08/04/2020 as 12:55

Cinema

‘Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu’ é premiado no Festival Cinéma du Réel

A equipe do filme, encabeçada pelo diretor, preparava-se para viajar a Paris para apresentar o longa quando foram surpreendidos com a informação que o festival não realizaria mais as exibições.

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‘Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu’ é premiado no Festival Cinéma du Réel

O filme “Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu”, de Bruno Risas, foi selecionado para o festival Cinéma du Réel, um dos mais tradicionais da França, sendo único representante brasileiro na mostra competitiva internacional. A equipe do filme, encabeçada pelo diretor, preparava-se para viajar a Paris para apresentar o longa quando foram surpreendidos com a informação que o festival não realizaria mais as exibições. O Cinema du Réel foi mais um dos festivais que cancelaram suas projeções devido à pandemia de Covid-19. No entanto, o evento reformulou sua programação, disponibilizando os filmes da competição através de plataformas online e manteve também as deliberações do júri.

No Brasil, Risas e sua equipe viram a pandemia chegar ao país e acompanharam de longe a recepção do filme pelo júri e pelo público francês. Na última semana, comemoraram a notícia de que o longa foi premiado pelo júri oficial como melhor primeiro longa-metragem, recebendo o prêmio Loridan Ives/CNAP, destinado a diretores estreantes com filmes de mais de 50 minutos. A ficção, que será distribuída no Brasil pela Vitrine Filmes, com estreia nacional ainda sem previsão por conta da pandemia.

"Passamos nesse instante por um movimento muito grande no mundo. Ele se manifesta com esse novo vírus que põe em evidência o mal cuidado que temos submetido a vida no planeta há séculos. Aqui no Brasil, para completar, temos um homem ocupando o lugar de líder do Estado que é um genocida descarado, alguém que deseja promover no Brasil o retorno às estruturas sociais que a Europa viveu no Século XVI. É com tristeza que acompanhamos a quarentena mundial que impediu, entre outras centenas de coisas, que pudéssemos todos partilhar as exibições nas salas em Paris. Apesar de tudo, iremos também celebrar. Porque celebrar é um gesto de negação ao que se impõe: uma realidade que não contempla nossas possibilidades de perceber o mundo, de desejar o mundo”, comentou Risas.

Produzido pela Sancho&Punta, o longa é uma ficção que pauta o cotidiano de uma família na qual inúmeros fatores são inquietantes: o pai fica desempregado, os integrantes precisam voltar à velha casa, a mãe é abduzida, e a vida continua como se nada houvesse acontecido.

“Ao longo dos nove anos do processo de Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu, minha mãe frequentemente me perguntava ‘se você pode fazer um filme sobre alguém, por que escolheu fazer sobre a gente, sobre ninguém?’. Nunca consegui responder. Mas talvez tenha a ver com um desejo: esmiuçar o processo de formação de nosso imaginário nesse país inventado, de encarar de frente as contradições e as violências que o formam. Para isso, fazer do cinema um ritual do cotidiano, um trabalho que coloca em questão a própria ideia de trabalho e de como nossa sociedade se organiza. E tentar descobrir como minha intimidade ressoa fraturas coletivas”, disse o diretor, que faz sua estreia em longas-metragens.

A ficção venceu dois importantes prêmios no mundo do cinema, sendo eles melhor projeto Work in Progress, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (2018), dentro da Mostra Futuro do Brasil, e melhor Work in Progress no PuertoLab, do Festival Internacional de Cinema de Cartagena (2019). O longa teve sua estreia mundial no Festival de Turim, na Itália, em novembro de 2019, e sua estreia nacional na última Mostra de Cinema de Tiradentes, dentro da mostra Aurora.