04/11/2025 as 09:28

ARTIGO

Redes sociais e a construção da autoimagem

Frederico Alves de Almeida Aragão, psicólogo (CRP 19/2849), formação em teologia, mestre em filosofia, professor de psicologia no ensino superior, atua como psicólogo clínico e já atuou no CRAS, CREAS, CASA LAR e SISTEMA PRISIONAL.

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Frederico Alves de Almeida Aragão, psicólogo (CRP 19/2849), formação em teologia, mestre em filosofia, professor de psicologia no ensino superior, atua como psicólogo clínico e já atuou no CRAS, CREAS, CASA LAR e SISTEMA PRISIONAL.

A primeira rede social a funcionar no Brasil foi o extinto Orkut, no ano de 2004. Mais de 20 anos depois, passamos pelo Facebook, Instagram, Tik Tok, Twitter (X) e outras mais que conectam pessoas cotidianamente. É inegável que a geração dos anos 2000 tem influência significativa das redes sociais com funcionalidades vão de notícias sobre política, esporte, religião até saber o que determinado influencer comeu no café da manhã. Há ainda conteúdos educacionais, filosóficos e de fofoca. Algumas redes têm formatos que privilegiam textos e outras a imagem. Em ambos os casos, é comum que os usuários falem sobre si, publiquem as próprias fotos em diversos contextos e, unificando textos e imagens, publiquem fotos com legendas.

Já que as imagens e textos se fizeram tão presentes na vida dos usuários das mencionadas redes sociais, essas mesmas redes souberam formatar a experiência das pessoas para que as postagens fossem fixas (feed) ou temporárias (stories). Também investiram num recurso que melhora (literalmente) a imagem das pessoas: o filtro. De atividades corriqueiras a comunicados oficiais do governo federal, as pessoas entenderam que comunicar bem e investir numa boa assessoria para gerenciamento das redes pode mudar completamente a vida de um “cidadão comum”. Do presidente da república informando a nação sobre nova medida do governo, da criança de 6 anos que posta sobre seus feitos no roblox e da influenciadora ganhando milhões divulgando a chance de seu seguidor ser milionário também, uma coisa muito comum começou a ser percebida como busca e investimento: a (auto) IMAGEM.

Estamos vivendo um momento em que a construção da autoimagem começou a estar vinculada ao que as redes sociais promovem. Tal vinculação pode se tornar algo perigoso já que a maneira como construímos nossa imagem deveria estar associada aos valores e experiências únicas que temos durante nosso desenvolvimento. Aquilo que as redes sociais promovem está pautado no que influencers, marcas, empresas e questões aleatórias à nossa existência estão, intencionalmente ou não, formatando como tendência ou referência. Autoimagem é o reconhecimento de quem somos e sermos o que as redes sociais ditam pode significar que não construímos algo singular, espontâneo ou marcado por nosso contexto familiar, social, econômico e religioso.

A comparação é inerente ao ser humano e a relevância daquilo que é objeto de comparação precisa ser observado por todos. Precisamos cuidar daquilo que nos constrói, nos forma e direciona nossas vidas. O que a psicologia chama de personalidade é um conjunto de características únicas que todos nós temos, é aquilo que diz quem somos, é a nossa identidade. Levando isso em consideração, como pensar em construir uma personalidade e, consequentemente uma imagem que está calcada no que as redes trazem? Não excluo aqui todo o referencial positivo que as mesmas redes podem trazer, mas é tarefa árdua considerar e filtrar todo esse campo de referências para usarmos na construção da nossa personalidade/imagem.

O que cabe a nós é o que sempre coube: pensar sobre o que fazemos, refletir sobre nossas decisões, considerar possibilidades e cuidar daquilo que nos influencia. É um cuidado diário, é ir contra a maré, é respeitar a própria história. Há sempre boas referências, gente em quem podemos nos inspirar, bons exemplos que viralizam, mas esse que escreve aqui percebe que a maré vira mais para o desejo de viralizar, ser aceito, ser famoso do que necessariamente “ser quem se é”. Já que vai construir uma imagem, construa uma que seja inesquecível, uma que não seja esquecida e não se faz isso copiando.