23/02/2023 as 08:56

ENTREVISTA

TB Entrevista Dra. Débora Leite

A médica Débora Leite, hoje dirige uma das mais importantes instituições filantrópicas de Sergipe, o Hospital e Maternidade Santa Isabel, mantido pela Associação Aracajuana de Beneficência, entidade com 122 história a qual ela é a primeira mulher a presidir

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

A nossa entrevista hoje é com Débora Leite, médica pediatra, neonatologista, mestre e doutora em Ciências da Saúde/UFS, professora do curso de Medicina da UNIT, pós-graduada em Gestão em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas, consultora internacional de aleitamento materno certificada pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE). A médica Débora Leite, hoje dirige uma das mais importantes instituições filantrópicas de Sergipe, o Hospital e Maternidade Santa Isabel, mantido pela Associação Aracajuana de Beneficência, entidade com 122 história a qual ela é a primeira mulher a presidir. Nessa entrevista ela faz um resumo da gestão e de projetos pessoais. Foto Roberto Trindade.

THAÏS BEZERRA – O que significa ser médica para você?
DÉBORA LEITE – Gosto de cuidar de pessoas. Aliviar de alguma forma o sofrimento sempre me pareceu uma tarefa nobre. Desde criança já dizia aos meus pais que seria médica. E a Medicina proporciona a outro ser humano, o cuidado, a cura do corpo, o toque na alma. É mais que prescrever medicamentos, indicar tratamento. É ser presença que transmite acolhimento e empatia.

TB – Por que a Pediatria?
DL – As crianças passam para nós o melhor da humanidade, o que ela tem de mais puro. Elas me enchem de esperança. Cuidar de alguém tão indefeso, como um recém-nascido, é um grande desafio, mas, também, extremamente gratificante.

TB - Como foi o caminho até chegar à presidência da Associação Aracajuana de Beneficência?
DL – Não foi um caminho traçado ou planejado. Estou no Hospital e Maternidade Santa Isabel desde 2003, ou seja, há 20 anos, como uma das primeiras neonatologistas da UTI Neonatal, acompanhando toda a história da unidade. Meu compromisso pelo Santa Isabel me fez aceitar essa função, mesmo sabendo das dificuldades enfrentadas. Houve um somatório de esforços de vários profissionais para que o Hospital mantivesse suas atividades. Acredito que essa união seja o grande segredo para mantermos o Santa com a importância que ele tem para a saúde pública de Sergipe.

TB – Como é dirigir uma instituição que depende quase que, exclusivamente, do SUS?
DL – Digo que a luta é permanente e diária. De um lado temos uma enorme demanda da população por serviços de saúde através do SUS, que é o maior sistema de saúde pública do mundo. Do outro, um grave problema do subfinanciamento da saúde pública, uma discussão antiga e que nunca avançou. Ao mesmo tempo, tenho como objetivo profissional, prestar um serviço de qualidade, independente da forma de acesso do paciente. Então, fazer um serviço respeitando a dignidade do usuário dentro da realidade financeira do SUS, realmente é o nosso maior desafio.

TB – E o que você tem feito para lidar com essa situação e garantir novos serviços?
DL – Inicialmente uma restruturação interna para diminuir as despesas. Criamos um setor de saúde suplementar para convênios e particulares que já está gerando novas receitas para o Hospital. Junto aos parlamentares, desde os vereadores na Câmara de Aracaju, passando pelos deputados estaduais e indo até Brasília, temos buscado conversar com os deputados federais e senadores, viabilizando recursos de emendas para novos investimentos. Entregamos, recentemente, uma nova recepção para os pacientes SUS e, em breve, estaremos instalando o primeiro aparelho de Tomografia Computadorizada, além da revitalização do laboratório de análises clínicas para ampliar os métodos de diagnósticos. Com certeza este ano teremos grandes novidades.

TB – Quais conquistas e projetos relevantes do HMSI que proporcionam novos serviços e qualidade do atendimento?
DL – Desde 2014, conquistamos o título de Hospital Amigo da Criança e Cuidado Amigo da Mulher. Temos parceria com o Hospital Moinho de Ventos, do Rio Grande do Sul, através do PROADI, no qual desenvolvemos um trabalho de telemedicina na UTI Adulto, tendo como objetivo o “point of care”, que é o uso do Ultrassom à beira de leito para tomada de decisão. E também pelo PROADI, participamos do Projeto Saúde em Suas Mãos, que tem por finalidade a melhora na assistência na Unidade de Terapia Intensiva, orientados pelo Hospital Sírio Libanês. Recentemente fomos classificados pelo Ministério da Saúde/Anvisa como hospital de alta conformidade em segurança do paciente. Além disso, o hospital é sede do internato do curso de Medicina da Universidade Tiradentes, desde 2013. E a partir de 2015 tem sua residência própria em Pediatria, Ginecologia-Obstetrícia e Neonatologia, além de ser campo de estágio para diversas pesquisas.

TB – Qual a importância do HMSI na rede pública de saúde de Sergipe?
DL – Somos a entidade filantrópica com grande número de atendimentos ao SUS em Sergipe. Em nossa maternidade nascem, todos os anos, cerca de 40% dos sergipanos. Em 2022 alcançamos resultados que demonstram a importância da nossa instituição à rede pública de saúde. Foram mais de 21,3 mil consultas de urgência obstétrica; 20,8 mil consultas de urgência pediátrica; 9.394 internações obstétricas e 8.746 nascimentos, uma média de um bebê a cada hora em 2022. Destaque também para as mais de 3.100 cirurgias, entre gerais (1.844), ginecológicas (912) e pediátricas (360).

TB – No campo pessoal/profissional, você irá inaugurar em breve a Hanami, Casa de Apoio à Amamentação. Como surgiu essa ideia?
DL - Hanami significa o momento de apreciar a floração das cerejeiras no Japão, um momento breve, mas de extrema força da natureza. A amamentação tem estes mesmos predicados, um breve momento de muito poder e dedicação, embora o tempo oportuno de ajuda às mulheres para que consigam amamentar, ainda é mais curto. Trabalho em um ambulatório dedicado a pacientes em aleitamento materno exclusivo e recebia demandas de outros serviços em casos de maior complexidade. Os anos da Pandemia foram de muito estudo e obtive em 2021 o título de Consultora Internacional em amamentação pelo IBLCE, então resolvi transformar este sonho em realidade e ter um espaço dedicado ao auxílio respeitoso neste processo tão complexo, delicado e de extrema realização para muitas mulheres.