22/02/2023 as 16:38

SAÚDE

Saúde Pública em Itaporanga beira o caos e médicos ameaçam paralisar

População também denuncia dificuldade na marcação de consultas, no agendamento de exames e falta de medicamentos

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Saúde Pública em Itaporanga beira o caos e médicos ameaçam paralisar

Concretizar o direito de todos os cidadãos a terem acesso à Saúde Pública tem sido um desafio em Itaporanga D’Ajuda. Pelo viés de moradores e profissionais que convivem com a realidade do município, a problemática persiste em meio à inoperância da gestão do prefeito Otávio Sobral (PP) e vai além, beirando o caos em praticamente todas as pastas.

A população denuncia que o administrador abandonou por completo o município, desde as eleições, quando se dedicou a eleger o seu filho Marcelo Sobral a deputado estadual. Dos cidadãos que ali vivem, ou melhor, sobrevivem, surgem relatos, principalmente, sobre dificuldades para realizar atendimentos médicos, exames de média e baixa complexidade, e até mesmo para conseguir medicamentos que deveriam ser ofertados pela Farmácia Básica. Do outro lado, a categoria médica também evidencia insatisfação, denunciando o atraso no pagamento dos salários.

De acordo com um médico do município, que preferiu ter sua identidade preservada devido à perseguição iminente na cidade, a prefeitura terceirizou o serviço dos profissionais através de uma cooperativa: a Associação Hospitalar de Sergipe. Essa tratativa, no entanto, é o que tem dificultado o pagamento dos profissionais, que vivem em um verdadeiro “ping pong”, sem receber os vencimentos e vendo a responsabilidade sendo jogada de um lado para o outro. “O nosso salário de novembro não foi pago, o de dezembro não foi pago e o de janeiro não foi pago, mas eles (da prefeitura) falam aí que não têm débito com os funcionários. É muito fácil eu contratar uma empresa e colocar para gerir um trabalho para mim. É uma cooperativa, uma forma que eles arrumam para driblar todos os nossos direitos. E aí eles falam ‘ah, não vou pagar, vou dizer que não devo ninguém e que quem deve é a cooperativa’”, explicou o médico.

Segundo o profissional, a categoria tem inclusive o respaldo do Conselho Regional de Medicina (CRM) para paralisar as atividades no início do próximo mês, neste caso dia 8 de março, caso o atraso no pagamento persista. “A cooperativa fala que a prefeitura deve R$ 3 milhões, mas isso ninguém sabe, a gente vai ter que descobrir através de documentos oficializados por ela. A prefeitura diz que não deve nada e que já pagaram a cooperativa em janeiro com R$ 550 mil e, na sexta-feira passada, com mais R$ 750 mil, que inclusive, era para pagar a gente, mas até agora não foi pago”, completou o médico.

A situação da categoria é tão complicada, que há relato de profissionais em tratamento de saúde devido a casos de depressão e síndrome do pânico. “Eu não consigo nem continuar trabalhando direito, não consigo comer, nem dormir, nem fazer nada. É muito angustiante não ter o nosso salário, que trabalhamos muito para conseguir, foram horas de atendimentos e nada. Essa gestão é inescrupulosa”, ressaltou outra médica, que também não quis se identificar.

UPA
Um dos equipamentos de saúde mais recorrentes quando são mencionadas as falhas em Itaporanga D’Ajuda é a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Diretora Ana Maria Garcez. “Essa UPA não tem médicos, apareceu um agora na semana, mas no final de semana ela fica sem profissionais, sem remédios e a população fica à mercê. Eu já levei uma pessoa lá e ficamos esperando muito tempo, e assim fica difícil, mas a UPA trabalha desse jeito”, afirmou Edivan Fernando, morador do município.

O vereador Whitman Garcez, conhecido como Timinha, comentou que, ainda no ano passado, encaminhou ofícios solicitando esclarecimentos para a diretoria da UPA sobre situações como a falta de medicamentos, o atraso no pagamento do salário dos profissionais, falta de materiais de limpeza e alimentos. “Os ofícios começaram em setembro, a gente cobrando uma resposta, mas nada deles passarem isso pra gente. O atendimento é restrito pela falta de medicamentos, há a falta de pagamento do salário dos médicos, e falta até material de limpeza, coisas como papel higiênico e copo descartável. Na Farmácia Básica, a falta de remédios também é constante, as pessoas reclamam da ausência de remédios controlados, e até mesmo remédios básicos. Infelizmente isso vem há mais de anos, desde quando começou a gestão, há mais de dois anos”, argumentou o vereador.

Nos documentos, foi solicitado ainda pelo parlamentar uma cópia do contrato entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Associação Hospitalar de Saúde, a cooperativa citada pelo médico como responsável por pagar a categoria com o recurso enviado pela gestão. Isso se justifica, de acordo com o vereador Timinha, devido ao fato de que o município dispõe de recursos para arcar com um serviço de saúde de qualidade para a população e que preze pela valorização dos profissionais. “O repasse do governo federal é de R$ 220 mil, e o governo estadual também repassa R$ 150 mil para a saúde do município, mas infelizmente o prefeito vem acabando com a saúde daqui”, completou.

A Prefeitura de Itaporanga D’Ajuda, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, esclareceu que os atendimentos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) já retornaram com suas atividades regulares desde o dia 11, e justifica a falta de alguns medicamentos jogando a “culpa” para as fabricantes que, segundo a gestão municipal, estão tendo dificuldades com o reabastecimento dos fornecedores. Já no que se refere aos pagamentos dos servidores e médicos da unidade, a prefeitura reafirmou que o repasse salarial é feito pela Associação responsável pela administração da UPA e que a dívida que o município tem com a Associação já está em processo de quitação. Por fim, a gestão disse que, durante o período que a UPA esteve funcionando apenas com urgências e emergência, a Clínica de Saúde da Família Umberto Mandarino esteve com seu funcionamento regular, que ocorre até às 19h.