06/02/2023 as 10:59

ENTREVISTA

TB Entrevista André Alcântara

O novo profissional do jornalismo sergipano já colaborou com alguns dos principais veículos de games do Brasil, incluindo UOL Start, The Enemy e NerdBunker

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TB Entrevista André Alcântara

O nosso entrevistado desta semana é André Alcântara, jornalista formado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) há menos de um ano, mas que tem deixado sua marca no Estado, e para além dele. André, de 22 anos, é o realizador do documentário “Um real a hora”, que narra o passado, o presente e o futuro das locadoras e lan houses de games da Grande Aracaju. O novo profissional do jornalismo sergipano já colaborou com alguns dos principais veículos de games do Brasil, incluindo UOL Start, The Enemy e NerdBunker. Além disso, é assessor de imprensa na 7SET Comunicação Estratégica, empresa comandada pela experiente jornalista Katia Santana. Ao lado dela, produz o Casa de Sopapo, podcast (e, em breve, site de notícias) de e sobre política sergipana e brasileira. Confira a conversa completa!

THAÏS BEZERRA - Do que se trata o “Um real a hora”? Como surgiu a ideia?
ANDRÉ ALCÂNTARA - Com foco na Região Metropolitana de Aracaju, o documentário registra alguns dos espaços mais importantes para a cultura de games do Brasil: as locadoras e lan houses de jogos eletrônicos. Foi através delas que muitos brasileiros tiveram acesso a essa mídia, cujo custo de consumo, historicamente, é alto. São, ainda, locais de sociabilidade, em que se observa um complexo de diversos tipos de relações sociais. Apesar da relevância evidente, nunca houve um trabalho jornalístico formal a respeito desse assunto. Então, resolvi tratá-lo no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que originou o filme, disponível gratuitamente no YouTube. Ademais, me é um tema familiar, posto que, na minha cidade de origem, Canindé de São Francisco, frequentei muito locadoras de jogos.

TB - Como foi a recepção ao documentário?
AA - Muito melhor do que eu esperava, para ser sincero. Publiquei no Twitter uma série de postagens resumindo alguns dos principais pontos do “Um real a hora” e da minha pesquisa para o TCC, e bombou. Foram dezenas de milhares de curtidas, compartilhamentos e comentários, incluindo de pessoas de fora do Brasil. Recebi muitos elogios pela iniciativa de documentar alguns desses espaços, bem como mensagens de pessoas saudosas com o passado no qual frequentavam esses locais. Fui notado por muita gente, e fico muito grato por isso. Em abril, apresentarei, como convidado, o documentário no I Congresso Internacional em Música, Mídia e Ludicidade, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi longe.

TB - Onde Sergipe se encaixa no cenário de games brasileiro?
AA - Nosso forte está ligado ao consumo e à relação com jogos e conteúdos de games, como streams, vídeos e memes, e não necessariamente à produção deles, forte vetor de emprego e renda, capaz de oferecer grande tração à economia local. Infelizmente, em especial devido à falta de políticas públicas de incentivo nacionais e estaduais, há escassez explícita de empresas atuantes no setor em Sergipe, o que, por outro lado, revela uma oportunidade de mercado. Games geram a maior receita da indústria do entretenimento, superando, com folga, cinema e música. Sergipe tem profissionais qualificados, e que têm interesse na área, os quais muitas vezes, acabam por trabalhar com empresas de outros Estados e até de outros países. É urgente a adoção de medidas de fomento no âmbito estadual.

TB - O que o Brasil tem de destaque no meio dos jogos eletrônicos?
AA - Nós somos o maior consumidor de games da América Latina, e um dos principais do mundo, reunindo um público apaixonado pela mídia. Mas, o que mais difere o Brasil de outros países é o tipo de relação que temos com jogos. A cultura e a história dos games no Brasil é marcada por modificações de software, clonagens de hardware e pela pirataria, fatores determinantes para o crescimento do setor em solo brasileiro e para a formação de uma massa consumidora tão volumosa. As locadoras de jogos, por exemplo, da forma como conhecemos aqui, é um elemento próprio nosso, que não se encontra nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental. O nosso relacionamento com os games é extremamente complexo, atravessado por inúmeros fatores sociais, econômicos, históricos, culturais e tecnológicos.

TB - Como você avalia a experiência no mercado jornalístico sergipano em contraste ao que viu em sala de aula?
AA - O mundo real é muito diferente do mundo ideal. As aulas dos quatro anos do curso de jornalismo ainda estão frescas na minha mente, e me proveram base sólida para atuar na área, com a devida competência técnica, sensibilidade social e compromisso com a informação de qualidade, mas há de se notar que encontramos uma realidade muito mais dura do que aquela encontrada nos textos teóricos do curso e relatada pelos docentes. Há uma enormidade de problemas, muitos dos quais estruturais, e que não são discutidos ou mencionados nas aulas, local adequado para que se levantem debates e se busquem melhorias para essas questões, que, em sua maioria, não são simples. Independente da instituição, o curso de jornalismo tem o dever de dialogar e considerar a realidade local.

TB - Como jovem, você vê o Casa de Sopapo atraindo pessoas da sua faixa etária?
AA - Com certeza. Embora rejeite em alto grau a política partidária, a juventude está muito engajada com a política, cobrando e reivindicando direitos, além de ser uma grande consumidora de podcasts e site de notícias. Em Sergipe, não é diferente. O Casa de Sopapo quer acolher, também, esse público, apresentando, ainda, a importância da política partidária para os rumos da vida de todos. Para isso, contaremos, no podcast, com um grupo muito plural e diverso de personalidades do espectro político democrático. O objetivo é mostrar as variadas possibilidades de ideias e pensamentos que cabem no campo, estimulando a participação e interação da sociedade com a política, incluindo a juventude.