21/05/2022 as 15:51

ENTREVISTA

Em Aracaju, o transporte público está ‘defasado’ e ‘desorganizado’

Ele garante que muitas são as causas do atual caos, mas o que mais contribuiu é o descaso, abandono e falta de atenção do poder público em resolver o problema durante anos

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

Em Aracaju, o transporte público está ‘defasado’ e ‘desorganizado’

O Sistema Integrado de Transporte de Aracaju está “defasado” e “desorganizado”, conforme o vereador Ricardo Marques (Cidadania). Ele garante que muitas são as causas do atual caos, mas o que mais contribuiu é o descaso, abandono e falta de atenção do poder público em resolver o problema durante anos. Segundo o parlamentar, “os maiores problemas são referentes à qualidade de serviço prestado, ou melhor, a falta de qualidade. Muitos ônibus que rodam em nossas cidades estão em uma situação degradante, são ônibus velhos, sujos e sucateados”. Marques defende uma licitação para o setor. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Eugênio Nascimento
Da equipe do JC 

JORNAL DA CIDADE - O sistema de transporte de Aracaju e Grande Aracaju pode ser classificado como? Por quê?

RICARDO MARQUES - O nosso sistema pode ser classificado como defasado e desorganizado. Muitas são as causas do atual caos, mas o que mais contribuiu foi o descaso, abandono e falta de atenção do poder público em resolver o problema durante anos. É fato que o transporte público passa por um momento delicado face aos atuais desafios vivenciados pela mobilidade, porém em Aracaju houve um retrocesso. Não houve investimentos na criação para um novo modelo de sistema e nem em tecnologia.

JC - Quais são os mais graves problemas e como solucioná-los?

RM  - Os maiores problemas são referentes à qualidade de serviço prestado, ou melhor, à falta de qualidade. Muitos ônibus que rodam em nossa cidade estão em uma situação degradante, são ônibus velhos, sujos e sucateados. A cidade se desenvolveu e nosso sistema de passageiros não acompanhou as mudanças. Estamos em 2022, mas possuímos uma mobilidade urbana do século passado. A cidade de Aracaju cresceu e temos a mesma base do SIT da década de 80 quando ele foi criado. Até os terminais são praticamente os mesmos e nos mesmos lugares. Para você ter uma ideia, na Zona de Expansão da capital não tem terminal. Agora é fato: não adianta fazer ou reformar terminal sem pensar em melhorar e organizar o sistema. O primeiro passo é ter coragem e começar o processo de licitação. É preciso fazer um novo estudo sobre necessidade de linhas e quantidade de ônibus. Caso isso não seja feito estaremos enxugando gelo.

JC - Uma nova licitação do transporte coletivo resolveria quais problemas? Seria bom para o usuário?

RM - Seria necessário para o usuário e para o sistema. Em Aracaju teria que começar do zero. Aqui nunca foi feita uma licitação, aliás nem o Governo do Estado fez para as linhas intermunicipais. A licitação é importante para colocar a casa ordem com direitos e deveres para as empresas e poder público. Cumprimento de horários, quantidade de ônibus por linhas e até a questão da tarifa e das gratuidades seriam definidas pela licitação. É o que chamam de tarifa pública e tarifa técnica. Nas cidades onde isso está bem claro num documento jurídico o sistema tem fluido com avanços. A licitação também iria definir a questão de quem regula e quem fiscaliza o transporte público. Hoje em Aracaju ninguém sabe ao certo o papel da SMTT e do Setransp? Por exemplo: vejo muitas empresas retirarem os ônibus de diversas linhas sem avisar e quando o usuário liga para a SMTT geralmente ninguém sabe.

JC - O novo valor da tarifa é justo? Por quê? Qual seria a tarifa ideal?

RM  - Essa é uma pergunta difícil de responder, visto que não recebi a planilha de custo tarifário que foi usada como base para o atual reajuste. O prefeito pode reajustar a passagem, mas a planilha precisa passar pelo parlamento aracajuano e ser acessível a toda população. A tarifa ideal seria aquela que atendesse as expectativas dos usuários quando de uma prestação de serviço de qualidade. Para a prestação do serviço que é oferecida hoje em Aracaju o novo preço da tarifa não é justo. 

JC -  Por quê a Câmara de Aracaju não teve acesso à planilha que as empresas enviaram para a PMA?

RM - Seria uma obrigação legal da prefeitura e da SMTT, porém somente eles podem responder porque não cumpriram. Fiz esse questionamento durante meu discurso na tribuna da Câmara e aguardo uma resposta, mas gostaria de lembrar que em janeiro, quando tomei ciência do envio dessa planilha para a SMTT, eu protocolei um requerimento pedindo essa planilha. Já se passaram quatro meses, o aumento chegou, mas a planilha não foi encaminhada. Segundo o que diz a lei orgânica em seu artigo 238, a planilha deve passar pela Câmara de Vereadores e ser de fácil acesso aos cidadãos aracajuanos. O entendimento que tenho hoje é que a lei do município está sendo desrespeitada pelo atual prefeito de Aracaju. 

JC - Há um quadro de crise atingindo o sistema de transporte público de Aracaju?

RM - Não tenho dúvidas disso, dos atuais três grupos que operam em Aracaju e região, apenas um está com boa saúde financeira e dispõe de ônibus com idade média de condições para o transporte de passageiros, os outros dois acumulam reclamações de passageiros e vídeos em redes sociais. Os problemas no sistema de transporte são antigos e com a pandemia eles se agravaram. No ano passado promovi uma audiência pública onde foi encaminhada uma carta ao prefeito Edvaldo Nogueira mostrando a necessidade de ajuda e investimento no sistema. Entre as sugestões estavam isenção de ISS, isenção do diesel para as empresas de ônibus (o Governo do Estado é aliado e iria beneficiar o povo), início do processo de licitação e outras sugestões. Infelizmente, a Prefeitura de Aracaju deixou a corda esticar demais para começar a fazer alguma coisa, diferentemente do que aconteceu em outras capitais.

JC - O SIT tem ônibus suficiente para a população?

RM - Não é só pela quantidade de ônibus que define a necessidade do transporte para população. É certo que Aracaju e região cresceram nos últimos anos e é necessário fazer um estudo técnico para saber qual a demanda atual. Também é importante discutir sobre a necessidade de outros modais que se interliguem ao sistema. Esse estudo seria o início de um processo de licitação sério.