02/06/2025 as 09:04

ENTREVISTA

“Ser jovem e mulher ainda gera resistência em muitos espaços políticos”

Nesta entrevista para o Jornal da Cidade, ela fala sobre as dificuldades de ser uma mulher jovem na política, as medidas de contenção de gastos já implementadas

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

Por Mayusane Matsunae

Aos 28 anos, a prefeita de Aquidabã, Ana Helena de Carvalho Fontes, enfrenta os desafios de liderar uma gestão municipal após encontrar uma estrutura administrativa desorganizada e com pendências financeiras. Nesta entrevista para o Jornal da Cidade, ela fala sobre as dificuldades de ser uma mulher jovem na política, as medidas de contenção de gastos já implementadas – incluindo a redução de 25% do próprio salário – e destaca a afinidade política com o Fábio Mitidieri (PSD) para 2026. Com foco em educação, saúde e infraestrutura, a gestora defende que os pequenos municípios devem estar no centro das decisões estaduais. Acompanhe o conteúdo completo:

JORNAL DA CIDADE - Com apenas 28 anos, a senhora já está à frente do Poder Executivo em Aquidabã. A senhora considera que ser uma mulher jovem na política traz desafios adicionais? Como tem lidado com isso?
ANA HELENA – Sem dúvidas. Ser jovem e mulher ainda gera resistência em muitos espaços políticos. Há um questionamento constante sobre a nossa capacidade, mesmo diante de competência e preparo. Tenho lidado com isso com serenidade e muito trabalho. Acredito que a melhor resposta tem sido o compromisso diário com uma gestão séria, humana, inclusiva e eficiente.

JC – Quais foram os primeiros desafios encontrados na gestão municipal?
AH – Iniciamos o governo após uma gestão interina e encontramos uma estrutura administrativa desorganizada, com muitas pendências financeiras e burocráticas. Faltavam insumos básicos para manter os serviços, não havia processos licitatórios em andamento, as equipes estavam desmontadas e sem contratos após demissões em massa. Havia ausência de documentos importantes, máquinas e equipamentos sucateados. Foi um cenário bastante desafiador para o início de um governo, exigindo esforços redobrados para recomeçar — tudo isso sem interromper os atendimentos básicos à população.

JC – Logo no primeiro mês de mandato, a senhora reduziu seu próprio salário em 25%, assim como o da vice-prefeita Tânia de Valter. O que motivou essa decisão tão rapidamente?
AH – É importante destacar que também reduzimos os salários do secretariado. Foi um gesto de responsabilidade e coerência. Não fazia sentido iniciar a gestão pedindo maiores esforços aos servidores nessa fase de reconstrução, sem dar o exemplo. Em um momento de tantas dificuldades para o município, essa atitude era fundamental.

JC – A redução dos salários da prefeita e da vice representa qual economia anual para os cofres municipais? Esse valor já foi ou será direcionado para alguma área específica?
AH – Com a redução dos salários da prefeita, vice-prefeita e secretariado, teremos uma economia anual de aproximadamente R$ 500 mil. Esses recursos estão sendo direcionados para áreas prioritárias, especialmente a assistência social, saúde e educação. 

JC – Além da redução salarial, que outras medidas de contenção de gastos estão sendo implementadas? Existe um plano estruturado para o equilíbrio fiscal? Como está a situação das contas públicas de Aquidabã?
AH – Criamos a Secretaria de Planejamento e, por meio dela, estamos revisando contratos, procedimentos e estruturas administrativas. A intenção é construir um planejamento administrativo e financeiro sólido, que fortaleça o controle das receitas e despesas, preserve a saúde fiscal do município e possibilite maiores investimentos por parte da gestão.

JC – Quais são as principais prioridades da sua gestão para os próximos quatro anos? Em que áreas a população pode esperar mais investimentos?
AH – Nossas prioridades são educação, assistência social, saúde e infraestrutura. Encerramos o regime multisseriado na rede municipal, promovemos capacitação pedagógica contínua e iniciamos reformas e adequações nas escolas para garantir ambientes mais acessíveis, inclusivos e acolhedores. Na saúde e assistência, o foco está na ampliação e qualificação dos serviços por meio de investimentos em programas já existentes. Na infraestrutura, estamos dando continuidade a obras estruturantes iniciadas na gestão do nosso líder político e ex-prefeito Mário Lucena — muitas delas em parceria com o Governo do Estado e parlamentares aliados, como a nossa deputada estadual Dra. Lidiane Lucena —, como a duplicação da entrada da cidade, o mercado municipal e a requalificação do centro histórico e comercial. Estamos encaminhando, ainda, a construção de duas creches, além do centro administrativo e do arquivo público, visando à modernização e à eficiência dos serviços prestados pela Prefeitura.

JC – Existem projetos já em andamento ou em fase de planejamento que a senhora considera estratégicos para o desenvolvimento de Aquidabã?
AH – Sim. Um dos principais é o programa de apoio financeiro a alunos da rede pública municipal, que incentiva a permanência dos jovens na escola, prepara-os para o futuro e representa um investimento direto na educação. Também temos uma atenção especial à promoção dos direitos humanos, com foco nas mulheres, na população LGBTQIA+ e nas pessoas com deficiência, por meio da criação de uma secretaria específica para essas pautas. Firmamos uma importante parceria com o Sebrae, que oferece suporte aos empreendedores locais por meio da Sala do Empreendedor. Na agricultura, estamos fortalecendo a secretaria com projetos voltados à agropecuária, setor essencial para nossa economia. No campo da cultura, buscamos estruturar o setor como uma cadeia produtiva capaz de impulsionar o turismo, gerar renda e valorizar nossa identidade local. Esse legado de potencialização do nosso território, que vem da gestão de Mário Lucena e que a minha gestão tem dado continuidade, tem atraído importantes investimentos e presença de importantes instituições para o nosso município, a exemplo de uma agência da Caixa Econômica Federal. Com certeza continuaremos neste ritmo de crescimento.

JC – Como pretende lidar com questões estruturais do município, como saúde, educação, infraestrutura e geração de emprego?
AH – Com planejamento, escuta ativa e parcerias.

JC – Na sua avaliação, quais são os maiores desafios para um gestor municipal em cidades do interior de Sergipe atualmente?
AH – O maior desafio é fazer muito com pouco. As demandas são grandes, mas os recursos são limitados. É preciso criatividade, compromisso e gestão eficiente para garantir os direitos da população.

JC – Como vem trabalhando a parceria entre os poderes Executivo e Legislativo no município?
AH – Com respeito e diálogo. Acredito em uma política feita com responsabilidade coletiva. O Executivo de Aquidabã mantém uma boa relação com a maioria dos parlamentares, o que fortalece a parceria em prol do município.

JC – Como avalia o cenário político atual em Aquidabã? Existe união entre as forças políticas locais em prol do desenvolvimento municipal?
AH – Sim. Contamos com um grupo político forte e coeso, comprometido com o desenvolvimento de Aquidabã, que foi fundamental para a vitória do nosso projeto. Naturalmente, existe oposição, o que é saudável e necessário para a democracia. Mas seguimos focados no que realmente importa: trabalhar. O tempo e os resultados mostrarão quem está verdadeiramente comprometido com o bem de Aquidabã.

JC – Já pensando nas eleições de 2026 para o Governo do Estado, a senhora tem alguma preferência ou pré-candidato que pretende apoiar? Por quê?
AH – Temos uma parceria muito importante com o Governo do Estado, que tem olhado com carinho para nossa cidade e atendido às demandas da população. De forma geral, é um governo municipalista, que acredita no potencial do interior de Sergipe. Isso reforça nossa afinidade com o atual governador Fábio Mitidieri (PSD). Fábio conta com meu apoio irrestrito para continuar o trabalho transformador que vem realizando, tanto enquanto deputado federal quanto, agora, como governador.

JC – O União Brasil estadual já sinalizou algum posicionamento para 2026? A senhora participará dessas discussões partidárias? Por quê?
AH – Como filiada ao União Brasil, participarei com responsabilidade dos debates internos. É fundamental que as decisões do partido estejam em sintonia com as necessidades reais do povo sergipano, especialmente dos mais vulneráveis e dos municípios do interior.

JC – Na sua opinião, qual o perfil de governador que Sergipe precisa para os próximos anos? Quais as demandas dos municípios do interior que a senhora defende como prioridades?
AH – Sergipe precisa — e felizmente tem — de um governador com sensibilidade social, visão estratégica e disposição para ouvir os municípios. As demandas dos pequenos municípios devem estar no centro das decisões: acesso à água, saúde de qualidade, infraestrutura e educação em tempo integral. Esses são os pilares de um futuro mais justo e igualitário para o nosso estado