09/01/2019 as 09:49
SaúdeServidores não aceitam remanejamento para outras unidades
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Por Dayvid Oliveira
A Prefeitura de Aracaju (PMA), através de contrato emergencial, vai pagar R$ 2 milhões para uma empresa assumir toda a gerência do Hospital Nestor Piva, Zona Norte da capital. A empresa iniciou a gestão nesta terça-feira, 8. Na unidade, o atendimento ainda não está normalizado. Os pacientes reclamam da demora no atendimento e os servidores públicos demonstram receio quanto à realocação que devem sofrer.
O anúncio da contratação da empresa ocorreu ontem, 7, durante entrevista coletiva promovida pela PMA, através da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A decisão se deu após a evasão médica dos profissionais que atuavam por meio de Recibos de Pagamento Autônomo (RPA), na primeira semana de 2019.
Após a evasão, houve a interdição ética das unidades Zona Norte e Zona Sul pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), considerando a falta de composição da escala nas unidades. Com a contratação da empresa para assumir o Nestor Piva, mais de 180 profissionais de enfermagem que atuavam na unidade devem ser realocados.
No Hospital Nestor Piva a manhã desta terça-feira foi turbulenta. A aposentada Maria do Carmo, de 63 anos, chegou nas primeiras horas da manhã e por volta das 9h ainda não tinha sido atendida. “Vim porque estou com muita dor na cabeça, febre, tontura e não consegui dormir. Esperava ser atendida, mas até agora nada. Essa demora é desumana, só piora a nossa situação”, comentou. Após a espera sem retorno, ela preferiu ir para casa.
Quando a equipe de reportagem do JORNAL DA CIDADE ainda estava na Unidade Zona Norte, uma mulher, com lágrimas nos olhos e se debatendo de dor, foi socorrida ainda na sala de espera. Ela estava no local sozinha, esperando por atendimento há mais de duas horas. O técnico de enfermagem Jardel Santos, que deve ser realocado junto aos demais servidores, aferiu a pressão da mulher e, após algumas tentativas, conseguiu conduzi-la para dentro da unidade.
Outro caso presenciado pela equipe de reportagem do JC foi de um homem que chegou envolto em uma manta grossa, tremendo de frio e gemendo alto. Após passar um tempo sentado apresentando esse comportamento na sala de espera, alguns servidores o colocaram em uma maca e o conduziram para o inteiro do Nestor Piva.
A administração do Nestor Piva não falou com a equipe de reportagem. Segundo informações dos próprios servidores, já haviam técnicos e médicos da empresa contratada pela PMA no local, mas não haviam iniciado o atendimento. Outros pacientes aguardavam para o atendimento.
Em contato com a SMS, para saber sobre a previsão de normalização dos serviços, a assessoria informou que “assim que o Conselho Regional de Medicina avaliar a escala médica, que está completa desde o início da manhã, os atendimentos serão totalmente normalizados”.
Zona Sul
No Hospital Fernando Franco, Zona Sul, não havia movimento de pacientes na manhã desta terça-feira. Isso porque a unidade está sem atendimento médico. A gerente-administrativa Josineide de Oliveira informou que o Hospital Zona Sul está atuando apenas para medicação, curativos e dispondo de um médico, a cada turno, apenas para atender casos graves e de urgência.
Realocação
Ainda no Hospital Nestor Piva, mais de 30 profissionais de enfermagem se amontoavam na sala de espera para protestar contra a decisão da PMA. A indignação deu o tom na fala dos profissionais.
“Atualmente, estão internados cerca de doze pacientes na enfermaria, seis em observação e três na estabilização. Como funcionários de enfermagem, nós mantivemos nossa escala. Em nenhum momento negligenciamos o atendimento e nem deixamos de trabalhar porque os médicos estavam em greve. Então, é de se indignar com a decisão que nos retira do nosso ambiente de trabalho”, destacou a técnica de enfermagem Rita Viana, concursada em 2006.
“Pelo que eles falaram nós não somos mais funcionárias do Nestor Piva. Queremos saber uma explicação do prefeito ou da secretária da Saúde, que até então não foi nos explicado. Por isso, estamos aqui reivindicando nossos direitos. Somos trabalhadores, nós fundamos isso aqui e hoje sermos tratados assim?”, desabafou a técnica de enfermagem Gicélia Ferreira.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Área da Saúde do Estado de Sergipe (Sintasa-SE), Augusto Couto, frisou que o Sindicato irá lutar contra a terceirização da saúde pública. Segundo ele, um ato de protesto está marcado para quinta-feira, 10, na entrada do Nestor Piva, a partir das 7h.
“Queremos conversar com a gestão para entender o motivo dessa decisão. O problema dos médicos RPA não tem nada a ver com a situação dos profissionais de enfermagem. Somos contrários a essa decisão e vamos entrar com os recursos necessários para reverter a situação”, assegurou Augusto Couto.
A SMS ressaltou que já está organizando a escala para remanejamento desses profissionais, sem exoneração de servidores, visto que eles serão realocados para reforçar o quadro do Hospital Fernando Franco. (*Estagiário sob a supervisão da jornalista Karina Mendes).