03/05/2025 as 11:33
ALERTAUma a cada três crianças no Brasil tem sobrepeso
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Por Fernanda Spínola COLABORADORA/JC
A obesidade infantil tem se tornado uma das principais preocupações da saúde no Brasil e no mundo. Em Sergipe, dados do Ministério da Saúde mostram que o índice de obesidade alcançou 8,26% dos adolescentes acompanhados pela Atenção Primária. Outros 17,78% apresentaram sobrepeso e 2,21% já estão com obesidade grave. Cada vez mais crianças apresentam excesso de peso desde os primeiros anos de vida, o que pode comprometer não apenas o desenvolvimento físico, mas também o emocional e social.
Atlas Mundial da Obesidade 2024, da Federação Mundial de Obesidade, prevê que, no Brasil, até 50% de crianças e adolescentes estarão obesos ou com sobrepeso em 2035. Diante dessa realidade, a Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) aprovou a Lei nº 7.179/2011, que institui o Dia de Combate à Obesidade Infantil, celebrado no dia 11 de outubro. A data tem como objetivo conscientizar as crianças e os responsáveis sobre os perigos da obesidade, apresentando meios de combater o problema, considerado de saúde pública, mas que pode ser prevenido por meio de uma alimentação saudável e da prática de atividades físicas.
Prevenção
De acordo com a endocrinologista Layla Cordeiro, a obesidade infantil não deve ser avaliada apenas com base no peso, mas sim considerando diversos fatores. “Nós usamos uma ferramenta chamada IMC (Índice de Massa Corporal), que leva em conta o peso e a altura. Mas, no caso das crianças, o IMC é interpretado de forma diferente dos adultos: ele é comparado com gráficos específicos para a idade e o sexo da criança”, explicou.
Segundo a médica, quando o IMC está igual ou acima do percentil 95, é apontado como obesidade infantil. Se estiver acima de 120% desse valor, é considerado obesidade severa. “É importante lembrar que o IMC é só o começo. O diagnóstico completo envolve uma avaliação clínica cuidadosa, histórico familiar, hábitos de vida e a investigação de possíveis doenças associadas. O objetivo nunca é rotular a criança, mas sim entender como está a saúde dela para oferecer o melhor cuidado possível. Se você tiver dúvidas sobre o crescimento e o peso do seu filho, converse com um médico. Quanto mais cedo o acompanha mento começar, melhor para a saúde física e emocional da criança”, enfatizou a especialista.
A obesidade infantil, que pode causar complicações no desenvolvimento dos ossos, músculos e articulações das crianças, pode estar ligada a fatores hormonais e genéticos, especialmente em casos em que a obesidade é mais severa ou começa muito cedo. Cordeiro aponta que existem casos raros de obesidade que estão ligados a mutações em genes específicos, como o gene MC4R, que está envolvido no controle da fome e da saciedade. “Também existem síndromes genéticas, como a síndrome de Prader-Willi, que causam obesidade associada a outras alterações no desenvolvimento. Já em casos mais comuns, a obesidade poligênica (influência de vários genes) pode aumentar o risco de ganho de peso, especialmente quando somada a fatores do ambiente, como alimentação inadequada e pouca atividade física”, explicou.
Ou seja, é uma condição que tem multifatores, podendo envolver genética, hormônios, estilo de vida e até fatores emocionais. Por isso, é fundamental que cada criança seja avaliada de forma completa, individualizada e sem qualquer tipo de julgamento. “Quanto mais cedo o cuidado começa, maiores as chances de prevenir complicações e garantir uma infância mais saudável e feliz. A obesidade infantil é uma condição crônica, ou seja, não se resolve com soluções rápidas ou temporárias. Por isso, o acompanhamento médico contínuo é essencial, tanto para garantir que a criança esteja evoluindo bem, quanto para evitar recaídas e prevenir complicações a longo prazo. Com informação, apoio e acompanhamento, é possível mudar essa história”, enfatizou a endocrinologista.
O psicólogo e terapeuta infantil, Mateus Passos, explica que são diversos os fatores psicológicos que podem estar ligados ao surgimento da obesidade infantil. Entre os mais comuns estão a busca por conforto emocional através da comida, dificuldades de autorregula ção emocional, baixa autoestima, e padrões familiares disfuncionais. “Crianças que lidam com ansieda de ou depressão tendem a apresentar comportamentos alimentares desregulados, como comer em excesso (hiperfagia) ou pular refeições. Problemas familiares, como conflitos, negligência emocional ou separações, podem gerar insegurança e estresse, levando a criança a usar a comida como fonte de conforto e estabilidade”, diz o psicólogo.
Assim como o mental faz diferença, o padrão alimentar adotado nos primeiros anos de vida tem impacto direto na saúde da criança, podendo influenciar até mesmo na fase adulta. Segundo a nutricionista Anne Vitória, o consumo precoce e excessivo de alimentos ultraprocessados — como biscoitos, salgadinhos e refrigerantes — acaba se tornando a base da alimentação de muitas crianças, o que além de comprometer a saúde, afeta a qualidade nutricional da criança.
“O padrão alimentar hoje é pobre em alimentos naturais e ainda tem o uso excessivo de telas, o que faz com que as crianças fiquem mais paradas e se movimentem menos; isso tudo, com certeza, favorece o ganho de peso. O ideal para prevenirmos é caprichar em uma alimentação com comida de verdade: frutas, legumes, cereais integrais e boas fontes de proteína. Assim como é muito importante sempre respeitar os sinais de fome e saciedade da criança, sem usar métodos para forçá-la a comer ou usar a comida como recompensa, fazendo com que ela tenha uma relação negativa com a comida. E se puder, nada de telas na hora das refeições, concentração total no alimento que está sendo consumido”, alertou a nutricionista.