26/07/2021 as 10:07

CURIOSIDADE

Especialista afirma que signos não devem interferir nas marcações de partos

Levantamento feito pelo JORNAL DA CIDADE, entre os dias 20 e 23 de julho, com 130 pessoas, trouxe à tona o interesse dos sergipanos sobre o tema

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Sol, ascendente, lua, meio do sol, inferno astral, oposto complementar e muitos outros termos correlacionados. Para muitas pessoas, isso tudo não passa de superstição. Algo que não tem a menor relevância ou que possa, de fato, interferir em algo na vida.

Porém, para a plataforma SEMrush, que realiza levantamentos e pesquisas para facilitar o cotidiano de profissionais de diversas áreas e promove análises de vários temas, o assunto é muito mais do que uma simples curiosidade. Isso porque, em 2019, um levantamento feito pela ferramenta trouxe à tona o interesse do brasileiro sobre astrologia.

Segundo esses dados, o tema “horóscopo”, foi pesquisado 27 milhões de vezes – e esteve entre os itens mais buscados nos sites. Mas por que, mesmo em tempos tão modernos, as pessoas ainda se interessam tanto por algo que surgiu há mais de dois mil anos? A resposta está na história da própria humanidade. Os primeiros indícios sobre o horóscopo são datados a partir do Século VII a.C., a partir de pesquisas que mostram que, desde àquela época, as civilizações já se dedicavam à observação do céu.

A revista SuperInteressante, da editora Abril, apontou, em julho de 2018, as populações mais antigas “acreditavam que os astros podiam influenciar a vida humana – especialmente o destino dos recém-nascidos”. Contudo, a versão do horóscopo que conhecemos hoje sofreu várias influências de sociedades milenares, como os babilônios, egípcios e gregos, tendo, portanto, se definido como conhecemos nos dias atuais por volta do Século V a.C. E tem gente que leva isso a sério até hoje. Inclusive, na hora de ter um bebê.

                                                    

Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Esses 12 signos, que podem causar um profundo acolhimento à total repulsa de alguns, compõem o imaginário de boa parte da população. Tanto que, em um levantamento feito pelo JORNAL DA CIDADE, entre os dias 20 e 23 de julho, com 130 pessoas, trouxe à tona o interesse dos sergipanos sobre o tema. De acordo com o nosso questionário, que foi respondido por 75 mulheres e 55 homens, 60,2% dos participantes disseram que costumam ler sobre o horóscopo com frequência. Deste total, 58,6% revelaram que, sim, pensa qual signo o bebê terá ao nascer. Por essa razão, questionamos se escolheriam a data do parto e 35,2% dos participantes disseram que sim – enquanto 51,6% falaram que não e outros 13,3% responderam que “talvez”.

                                                   

Quando questionados sobre o que acham de pessoas que escolhem a data do parto por causa do signo, 38,8% dos entrevistados revelaram concordar com esse tipo de escolha, enquanto 30,2% discordaram e outros 31% revelaram não ter opinião formada sobre o assunto. O assunto é bastante curioso e, por essa razão, também perguntamos se, na opinião dos leitores, essa escolha da data do nascimento, com base no signo, poderia afetar de alguma forma à saúde do bebê, e 49,6% disseram que, sim, afeta; já 34,9% discorda dessa questão e acredita que não interfere em nada. Outros 15,5% dizem não ter opinião formada. Pensando nisso, procuramos a obstetra, Michelle Costa, para debater sobre o assunto e tentar entender o porquê desse fascínio das pessoas pelo signo do bebê a caminho.

Segundo ela, é bastante comum, realmente, uma empolgação dos pais e familiares sobre a data de chegada, justamente por essa razão. “A gente percebe uma certa torcida das pacientes em querer que o bebe nasça em tal signo ou não, principalmente quando a DPP, que é a data provável do parto, está próxima de uma transição de signos, aí fica aquela torcida na família que nasça em um signo ou outro. As pacientes ficam nessa rotina de adiantar ou atrasar o parto”, comenta. No entanto, a especialista alerta que é preciso compreender e seguir às orientações médicas, sobretudo pensando na saúde da criança que está por vir. “Quando a gente engravida, a partir do ultrassom do primeiro trimestre, da última menstruação, a gente calcula a data provável do parto, e essa data provável é quando se faz 40 semanas. Sendo que o bebê passa a ser de termo, que já está teoricamente maduro para nascer, a partir das 37 semanas. O bebê pode nascer entre as 37 e 41 semanas. É aí que mora o perigo, pois, se você adianta o parto, o bebê não tem maturidade para passar por essa ruptura abrupta, em relação à gestação. Por recomendação da OMS, a gente só é liberado para fazer um parto, uma cesárea eletiva, a partir das 39 semanas. De acordo com alguns estudos, bebês que nascem a partir das 39 semanas tinham menos desconforto pós-cesárea, tinham menos riscos de ir para a UTI”, explica.

                                            

A obstetra ressaltou que a cesárea eletiva é quando a pessoa gestante não entra em trabalho de parto e detalhou sobre algo bastante importante, e que deve ser levado em consideração em todos os aspectos: a chamada “fisiologia do parto”. “Quando o bebê está realmente maduro para nascer – pulmão suficiente pronto para respirar; o pulmão, ele libera surfactante, uma substância que tem nos pulmões dos bebes que fazem com que a complacência pulmonar aconteça, ou seja, que os alvéolos consigam encher de ar e, aí, quando o bebê tem essa liberação surfactante, ocorre uma liberação hormonal específica de cortisol na mãe e esse cortisol vai simular a produção de ocitocina (a substancia responsável pelo início do trabalho de parto). Por isso que a gente prega tanto que o ideal de tudo, independente de signo, independente de data provável que a pessoa escolha, que deixe que o bebê manifeste essa maturidade. Que, ao invés de escolher uma data especifica, que aguarde o bebê se manifestar, que ele tenha essa maturidade fetal e que a fisiologia do corpo entenda que aquela é a hora do parto”, reforça.

Com todas essas questões resolvidas, a obstetra orienta que pode se preocupar com todas os temas que envolvem à maternidade. “Aí pode se fazer os mapas astrais do bebê, após o nascimento saudável do bebê, sem adiantar o parto. A gente da saúde tem defendido veemente que, independentemente de data, sejam respeitados os limites de 37 e 41 semanas, que respeitem a hora que o bebê se sente pronto para nascer, independente do parto ser normal ou cesariano”, acrescenta.

Pedidos
No entanto, mesmo com todas essas explicações acima, a obstetra Michelle Costa revela que os pedidos por datas de nascimentos ainda são comuns. “Às vezes, a gente recebe alguns pedidos para adiantar ou segurar o parto para tal data, então assim, se a pessoa resolve fazer uma cesárea eletiva, eu super respeito, mas contanto que se respeite a necessidade de ser acima das 39 semanas.

Já teve casos assim: a paciente faz 39 semanas e quer uma cesárea, e aí poderia ser marcada dia 15, mas ela quer esperar para o dia 20, por causa do signo, ou porque é uma data especial na família, aí não tem problema. A gente explica, se não tiver problema para o bebê ou para mãe, não há problema em adiar um pouco. O que eu não posso é fazer é coisa errada. Tipo, adiantar ou passar do tempo, fazer uma cesárea antes das 39 ou depois das 41 semanas por causa de signo ou data importante”, pontua. “Já vi, sim, relatos de pacientes que modificaram a data do parto por causa do signo, mas nenhuma delas foram comigo, porque eu realmente não permito que isso aconteça. A não ser que haja alguma necessidade obstétrica de adiantar o parto. A gente vê que, às vezes, a pessoa fica cansada, quer que o bebê nasça logo, mas, ainda assim, pelas orientações da saúde não é ideal adiantar o parto por motivos que não sejam de saúde da mãe e do bebê”, finaliza.

|Por John Santana