixo, foi engolida e foi parar na pista e o carro continuou em movimento. Eu saí gritando, o pessoal, de primeira, não entendeu o que estava acontecendo e pediu para eu ter calma, só que aí o motorista entendeu, quando eu falei que ela tinha caído no buraco, foi aí que ele parou o carro”.
O depoimento é de Ani Caroline Dias, mãe de uma garotinha de apenas quatro anos que, no último dia 1º de dezembro, caiu em um buraco dentro de um ônibus do transporte coletivo do município de Estância. A menina foi parar, literalmente, no meio da rua e, por pouco, não foi atropelada pelo veículo que vinha logo atrás. A mãe contou que a filha chegou a ser hospitalizada com escoriações e por ter batido a cabeça contra o asfalto, mas passa bem.
O incidente, que poderia ter sido uma verdadeira tragédia, trouxe à tona a realidade do sistema de transporte coletivo do município de Estância, que amarga ônibus sucateados e em péssimas condições. Por lá, duas cooperativas são responsáveis por transportar passageiros, a Cooperastele e a Cooperastrasues, que juntas possuem uma frota de cerca de 50 veículos.
Para Adhemar Ribeiro, morador da cidade de Estância, é visível a má conservação dos ônibus, porém, ele ressalta que é preciso também observar a situação dos proprietários dos veículos, que tiram o sustento de suas famílias através desse trabalho. “Eu vejo a precariedade do transporte em Estância. É sucateado, não tem condições, os ônibus com uma idade avançada, com mais de 10 anos de uso. Não existe licitação por aqui e a gente nem sabe como vai se fazer. Tem o caso desses abnegados que necessitam levar o pão para casa e aí também tem o lado do passageiro. Aconteceu agora esse acidente, onde quase a criança é atropelada por outro carro que vinha na retaguarda, é complicado”, lamentou o cidadão, alertando que em gestões passadas existia mais rigor em relação ao transporte coletivo.
Já José Valter Santos, presidente da Cooperastrasues, reconhece a deficiência em alguns veículos, mas apela para a sensibilidade da Prefeitura Municipal de Estância. “Existem alguns carros com a validade vencida, existe, mas também existem carros em boas condições de uso. Hoje, estamos com as passagens muito defasadas, principalmente diante desses aumentos constantes de óleo diesel, de pneu, de peças, todo tipo de manutenção para manter um carro desse, o custo é alto”, desabafou.
E continuou: “Para se ter ideia, a gente roda em torno de 135 quilômetros para sair do ponto de embarque ao ponto final onde vai ficar o passageiro, apenas em uma só viagem. A gente sai de Estância até chegar em Porto do Mato e Saco, e sabe quanto está custando uma passagem dessa? R$ 10,20, o lucro é quase nada. Para fazer essa rota é R$ 200 de combustível. Aqui a gente nunca teve incentivo do Poder Público. Já procuramos, mas tem o outro lado, não tem uma licitação. Hoje a gente roda sem ter uma garantia de um contrato com um tempo que podemos permanecer rodando, uma licença. Eles renovam o alvará e dá, mas você não tem garantia alguma”.
O proprietário de veículo e representante dos cooperados relembra que em outras gestões se tinha a concessão de uma licença de 10 anos que garantia a continuidade na prestação do serviço. “Há muitos anos, na época de Ivan Leite, eles deram 10 anos pra gente, esses 10 anos venceu e a gente atrás de vereador, de prefeito, para poder prorrogar e nada, nada, nada. Quando é para dar um aumento na passagem, Ave Maria, é uma dor de cabeça. E de quanto é esse reajuste? De R$ 1, às vezes R$ 0,50 para uma passagem que está defasada há muitos anos. Repito: não temos um único incentivo do Poder Público e olhe que a gente anda com passe livre, meia passagem para estudante, tudo isso temos o direito de levar e trazer”, detalhou o presidente da Cooperastrasues.
O dirigente do Psol estanciano, Bira Palmarino, também opinou sobre o acidente envolvendo a garota de 4 anos e a situação do sistema de transporte público do município. “Sem qualquer ação ou medida na área, um verdadeiro vazio constrangedor de uma administração medíocre que se apoia na “muleta narrativa” de pagar em dia – como se este fosse o maior feito de sua gestão – enquanto fingem que está tudo bem e atuam como se não fosse papel da prefeitura garantir a prestação do serviço de transporte público municipal, com segurança e qualidade. Estância não entrega nada disso para sua população, embora seja uma das cidades mais ricas do estado, é pelo contrário, é caro, precário, ineficiente, cuja lógica está longe de ajudar a integrar a cidade e as pessoas, não possuindo sequer, ainda hoje, um Terminal de Integração, uma antiga reivindicação popular”, analisou Bira, através de um artigo escrito por ele.
SMTT ESTÂNCIA
A equipe de reportagem do JORNAL DA CIDADE entrou em contato com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) de Estância. De acordo com o superintendente, Manoel Messias, o acidente encontra-se sob investigação da Polícia e um procedimento administrativo foi instaurado. Ainda segundo ele, o assoalho do veículo não quebrou no momento em que a vítima pisou, mas sim aparentemente parte da peça havia sido retirada para conserto naquele mesmo dia. “Estes veículos passam por vistorias anualmente e/ou através de denúncias, bem como amostras aleatórias. Estância nunca realizou licitação para o transporte público, porém o município está em fase de licitação do plano diretor para, em seguida, realizar a licitação do transporte público. A fiscalização é realizada diariamente, inclusive com aplicação de autos de infrações e o recolhimento de veículos, a depender da situação. Estância é um dos poucos municípios sergipanos que possuem o transporte público que, muito em breve, passará por licitação e, com certeza, irá melhorar ainda mais os serviços ofertados aos munícipes”, informa o superintendente Manoel Messias.
Já no fechamento desta edição, o JC Municípios recebeu a informação que ainda na quarta-feira, 7, uma fiscalização da SMTT de Estância retirou, temporariamente de circulação, pelos menos, cinco veículos da Cooperativa de Transporte Municipal Alternativo, a Astele. E que foram recolhidos até que as pendências sejam sanadas e uma vistoria seja feita para comprovar a regularidade no transporte de passageiros.